Capítulo IX: o morto

60 11 7
                                    

🧭

Para ele tudo aquilo era muito fácil. Ricos da alta sociedade tem costumes óbvios, pouco criativos e um tanto maçantes.

Park Jimin passou toda sua adolescência e início da vida adulta em uma ilha repleta de prisioneiros de diferentes partes do mundo. Aprendeu costumes estranhos e intrigantes, mas aqueles que via ali, não lhe interessavam em nada.

Ouviu dizer que Joseon já tinha sido uma terra de cultura rica, de orgulho de suas origens até mesmo em suas vestimentas, mas após a guerra sua terra-natal não passava de uma cópia triste da cultura já pálida e insossa dos ingleses.

Serviram em sua mesa uma torta de maçã de aparência dourada e apetitosa, mas um nobre não se empanturra como os relés burgueses.

Bem, essa parte era difícil de fingir. Ele estava com uma fome danada.

— Como é o homem que procura? — Yeonjun perguntou, se curvando um pouco para estar na altura do ouvido de seu contratante. Jimin não se virou ao responder discretamente:

— Dourado como essa maldita torta — murmurou contra o copo de vinho que levava aos lábios. Vinho do porto, uma das poucas coisas boas que os portugueses sabiam fazer.

Jimin tinha feito suas pesquisas, é claro. Conferiu com todas as suas fontes quem diabos era Namjoon Kim Moth e não descobriu nada. Não sobre Namjoon, ninguém sabia de Namjoon nenhum, mas todos conheciam Nathan Moth, filho de um lendário pirata morto. Ele era bom com essas coisas, esse tipo de charada. Não demorou a descobrir que se tratava da mesma pessoa e soube que aquela era uma informação preciosa.

Logo ficou sabendo do desastre: toda a fortuna deixada por Pedro Moth agora não passava de um amontoado de navios queimados e baús de ouro que já estavam devidamente divididos entre os mais poderosos da Marinha. Quase desistiu de tudo aquilo, mas ficou sabendo que restava um navio e que essa embarcação estava à venda por uma pechincha.

Mesmo que fosse um conjunto de madeira podre inútil — ele soube que o navio não se movia, não importava o quanto tentassem — , era algo que tinha pertencido a Pedro Moth. Pelo que tinha ouvido falar, Nathan venerava o pai como um deus, então ele com certeza ia querer tudo o que restou de volta.

Claro que podia não ter mesmo restado nada da fortuna de Moth, mas piratas têm a mania nada galante de enterrar dinheiro. Jimin estava mais do que disposto a pegar em uma pá.

E foi assim que ele chegou ali: vestido em roupas desconfortáveis, sentado em volta de um bando de falsos-ingleses e ingleses de verdade — o que era muito pior — , esperando para que Namjoon surgisse em alguma daquelas festas ridículas.

Estava quase desistindo de ser superior de alguma forma e atacando a bendita torta de maçã, quando o mordomo da mansão tocou seu patético trompete dourado anunciando a chegada de um convidado ilustre. Jimin notou o olhar de pavor do homem, suas mãos tremiam enquanto ele soltava uma nota desafinada no instrumento. Ele soube que seu plano sofreria mudanças quando, com uma voz trêmula, o funcionário anunciou:

— Lhes apresento o temível, inescrupuloso, filho do próprio demônio... — o rapaz olhou para trás como se procurasse por aprovação e após alguns segundos completou: — Nathan Moth!

Seu pai tinha lhe ensinado que bons planos não são planos prudentes, assim como vidas tranquilas não rendem boas histórias. Então ele estava mais uma vez apelando para os deuses dos planos terríveis.

Pensou que fosse mais fácil conseguir acesso para uma festa da alta sociedade, mas encontrou dificuldades. Poderia comprar um convite, mas aquilo tiraria de seu orçamento um dinheiro importante. Viajariam por meses a fio, se tudo desse certo. Viajariam por anos inteiros, caso nem tudo desse certo.

Protagonistas do Caos | TaeNamJinWhere stories live. Discover now