Capítulo XIII: era uma vez a tempestade

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— Você está escorrendo caraminholas pelas orelhas, homem — Hoseok disse, se aproximando de Yoongi, que estava sentado em um canto do deck, afiando a mesma faca a tanto tempo que o aço já ameaçava furar.

— E para os infernos, não vai nunca? — o bastardo replicou, ranzinza.

Já tinham se passado quase quatro anos desde que Hoseok tinha tentado roubar o ouro de um homem descuidado e acabou em um navio pirata em busca de um tesouro que podia não ter valor.

Naquele tempo, ele passou a conhecer profundamente seus companheiros. Todos tinham objetivos muito claros. Namjoon queria honrar a promessa que fez ao pai, Seokjin queria salvar Joseon, Jimin queria reencontrar seu amigo perdido, os cinco garotos — Soobin, Yeonjun, Beomgyu, Taehyun e Huening Kai — queriam garantia de comida e cama para dormir. Mas Yoongi tinha um objetivo falso.

Ele dizia que seu desejo era libertar Joseon, mas no fundo, todos sabiam que sua vontade maior era de se provar valioso para o pai. Mostrar que tinha sido um erro a forma como foi tratado. Se vingar.

Hoseok achava-o muito fácil de ler. O bastardo Yoongi era irritadiço, conhecia uma profusão de palavrões, gostava de ter a mão segurada em noites frias — e as quentes também! — e nunca tinha sido amado do jeito certo.

O ladrão entendia. Sabia bem como era. Às vezes gostava de pensar que seu objetivo naquela viagem era esse. Ser amado corretamente. Mas aquele não parecia o anseio de um pirata, parecia?

Mas a falta de amor nunca o fez procurar vingança. Nunca plantou nele aquela sede que Yoongi carregava nos olhos.

— Já o conheceu? — Yoongi perguntou depois de Hoseok sentar ao seu lado e tomar a lâmina de suas mãos.

— Quem?

— Ora, o príncipe.

— O verdadeiro ou o falso? — Hoseok tombou a cabeça em confusão. Yoongi rolou os olhos, impaciente.

— Esqueça.

— É um menino — o ladrão cozinheiro respondeu depois de um tempo. Yoongi voltou a olhá-lo, relutantemente curioso com o que ele tinha a dizer. — Muito doce e curioso, quase um homem, mas ainda tem olhos de menino. Confia muito no padre-príncipe. Confia muito em qualquer um, na verdade. Não o conheceu no tempo que viveu no castelo? — Hoseok perguntou depois de notar que o outro não estava disposto a prolongar a conversa.

— Não — respondeu distraído. — Eu morava em uma ala separada da mãe dele e quando parti ele também já tinha partido para ser catequizado.

— Não quiseram catequizar você?

— E desperdiçar bíblia e padre com um bastardo? Tenha dó — Yoongi sorriu amargo.

— Eu sei rezar — Hoseok disse, despertando mais uma vez a curiosidade do amigo. — Aprendi uma vez, quando roubei a bolsa de uma inglesa e dentro dela tinha um livrinho de orações. Tudo em inglês.

— Não sabia que conhecia o inglês — o bastardo disse surpreso.

— E não sei, só decorei as palavras, não faço ideia do que diabos eu tô pedido ao Homem — disse, dando de ombros.

Yoongi acabou rindo. Os ombros relaxando enquanto ele engatava um monólogo em que dizia como Hoseok era ridículo, o mais ridículo.

Ele sempre acabava rindo ao lado dele.

Taehyung nunca gostou de chuvas fortes.

Em terra firme sempre precisava encontrar meios de disfarçar seu apavoro. Mas em mar alto, com uma tempestade rugindo contra o Spine e balançando a embarcação com vigor, ele apenas procurou algum canto para se enfiar, não se importando com sua dignidade.

Protagonistas do Caos | TaeNamJinحيث تعيش القصص. اكتشف الآن