Capítulo XIV: era uma vez a cidade do Leão

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Taehyung subiu até o castelo da proa e se apoiou na madeira ainda molhada pela chuva. O vento que batia ali era úmido e embalsamado pelo cheiro de sal e sereno. Respirou fundo tentando acalmar o coração e os pensamentos.

Viu Hoseok andando pelo convés e, quando o cozinheiro o achou, acenou sorrindo. Taehyung sorriu pequeno e retribuiu vendo o mais velho começar a subir para se juntar a ele. Ficou grato por ter companhia.

— Saiu correndo e deixou Jimin com as batatas, ele não sabe descascar direito — Hoseok resmungou ficando ao lado de Taehyung que riu soprado. — Tudo bem?

— Podemos não falar de mim?

— Claro. — Os dois ficaram em silêncio olhando para o mesmo ponto no horizonte onde um arco-íris pálido começava a se formar. — Seu príncipe é mesmo uma graça.

Taehyung riu e concordou. De fato, Jungkook era mesmo uma pessoa cativante. Naquelas semanas em que já estavam a bordo do Spine, o príncipe já tinha ganhado o carinho de todos da tripulação e não eram raras as ocasiões em que ele era quem se encarregava da cantoria nas noites no convés. A verdade é que o padre se sentia muito mais em apuros do que seu pupilo.

— Jimin me contou como se conheceram — Hoseok falou e viu Taehyung suspirar. — Sei que falou que não queria falar sobre si, mas só queria te deixar saber que eu entendo.

— Você já esteve em um lugar como aquele?

Hoseok concordou com um sorriso triste.

— Longa história, mas acho que podemos dizer que sim.

— Sinto muito.

— Já faz muito tempo — deu de ombros deixando seu olhar se perder nas águas que ainda estavam agitadas. — Os pesadelos não passam, mas com o tempo é mais fácil esquecer.

— Acho que tenho falhado nisso — Taehyung confessou respirando fundo. — Hoseok-ssi, eu às vezes acho que uma parte de mim se perdeu.

— Não se perdeu — negou recebendo o olhar do mais novo. — Foi tomada.

Hoseok passou um braço pelo ombro de Taehyung que aceitou aquele abraço lateral, o arco-íris foi tomando cor e forma no horizonte e o mar aquietou-se, diferente dos pensamentos daquele jovem padre.

— Jimin-ssi.

Jungkook bateu com os nós dos dedos na porta de madeira frágil da cabine que Jimin dividia com Yoongi e logo ouviu a voz do mais velho dizendo para que entrasse.

O encontrou deitado de costas em sua cama fina, a camisa de tecido azul puído caindo por seus ombros expondo a pele manchada pelo Sol, em suas mãos um objeto era rodado entre os dedos.

— Sabe tocar isso? — Jimin perguntou levantando o que agora Jungkook identificou como uma flauta doce.

— Na verdade não.

— Roubei essa coisa meses atrás porque achei que fosse algum tipo de arma japonesa, eles fazem cada coisa com bambu... — finalmente olhou para Jungkook que tinha se apoiado contra a parede observando-o. — Mas o capitão me disse que se faz música com isso.

— Isso — Jungkook concordou avaliando melhor o objeto. — É uma flauta, Tae-hyung toca muito bem.

— Mesmo? — Jimin perguntou surpreso e olhou para o objeto em suas mãos. — Que estranho você deixar de conhecer quem antes conhecia tão bem — ele pareceu se perder por um momento em suas próprias memórias antes de se voltar novamente para Jungkook. — Mas o que o trouxe até aqui, Alteza?

Protagonistas do Caos | TaeNamJinWhere stories live. Discover now