Capítulo 19

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Lisa acordou com o inconfundível barulho do alarme de seu celular, programado para as oito e meia da manhã, como de costume, apesar de naquela noite ela ter dormido bem mais tarde do que na maioria delas, o que o tornava bem mais incômodo.

Desligou-o rapidamente, batendo logo os olhos no reluzente objeto que há alguns dias enfeitava sua cabeceira, e ligando o mesmo, para ouvir um som mais agradável, enquanto utilizasse os próximos cinco minutos para alongar algumas partes do corpo antes de se levantar, cumprindo o ritual de todas as manhãs.

Enquanto fazia os suaves movimentos de sempre, observava a caixinha de música: uma pequenina Torre Eiffel esculpida em ouro branco com minúsculas pedrinhas de brilhante girava dentro de uma redoma de cristal, tocando "As time goes by" em violino. Ela tinha chegado alguns dias depois de Lisa ter retornado de Paris, da viagem mais estranha de todas, na qual ela tinha vivido um dos momentos mais lindos de sua vida e, ao mesmo tempo, alguns dos mais desconfortáveis.

O presente, sem qualquer cartão ou identificação, chegara em uma caixa que dizia "extremamente frágil" e que trazia também a garantia com a descrição do produto, que era exatamente a razão para Lisa ter certeza de que se tratava de uma joia caríssima, e não de uma simples caixa de música.

Ela teria achado uma ostentação, um grande exibicionismo, um homem mandar algo tão valioso para uma mulher com quem sequer tinha um relacionamento, se não se tratasse de algo tão pessoal, tão detalhadamente preparado para ser a resposta perfeita ao simples bilhete que ela havia lhe deixado.

A Torre não somente era o símbolo maior da Cidade Luz, como estivera à vista deles durante todo o jantar dos dois e enquanto eles se amavam no terraço da mais perfeita suíte em que ela já tinha pisado. Os violinos tinham sido a trilha sonora da noite e "As Time Goes By" era a música do filme Casablanca, de onde ela tinha tirado a frase que escrevera no recado.

O extravagante presente era a maneira que ele tinha encontrado para dizer que concordava que a noite tinha sido perfeita e que eles sempre, sempre mesmo, teriam Paris e aquela linda lembrança.

Olhar para aquele presente belíssimo e ouvir aquela canção romântica tinham efeitos diferentes nela, dependendo do dia. Havia momentos em que tinha vontade de chorar de saudade e existiam outros em que a lembrança aquecia seu coração, apesar de tudo. Naquela manhã, no entanto, o que Lisa sentiu foi uma enorme vontade de se levantar de uma vez e encarar os compromissos do dia.

Desde que retornara da França, depois de um domingo inteiro se escondendo na van da emissora de TV, para evitar encarar Jungkook, e de ter dito a Namjoon que encontraria alguns amigos para jantar, só para pegar um voo comercial e não voltar com ele no jatinho alugado pela empresa, Lisa estava mergulhada no trabalho como nunca.

As obrigações ajudavam a esquecer dos problemas, e era disso que ela precisava, mesmo que isso tornasse totalmente incoerente o fato de ela ter colocado a pequena réplica da Torre bem ao lado de sua cama.

— Eu devo gostar de sofrer. — pensou alto, rindo de si mesma, ao constatar o paradoxo de suas atitudes. Levantou-se, quando a música chegava ao fim, e entrou no banheiro, para continuar com o ritual de preparação para o dia de trabalho.

Pouco mais de uma hora depois, entrou no escritório, cumprimentando algumas pessoas, como vinha fazendo nos últimos tempos, para alegria de alguns de seus subordinados e total desconfiança de outros, até chegar a Hoseok, que a esperava segurando a porta com uma das mãos e portando seu café gelado na outra, como de costume.

Pegou o café e lhe entregou a bolsa, para não perder o hábito, mas sorriu amplamente, como jamais faria semanas antes, e recebeu um sorriso largo e cúmplice de volta.

A Chave Para o Coração - LiskookWhere stories live. Discover now