Capítulo cinco

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Lódz

Lódz era muito grande  e não era um campo de concentração  como me falaram ,  era um gueto onde viviam judeus, ciganos e quem mais eles queriam  alojar .
O nosso acampamento era pequeno, por sermos considerados raças insignificantes e nocivas aos alemães, nossa perseguição  era velha, eles nos odiavam.

Conforme os dias iam passando eu ia sabendo das coisas que aconteciam pelos demais, uma estória  ali outra aqui, todas eletrizantes para nossas almas.

O garoto que todos diziam que era meu filho estava comigo o tempo todo.

Ele não falava , talvez por choque ou talvez tivesse nascido assim. Eu não  sabia o seu nome , mas como todos se dirigiam a mim como se fosse a mãe  dele eu assim permiti e lhe dei um nome
de Otto , por ser mais fácil de pronunciar e porque sempre gostei daquele nome.

Otto entendia tudo , era um garoto esperto e pela experiência das pessoas que estavam convivendo comigo agora ele deveria ter uns sete anos.

Nós  vivíamos colocando longe as crianças dos olhos dos guardas , elas eram escondidas.

Havíamos vistos coisas horrendas vinda do gueto de Lódz.

Nossas vidas se transformara em só  trabalho .

A comida era escassa , as condições humanas eram desumanas.

Havia uma refeição  , o resto conseguíamos trocando nossos objetos que conseguimos trazer e esconder. Eu como nada trouxe vivia a esperar que me dessem alguma batata perdida, trocada ou roubada pelos mais espertos.

Eu dividia com Otto que as vezes ganhava uma também.

O meu amor por aquele garoto crescia e era mútuo .

Ele era meu filho e eu era a mãe  dele.

Infelizmente  nada sabia dele por que ele não conseguia falar , não sabia se seus pais estavam vivos ou mortos , de qualquer forma era muito triste . Mesmo tentando, eu não conseguia , ele estava em choque e eu não  insistia , por ser doloroso para ele.

Eu também  tinha perdido os meus  pais e irmã de maneira cruel e nunca, jamais eu  esqueceria deles e da minha dor.

A vida era traumatizante em Lódz.

Insuportável. Muita gente vivia ali e chegava mais e mais prisioneiros.

Vivíamos famintos e fracos.

De vez em quando Otto aparecia com um pedaço de pão velho e mofado a me oferecer .

Eu perguntava:

- Onde conseguiu isto?

Ele nada dizia e eu concluira  que havia roubado .

Tomava da sua mão  e dizia: - Cuidado , se te pegarem vc pode morrer entendeu e bagunçava  com a minha mão  seu ralo cabelo num carinho.

Otto assentia  e me abraçava.
Eu comia .Nunca um pão  tinha um sabor tão  delicioso.

Um fato que nos abalou terrivelmente embora quiséssemos a todo custo nos entreter e acreditar que éramos felizes por estarmos vivos e estimularmos  a esperança era  que iríamos sair daquele horror com vida ,  mas tal ocorrido nos esmorecíamos.

Ada era nossa companheira e vivia com os outros em uma casa vizinha e estava grávida . Só  nós  sabíamos, mas chega uma hora que é  inevitável. Ela pretendia ter a criança às  escondidas. Pura ilusão.

Não  tinha como esconder de mais ninguém. 
Ela já  chegou assim ,  grávida; mas numa manhã, as guardas souberam ao fazer a vistoria de sempre em nosso alojamento.

Se deparou com Ada e minuciosamente ela foi analisada, espancada , apalpada e levada.

A Tensão e o medo eram constantes .

A morte era a nossa maior perseguição .

Horas mais tarde depois de levarem Ada , soubemos por informantes de seu triste fim.

Aplicaram uma injeção  em seu coração.

Os que tiveram força  para chorar , choraram , eu me abracei a Otto , sem lágrimas, não  conseguia orar muito menos chorar.Minha alma estava seca.

Ela era uma boa moça  que tinha visto o marido ser levado para outro gueto ou campo de concentração não sabemos ao certo . Nunca soubemos .

Agora tudo tinha acabado.
Todos estavam mortificados .

Ela teria o bebê daqui a um mês.

O cheiro da esperança  de sair daquele lugar vivos se esvaiu e temíamos pelo que pudesse vir e sempre eu me perguntava em minha mente o porquê de toda aquela nuvem horrendasobre nós .

AMOR EM TEMPOS DE GUERRA Where stories live. Discover now