Capítulo dezenove

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Das pessoas que iam conosco no vagão, restaram se muito trinta porque o resto estavam mortos.

Pessoas , nós  ciganos , tivemos nossas vidas tiradas sem motivo algum , apenas o preconceito que habitava dentro deles.

Renate disse- me que para passar o tempo entre um cochilo e outro havia contado  que antes éramos  uns cinquenta e que agora até  ficou mais folgado o espaço.
Pobres crianças, pensei , pobres de nós . Todos nós.

O frio da viagem havia aumentado devido a um número de pessoas que nos acompanhavam.

O chão  molhado fedia .
A minha urina .A urina de todos ali , não  dava para deitar para dormir sem nos molhar os trapos que usávamos.

Exaustos esperávamos  pelo pior.

Em determinado momento do trajeto Renne começou  a tossir e eu me alarme ; nas condições  em que estávamos  qualquer coisa era morrer .

A morte vivia nos rondando.

Enfim, depois de quase três dias viajando, sem falar na parada fatal do incidente em que vivemos há  pouco o vagão  parou.

Novamente fomos retirados a chicotadas , um gelo incessante, muitos guardas e latidos dos cães.

Nossos olhos moribundos , assustados com o desconhecido naquela parada, vislumbramos o local que possivelmente iríamos morrer.

Logo na frente, uma placa enorme estendida que dizia que o trabalho liberta .

Gritos de  guardas  falando:
-  homens à  esquerda e mulheres e crianças à  direita , os deficientes eram levados  após  alguns terem sido arrancados as suas pernas feitas com material de madeira.

Só  depois soube o seu destino.
Muitos foram fuzilados e levados para a Câmara  de gás  .

Por sorte e bravata minha eu e as crianças  conseguimos permanecer juntas , porque a ala das crianças  estava cheia .

- Meus filhos falei.

Os olhos frios e azuis  dos guardas da ss  que me inquiriu tornaram sombrios de um veneno indescritível a meus olhos.

Preencheram nossas fichas de identificação  e nela constava a letra z que significava zigeuner - ciganos.

Meu braço  e o dos gêmeos  foram tatuados com agulha , estas bordaram nossos  braços cada um como os demais.

O meu número  z- 36698 e Renne e Renate  também  z 2133 e z 2134.

Tivemos febre por um mês  e parecia que não iríamos cicatrizar , mas tudo aquilo era normal para todos.

A tosse de Renne, foi embora porque vivíamos o horror da dor em nossos braços.
Era assombrador.

AMOR EM TEMPOS DE GUERRA Where stories live. Discover now