AMOR EM TEMPOS DE GUERRA

Capítulo trinta

Levantei- me da cama ainda sem saber ao certo o que estava se passando comigo .

O meu primeiro cliente havia  me dispensado com apenas um beijo.

Aquele beijo não  foi indiferente a mim , eu havia gostado , mas estava sem entender .

Eu pensei que somente atenderia a prisioneiros, afinal eu era uma cigana , um soldado alemão  não  deveria estar naquele quarto , nem sequer deveria ter me tocado, ter me beijado.

Confesso que fiquei confusa porque segundo Chaya era comum em nossa atividade atender no mínimo  sete homens por dia .

Deixei o quarto e passei por Betel que me olhou enraivada.

Se Deus existia , aquela mulher não  parecia ser filha de Deus não.

A maioria das mulheres que se recusam a trabalhar apanhavam sem dó  nem piedade ou iam parar na Câmara  de gás.

Me dispensaram? O que estava ocorrendo?

Fui informada para retornar amanhã  na mesma hora.

Batel era muito grossa , e bastante feia.

Saí  do prostíbulo  rumo a minha casa, e quando lá  cheguei tive a triste notícia  da morte de um dos nossos ,
Seu nome era lilliput número 2235 e ele era um bom amigo , um anão  que vinha lutando pela sua sobrevivência.

Lilliput foi levado para a sala das experiências  , e os médicos  auxiliares do anjo da morte fizeram diversas aberrações  com o pobre , torturaram - o sem escrúpulos; soube que foi extraída  de sua coluna vertebral um fluido, seu cérebro  foi destruído  com substâncias que ninguém soube explicar e por fim foi levado ao crematório.

Era um bom  homem , trabalhava no Teatro, mas nem as suas palavras engraçadas  foram capazes de prolongar a sua vida.

Eu chorei por ele e por todos , pois quando saí  do antigo alojamento ele me abraçou  fortemente e eu retribui porque ele queria me confortar  ao falar:

- Zoka,  ( era assim que ele me chamava) , você  é  capaz , lute por viver.

Assenti e tornei a me abaixar para  abraça- lo e fui com coragem.

E agora soube que ele tinha morrido.

Comi a minha comida e fui deitar sem comentar com Chaya como foi o primeiro dia na ala 24.

Me sentia fraca  até  para falar de  tão  sentida que fiquei ao saber de  lilliput .
Meu amigo artista , tão  esperançoso  se foi e nada pudemos fazer.

Era o horror da guerra.