Capítulo vinte

25 2 0
                                    

No gueto de Lódz  nós  não  tínhamos este procedimento. Tudo era um pouco mais novo e horrendo .

Eu era agora conhecida pelo número, uma das atrocidades , mas nem de longe a pior pela qual tínhamos  que passar.

Eu era apta ao trabalho bem como as crianças, tínhamos aspectos saudáveis, apesar de nossas aparências  cadavéricas.

Quando fomos ao banho
recebíamos um sabonete escrito em alemão , designado aos judeus , o que também  recebíamos   para nós lavar.

Fomos ao banho todos nus , como no gueto.

A cabeça  também  era raspada , e fomos para o campo destinado aos ciganos e após  recebermos o que eles diziam serem roupas ,  o que era em verdade trapos velhos e remendados disfarçados  de fardas.

A que me cabia estava super folgada e a das crianças  também.

Ao chegarmos já  dentro do acampamento seguimos para nossos beliches.

Eu tinha frio e olhava tudo ao meu redor.

Alguns dos ciganos me respondeu quando perguntei de onde vinha o cheiro que estava pairando no ar :

- É  do crematório  que fica lá.

Meu coração  acelerou fundo.

Vi então pelo buraco o fogo que ia alto tornando o céu  cinza.

- É  o fogo das chaminés, por isto este cheiro de carne queimada no ar. Muitos de nós  estamos lá, os mancos e os que sofrem de algum tipo de doença , disse- me o cigano de número 22421,  pois eu não  sabia seu nome , só  o braço  tatuado contendo o número.

Não  consegui conter as minhas lágrimas.

22521 prosseguiu :

- Atrás  do arame farpado que existe, estão  construindo um campo bem maior. É para a gente morrer.

Por enquanto estávamos  ali e olhei o cigano que me falava com doentia calma.

Eu era uma cigana roma e era tão odiada quanto os judeus , a diferença era que éramos  considerados piores que eles.

Estávamos  presos ali por motivos de preconceito racial , assim como tantos outros.

- Não  vou aceitar que me rotulem de número. Meu nome é  BARBEL falei raivosa. 

O cigano z- 22421, me fitou com os olhos mais estranhos que tinha visto até  ali e falou:

- Vai jogar fora alguma chance de viver mais um pouco? É  louca.

Abaixei a cabeça e levantei com os olhos marejados ao  pronunciar:

- Não  temos saída, temos que lutar de alguma forma.

O z- 22421 se afastou de mim como se eu fosse uma ameaça  rápida  à  vida que ele tentava ter.

Meu rosto foi coberto por minhas mãos  e eu chorei, enquanto Renne e Renate me encaravam com a expressão  sobressaltada e não  menos melancólica.  

AMOR EM TEMPOS DE GUERRA Where stories live. Discover now