Cap. XII _ O amanhecer

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Acho que acabei pegando no sono, já que só retomei consciência ao despertar com o canto dos pássaros.

Apesar do desconforto físico, havia algo de aconchegante em acalentar Jonas em meus braços. A lona que nos cobria nos protegeu do frio, ao passo que reteve o calor de nossos corpos.

Formou-se ao nosso redor um ambiente confortavelmente apertado e escuro. Úmido e abafado como um útero.

A pele de Jonas queimava como brasa e seu corpo parecia desmanchar em suor acima de mim. Ao meu pé do ouvido, meu primo suspirava palavras desconexas, como se delirasse.

"Ei Jonas! Acho que tá amanhecendo". Só então percebi que meu primo estava ardendo em febre. "Jonas!! Acorda! Você tá bem? A gente tem que te levar no hospital! Você tá febril".

"Eu não posso ir pra hospital nenhum, Davi! Senão os caras vão me encontrar", sua voz ainda estava cansada.

"A gente tem que limpar essa sua ferida de algum jeito", afirmei enquanto me movia abaixo de seu pesado corpo. Ao tirar o tecido que nos cobria, senti minhas pupilas dilatando no encontro com a luz. "Vamo lá embaixo pegar uma gaze, um esparadrapo e alguma coisa pra limpar isso aí"

Do lado de fora da lona, o dia já amanhecia.

"Você tá louco?? E se eles ainda estiverem lá embaixo me procurando?", sob os primeiros raios solares da manhã, pude finalmente perceber o estado deplorável que meu primo se encontrava.

Estava abatido, enfraquecido, debilitado. Em nada lembrava o jovem altivo e imponente que havia crescido comigo.

Sua tez era pálida e os sulcos do seu rosto estavam visivelmente mais protuberantes. Parecia ter envelhecido décadas naquela noite.

Outra vez me lembrei do conselho que meu tio havia me passado anos atrás, "ninguém sente pena de gente fraca".

De fato, não senti pena mas sim raiva de Jonas. Raiva por percebê-lo tão vulnerável. Raiva por notar que o medo e o cansaço pareciam, pela primeira vez na vida, ter dominado seu espírito. Horrorizei-me ao reconhecê-lo naquela figura tão apática e anêmica.

Temi que ele tomasse o meu lugar de vítima. Era, no mínimo, perturbador vê-lo tão indefeso, assumindo para si a mesma posição que eu havia me acostumado a assumir.

Ansiei como nunca que ele voltasse a ser o velho Jonas agressivo e inconsequente que eu estava familiarizado. Que ele tomasse as rédeas da situação e me permitisse ser um mero espectador passivo de suas ações.

"Tá muito silencioso agora. Seja lá quem esteja te caçando, não deve estar mais por perto", tentei tranquilizá-lo, embora nem eu estivesse confiante nas minhas palavras.

Suas vestes estavam embebidas do plasma vermelho que jorrara de seu ferimento.

Mesmo eu tinha a pele manchada por uma camada de seu sangue seco. Um rastro de seiva escarlate que se estendia como tinta pelo meu tronco até minhas coxas. Examinei meu corpo marcado por seu fluido corporal e só então me dei conta de que ainda estava desnudo.

Busquei disfarçar minhas intimidades - que agora estavam ainda mais visíveis sob a luz da alvorada. Percebi que meu pau também estava manchado com o sangue vermelho vivo de meu primo.

"Mesmo assim! Eu não vou pagar pra ver!" , elevou o tom, embora ainda soasse como uma criança mimada - ou como um velho ranzinza.

"Você não pode ficar aqui pra sempre, Jonas". Tentei insistir para que ele descesse. Segurei-o pela mão, e me ofereci para que fôssemos juntos.

Esperei que seu aperto de mão fosse tão anêmico quanto sua aparência, mas ele me apertou com calor e firmeza. Percebi que era eu quem estava tremendo, não ele.

Os Homens da Casa (GAY)Where stories live. Discover now