Cap. XXI _ O enterro (Parte2)

1.6K 116 75
                                    

Em um dado momento, Jonas me chama para tomar algo numa padaria próxima dali.

Nao sei porque aceitei seu convite. Estou tão cansado que, quando dou por mim, me encontro sentado à mesa da padaria com meu primo me perguntando qualquer coisa.

"Ow, Davi! Você tá me ouvindo?"

"Desculpa, tava distraído... O que você perguntou mesmo?"

"Deixa pra lá, o que você tava pensando?"

"Você deseja mesmo saber?", ele acenou com a cabeça em afirmativa. Tomei fôlego e decidi expressar todos os sentimentos que estavam dentro de mim. "Que se não fosse por você, eu ainda estaria morando com o meu tio Ivan e poderia ter convivido mais com ele. Se não fosse aquela maldita visita que eu fiz no presídio, tudo seria diferente. Por sua culpa eu tive que sair de casa..."

"Minha culpa? Eu nunca te obriguei a nada!! Você foi atrás de mim na cadeia sabendo o que eu queria fazer. Além disso, você parecia ter gostado bastante do que aconteceu entre nós", o tom de voz dele se altera aos poucos.

Acho por bem encerrar o assunto antes que outras pessoas ouçam nossa conversa.

"Está tudo bem, Jonas... Deixa quieto...", estou disposto a terminar meu café em silêncio. Tomo um generoso gole, sem me dar conta de que o líquido amargo está quente o bastante para queimar meu céu-da-boca.

"Desculpa, não quis gritar contigo..." ele parece genuinamente arrependido, mas eu continuo encarando meu café sem falar nada.

Jonas começa a falar de outras coisas, na tentativa de amenizar o clima. "Ei... Sabe, senti sua falta esses anos", percebo certa timidez em sua fala, algo incomum para ele.

É evidente que ele esta envergonhado por admitir isso.

"E o que você andou fazendo esse tempo todo?" perguntei, quase com pena por estar desdenhando da sua tentativa de ser simpático.

"Bem... Eu saí da cadeia, voltei a estudar, comecei a namorar, hoje eu trabalho como salva-vidas e... E eu vou ser pai, sabia?", não sei como reagir àquela novidade, não conseguia imagina-lo tendo um filho pra criar. "Estou pensando em colocar o nome do meu pai no guri".

"Parabéns pelo seu filho", tentei parecer feliz por ele, mas não consegui demonstrar entusiasmo com a novidade.

Quantas coisas mudaram desde que eu fui embora, quantas coisas eu estava perdendo? Primeiro a morte do meu tio e agora mais essa? Volto a tomar meu café amargo em silêncio, meio cabisbaixo.

"Eu jamais te imaginei trabalhando como salva-vidas", confesso.

Na verdade, eu só quero mudar o rumo da conversa para qualquer outro tópico que não envolva sua paternidade.

"Como não? Lembra quando a gente era criança e eu te salvei de uma afogamento na praia?", perguntou, me deixando sem reação.

Eu me recordo de ter sido salvo por uma mão negra no episódio do meu afogamento, mas sempre deduzi que tinha sido Ivan quem tinha me resgatado do fundo do mar.

Inclusive, durante anos eu idolatrei meu tio imaginando que ele tinha me salvado aquele dia. Mas agora Jonas me oferecia outra narrativa para aquele episódio.

Será que Jonas era o verdadeiro herói que há tantos anos havia salvado minha vida?

"Nossa, eu nunca soube que tinha sido você que me salvou naquele dia. Sempre pensei que tinha sido o tio Ivan", confesso, curioso para ouvir mais.

"Ah, você era muito novo, normal que não se lembre", Jonas expõe um sorriso orgulho, porém tímido. "Mas de qualquer forma, eu nunca esqueci daquela sensação de estar salvando a vida de alguém. Foi por isso que me tornei salva-vidas."

Os Homens da Casa (GAY)Kde žijí příběhy. Začni objevovat