Cap. XIV_ O flagra

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"Saiba que pode contar comigo, não precisa enfrentar tudo sozinho", disse ao meu tio, quase implorando para que ele desabafasse seus sentimentos.

Eu sentia que o desaparecimento de seu filho havia afetado Ivan profundamente, mesmo que ele evitasse falar sobre o assunto.

Semanas se passaram desde que uma chuva de tiros havia deixado marcas nos muros e nas vidas das pessoas que habitavam nossa casa. Mas Ivan ainda mantinha sua postura reservada.

Expressava seus sentimentos em poucas palavras, apesar de estar visivelmente mais carinhoso comigo. Parecia querer cuidar de mim como ninguém jamais havia feito antes.

Era especialmente afetuoso quando estávamos sozinhos, mas aos poucos começou a demonstrar carinho e afagos mesmo em público, como se a linha entre o secreto e o explícito estivesse se desvanecendo gradualmente.

Ele até mesmo adiou uma viagem de caminhão que tinha programado para poder ficar por perto enquanto eu ainda estava me recuperando dos pontos. Mal saia para botecos e passava a maior parte do tempo em casa, na tentativa de preencher o vazio deixado pela presença de Jonas.

Era inevitável não imaginá-lo como um pássaro enjaulado, um animal silvestre e arisco que amava sua liberdade e independência, mas que se enclausurou em um ninho distante para proteger sua prole após um ataque. Ivan sentia falta de suas viagens e noites de farra, embora ele não admitisse nem para si mesmo.

Mesmo eu tinha dificuldade em me acostumar com a ausência de Jonas. O tempo e a distância se esforçavam em dissipar o ódio que eu sentia pelo meu primo.

Em todo lugar que se olhava, havia um pedaço dele deixado para traz - suas roupas jogadas em cima da cama desfeita, sua escova de dentes com cerdas torcidas, suas meias e cuecas sujas espalhadas pelo quarto... Tudo parecia sugerir que ele poderia voltar a qualquer momento, ocupando outra vez a casa com seu sorriso largo e seu jeito travesso.

Doía admitir, mas eu sentia falta daquele peste. Era angustiante encarar sua cama vazia todas as noites, mesmo que eu soubesse que a vida era muito mais fácil sem ele por perto.

Eu ansiava pelo reencontro depois da noite que passamos juntos sob a lona, mas temia que ele me culpasse por ter sido descoberto na laje.

Ivan tentava disfarçar, mas eu suspeitava que ele sentia o peso de ser o único "homem da casa". Querendo ou não, Jonas era responsável por manter a ordem na casa quando meu tio estava viajando a trabalho ou bebendo no bar

"Está tudo bem, querido. Não se preocupe comigo", respondeu Ivan enquanto eu espalhava uma generosa camada de protetor solar em sua pele escaldante. Era um dos dias mais quentes e ensolarados do ano, e ele finalmente havia decidido consertar o muro dos fundos da casa que havia sido destruído por um dos tiros disparados em direção ao seu filho.

Minha prima Geisa se bronzeava em outro canto do quintal, enquanto suas irmãs caçulas brincavam a alguns metros de mim e de Ivan. Precisei ficar na ponta dos pés para alcançar as costas de meu tio.

Espalhei o creme em sua pele e me pus a massageá-lo lentamente. Seus músculos estavam tensos e cheios de nós.

Enquanto eu tocava seu corpo, a tensão entre nós parecia crescer tão intensamente que eu tinha medo de fazer algo que pudesse parecer estranho para as meninas ao nosso redor.

Tentava tocá-lo de maneira quase sutil, aproveitando para sentir o formato de seus ombros, percebendo o desenho de cada músculo e a textura de sua pele deslizando sob minhas mãos delicadas. Desci minhas mãos pelo seu dorso musculoso, espalhando o creme uniformemente.

Às vezes, eu tinha a sensação de que estava demorando mais do que o necessário e temia que eu estivesse me tornando mais displicente em disfarçar nossos toques.

Os Homens da Casa (GAY)Where stories live. Discover now