Cap. XXIII _ O casamento (parte 1)

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"Sim, eu aceito", deve ser a décima vez que ensaio a fala de frente para o espelho. Estou há alguns minutos treinando para o momento que aceitarei Laura como minha legítima esposa.

Estou dentro de um dos cômodos da chácara que alugamos para fazer nossa cerimônia de casamento. Laura, minha noiva, está no quarto ao lado, provavelmente descansando ou sendo maquiada.

Vez ou outra alguém vem conferir se eu preciso de alguma ajuda para me arrumar, mas ainda faltam umas boas horas até o começo do evento. Prefiro passar meus últimos momentos de solteiro em paz, ensaiando meus votos matrimoniais.

"Já disse que quero ficar sozinho", informo ao ouvir alguém batendo à porta mais uma vez. Confesso que estou um pouco irritado; nada além do normal para alguém que está prestes a se casar.

A maçaneta gira, revelando a identidade de quem me importuna. Para minha surpresa é Geisa quem abre a porta.

"Oi irmão, tudo bem?", ainda é estranho ouvi-la me chamando assim. Tínhamos crescido como primos, mas desde o velório de Ivan, eu revelei a todos o segredo descrito na carta que ele havia deixado para mim.

Desde então eu me reaproximei daquelas que agora eu reconhecia como irmãs. Depois de anos distante desse núcleo familiar, agora eles sentariam no primeiro banco para assistir o meu casamento.

"Tô bem, só um pouco ansioso", informo.

"Não fica não, vai ser tudo lindo. Eu trouxe alguém aqui pra te ver", sua fala é carinhosa, como de costume. Ela escancara a porta, expondo outra pessoa atrás dela.

Jonas surge vestido com terno bem ajustado, como se tivesse sido convidado para a festa.

Acontece que eu não o vejo desde o dia do enterro de Ivan, nosso pai.

"Jonas..." murmuro seu nome, minha voz carregada de surpresa e tensão. Seus olhos encontram os meus, e por um breve momento, o mundo ao nosso redor parece desaparecer.

A antiga mágoa e ressentimento ainda ecoam dentro de mim, misturados com a inegável atração que sempre senti por ele.

Geisa rompe o silêncio desconfortável, tentando amenizar a situação. "Pensei que seria bom para vocês se encontrarem novamente. Afinal, agora vocês sabem a verdade, são irmãos."

As palavras dela ecoam em meus ouvidos, reafirmando a revelação chocante que mudou completamente a dinâmica da nossa relação. É difícil processar que o menino que me atormentava com bullying na infância - e que o homem para qual me entreguei na adolescência - era, na verdade, meu irmão.

Jonas mantém o olhar fixo em mim, sua expressão séria e carregada de sentimentos reprimidos. Sinto a tensão no ar enquanto o passado tumultuado se mistura ao presente incerto. As palavras não são necessárias neste momento; as emoções falam por si mesmas.

Olho para Geisa, que não tem conhecimento do nosso passado conturbado. Seus olhos encontram os meus, percebendo a intensidade do momento. Há uma tristeza sutil em seu semblante, mas também um desejo silencioso de que possamos encontrar uma forma de reconciliação.

Geisa abre caminho para que nosso irmão adentre o quarto. E então lança um sorriso de compreensão, antes de se retirar do cômodo, nos deixando a sós.

Fico paralisado por um instante, encarando Jonas enquanto as memórias do passado ressurgem em minha mente.

O medo de ser atacado por ele mistura-se com o receio de que eu não consiga resistir novamente ao seu charme, mesmo depois de tudo o que aconteceu entre nós.

Jonas quebra o silêncio, sua voz carregada de emoção contida. "Eu queria falar com você, cara. Sinto muito pelo que aconteceu no passado. Eu... eu não sou mais o mesmo, acredite."

Os Homens da Casa (GAY)Where stories live. Discover now