Cap XXIV _ O casamento (Parte 2)

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Meu nome é Jonas e, neste momento, eu me vejo confinado a este quarto exageradamente claro e iluminado por uma luz solar agressiva que penetra pela janela. O cômodo parece ter encolhido drasticamente e sinto como se as paredes estivessem prestes a me comprimir.

O peso da situação parece esmagador. Preciso parecer assustador, para convencer Davi a fugir comigo, nem que seja por medo. Mas a verdade é que eu estou em pânico. Talvez eu tenha perdido o controle da situação.

Meus olhos se fixam em Davi, meu irmão, que está de pé diante de mim, claramente angustiado com o que esta acontecendo. Ao lado dele, Laura está atordoada e em choque após a agressão que cometi.

Eu seguro a arma, mas ela já não é a fonte de poder que eu imaginava. Em vez disso, me sinto impotente e confuso diante do olhar temeroso de Davi, e isso dilacera meu coração. O conflito interior que agora enfrento é avassalador.

Eu não queria fazer Davi sofrer outra vez, mas havia agido impulsivamente. Se pudesse voltar no tempo, certamente não sacaria aquela arma que agora aponto para meu amado.

Uma mistura de raiva reprimida, mágoa e desejo me levou a essa situação caótica. Estou cansado de ser o vilão na história de Davi, mas ao mesmo tempo, estou convencido de que posso dar a Davi a felicidade que ele merece.

Um conflito interior ferve dentro de mim. Eu desejo que as coisas sejam diferentes, que Davi me compreenda, que veja a paixão que eu sinto. É difícil admitir até para mim mesmo, mas hoje eu sei que sou completamente obcecado por Davi, de uma maneira confusa, violenta e doentia.

Porém agora, com a arma em minhas mãos e o olhar desesperado de Davi, percebo que fui longe demais. Não é assim que eu quero que as coisas se resolvam. Eu quero uma oportunidade de explicar meus sentimentos e convencer Davi de que estamos destinados a ficar juntos.

Finalmente, eu baixo a arma, meu gesto de que não quero mais recorrer à violência. Volto com meu pau para dentro da calça e me aproximo de Davi, tentando encontrar palavras que expressem meu conflito interno. "Davi, eu... eu não queria que as coisas chegassem a esse ponto. Estou confuso, perdido, mas eu... eu te amo, de uma maneira que nem eu mesmo entendo completamente."

É a primeira vez que admito o que sinto por Davi. A primeira vez que me permito estar vulnerável a ele. Dizer que o amava foi infinitamente mais difícil do que apontar uma arma em sua direção.

Davi olha para mim, seus olhos ainda cheios de apreensão. "Jonas, eu não sei o que te dizer. Não podemos simplesmente apagar o passado," o medo ainda transparece na sua voz trêmula.

Ele ainda está acoado. Tudo o que eu queria era convencê-lo a confiar em mim, mas eu não consigo lidar com os meus sentimentos.

Ele ainda tem medo de mim. Mas talvez isso seja bom. Eu não quero que ele pense que eu sou frouxo. Isso destruiria sua fascinação para comigo.

Ainda assim, eu assinto, reconhecendo a validade das palavras de Davi. "Você está certo, eu sei. Eu agi de maneira terrível, e não posso mudar o passado. Mas eu quero fazer as coisas certas agora, eu quero te mostrar que posso ser alguém melhor, alguém que merece estar ao seu lado."

Laura permanece em silêncio, observando a conversa entre os dois irmãos. Ela ainda está chocada e confusa com tudo o que aconteceu, certamente não compreende o que se passa entre a gente.

Davi respira fundo, seus olhos encontrando os meus. "Eu não sei o que o futuro reserva, Jonas. Mas eu preciso de tempo para pensar e processar tudo isso. Eu não posso simplesmente tomar uma decisão agora."

Com um nó na garganta, percebo que a situação está longe de ser resolvida. Eu me sinto confuso e nervoso, mal consigo lidar com as consequências de meus atos e encarar Davi depois de tê-lo agredido novamente.

Decido sair rapidamente do quarto, buscando por uma via de saída da chácara. Não consigo mais sustentar o peso de tê-lo machucado outra vez. Também não quero pedir-lhe perdão pelos meus erros. Não posso admitir que errei mais uma vez com ele.

Só me resta sair de rompante, batendo a porta agressivamente, na esperança de que ele perceba a minha atitude exagerada como uma prova do meu sentimento.

Corro até o estacionamento e entro no meu carro, bufando - parte pelo esforço de correr até lá e parte pela excitação do momento. Minha mente está uma bagunça, me pergunto o que foi que eu fiz, como foi que eu perdi o controle da situação.

Começo a berrar dentro do carro, um misto de fúria por ter posto tudo a perder e arrependimento por ter agredido meu amado novamente. Meu grito ecoa no interior do veículo, refletindo meu estado de espírito tumultuado.

Enquanto ainda estou berrando como um animal descontrolado, ouço uma batida na janela do carro. Olho para o lado e vejo Davi.

Nossos olhares se encontram por um par de segundos, e eu disfarço minha timidez e arrependimento. Não quero que Davi pense que eu sou fraco. Quero que ele mantenha a imagem de que sou um homem forte, firme, viril e seguro.

Abro a porta, e Davi entra. Dois irmãos se abraçam em silêncio e choram dentro de um carro . As lágrimas de Davi se acumulam em meu ombro e molham minha camisa.

Nos mantemos em silêncio até que Davi percebe algumas outras pessoas se aproximando do automóvel. Creio que sejam convidados da cerimônia ou alguém da família da noiva tentando entender o que estava acontecendo.

"Por favor, me leve para longe daqui." Ele pede para fugir dali antes que alguém chegue ainda mais perto.

Dou a partida no carro antes que Davi tenha tempo de mudar de ideia. Enquanto nos afastamos da chácara, sei que temos um longo caminho pela frente, mas pelo menos estamos juntos e prontos para enfrentar o desconhecido, lado a lado.

A mão de Davi repousa em minha coxa enquanto eu dirijo. Guio o carro sem um destino certo. So então me dou conta de que não havia pensado em para onde iríamos caso ele aceitasse fugir comigo. Não quero que ele perceba que estou improvisando, mas nada disso faz parte do meu plano.

Na verdade, nem mesmo sei se eu tinha algum plano até então.

Continuo dirigindo, apenas deixando o carro seguir livremente pela estrada enquanto o sol se põe no horizonte distante. A cada quilômetro percorrido, minha mente se perde em turbilhão de pensamentos angustiantes.

Os Homens da Casa (GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora