Cap. XVI _ A prisão

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Eu tinha evidências de que meu primo queria me foder, como o fato dele ter ficado duro quando enfiou seus dedos em mim.

Na verdade, desconfiava que ele sentia tesão em me controlar, me dominar, me ver passivo e subordinado ao seu comando.

Mas ele queria que eu pedisse para ser penetrado, assim ele teria a confirmação daquilo que ele sempre me dissera para me provocar: de que eu era e sempre fui sua putinha.

Eu sabia que essa seria a humilhação máxima dele para comigo.

Apesar de ainda nutrir um ódio por tudo o que ele me fizera sofrer no passado, eu também queria desesperadamente senti-lo dentro de mim.

Mas queria que ele me fodesse sem que eu pedisse, de modo a saciar o meu fogo sem dar razão a ele e sem admitir que eu era, de fato, viado.

Por quase um mês eu temi o retorno de Jonas, remoendo meus traumas e sentimentos contraditórios.

Até que um telefonema mudou tudo. Era da delegacia municipal.

Não foi sem surpresa que recebemos a notícia de que Jonas havia sido preso. Porém, a verdade é que todos desconfiavam que Jonas estava atolado até o pescoço no mundo do crime.

O boato que circulava no bairro de que ele estava envolvido com tráfico de drogas parecia verdadeiro, afinal.

Ao mesmo tempo, somente eu sabia que Jonas havia escapado com vida da rajada de tiros na manhã da sua fuga de casa.

A notícia da sua prisão gerou, portanto, um sentimento agridoce na nossa familia: ele estava vivo, porém não estava livre.

Ivan parecia o mais abalado pela situação. Ver um filho atrás das grades deprimiu-o profundamente. Sentia que havia falhado enquanto pai.

Em poucas semanas, ele mergulhou de cabeça no alcoolismo. Se tornou agressivo com as filhas e especialmente frio comigo. A prisão de Jonas mudou drasticamente as atitudes do meu tio.

Quando bêbado, Ivan delirava. Dizia que o fantasma de sua falecida esposa o perseguia, falando para ele que Jonas estava pagando pelos pecados do pai.

Ivan nunca mais me tratou com carinho desde a prisão de Jonas. Pelo contrário, nosso romance azedou do dia para a noite. Onde antes parecia prosperar amor e cuidado, agora germinava culpa, mágoa e ressentimento.

Meu tio continuava sendo cordial comigo, mas seu trato era quase protocolar. Tudo o que a gente havia vivido junto foi virando um grande tabu entre nós, algo restrito a um passado distante e proibido.

É verdade que, desde que Jonas havia me dedado, eu tampouco conseguia olhar nos olhos do meu tio sem me sentir culpado por traí-lo com seu próprio filho.

Eu também estava cansado de carregar sobre meus ombros o peso da culpa, da mentira e das imoralidades que havia cometido em nome do amor que sentia por Ivan.

Por mais que eu fosse apaixonado por meu tio, nossa relação havia adoecido nossa alma. Tanto eu, quanto ele estávamos psicologicamente quebrados.

O remorso me corroía por dentro. Não conseguia tratar Ivan normalmente depois de ter me sujeitado ao toque de seu filho. Temia que meu tio conseguisse sentir o peso da culpa no meu tom de voz.

Estava tomando coragem para terminar minha relação com Ivan o quanto antes. Por mais que eu o amasse desesperadamente, era cada vez mais difícil encará-lo outra vez e fingir que nada havia acontecido durante sua viagem a trabalho.

Eu já havia ensaiado mil e uma maneiras de romper com ele. Sabia que seria uma das conversas mais difíceis e dolorosas da minha vida. Mas essa conversa jamais aconteceu.

A prisão de Jonas abalou Ivan tão profundamente que ele simplesmente se afastou. Nossa aventura romântica cada vez mais parecia um daqueles sonhos nebulosos que se apaga com o tempo.

Rompemos sem trocar uma única palavra. Por um lado, senti alívio em não precisar ter essa conversa penosa com Ivan. Mas depois, me senti ultrajado, como se tudo o que vivemos juntos tivesse sido irrelevante ou insignificante o suficiente para que fosse encerrado assim, sem mais nem menos.

Me senti usado, tal qual uma peça de roupa que se descarta quando não mais lhe interessa.

Mesmo assim, eu sentia falta de seus afagos o tempo inteiro. Por mais que eu soubesse que nosso romance só traria mais sofrimento para nós dois, isso não diminuía a dor de continuar vivendo sob o mesmo teto que meu ex-amante, tendo que fingir que nada havia acontecido.

Até isso meu primo havia conseguido estragar na minha vida. Não fosse por ele, meu romance proibido com Ivan talvez durasse para sempre.

Mais uma vez, Jonas era o principal culpado por toda a minha desgraça. Isso só reacendeu o ódio e a aversão que eu sentia por ele.

Mas agora Jonas estava detido em uma unidade de detenção provisória enquanto aguardava julgamento e eu nada podia fazer para me vingar dele.

A princípio apenas meu tio ia visitar meu primo no centro de detenção. Ele não queria que as filhas entrassem naquele ambiente e, como eu não era parente de segundo grau, a minha situação para acompanha-lo nas visitas era mais complicada.

Tive que conversar com uma assistente social para comprovar meu vínculo familiar com Jonas. Depois disso, passei a ir com meu tio quatro a cinco vezes por mês visitá-lo na prisão.

Achava estranho que durante todo os anos que minha mãe estivera presa eu só a tivesse visitado umas seis vezes e meu primo me via várias vezes por mês.

O ambiente prisional era assustador e caótico, a unidade penitenciária que meu primo estava tinha o triplo da sua capacidade máxima, com quase 6 mil prisioneiros abarrotados em celas pequenas.

Eu já ficava intimidado com o tamanho da fila de visitantes. Eram centenas, talvez milhares de pessoas, que passavam a madrugada na fila para conseguir ver seus entes na cadeia.

Por se tratar de uma unidade provisória, as visitas íntimas ocorriam no mesmo dia das visitas sociais. Algumas mulheres iam emperiquitadas, fedendo a perfumes baratos para ter uma hora de sexo com seus maridos.

A revista era uma situação constrangedora. E depois todo mundo, presos e parentes, se espremiam no pátio para os encontros. O falatório era ensurdecedor, todo mundo gritando ao mesmo tempo para se fazer ouvir.

Sempre levávamos mantimentos, itens de higiene pessoal e algumas comidas que eu fazia pro meu primo. A primeira vez que o vi, levei um susto.

Não me lembrava dele ser tão forte, parecia mais parrudo e moreno, tinha uma tatuagem pequena e tosca abaixo do olho e outra enorme no peitoral. Andava de cara fechada, mas não perdera o sorrisinho sacana sempre que me via.

A primeira vista, parecia o mesmo moleque inconsequente, mas algo em si havia mudado drasticamente. Estava completamente corrompido, como se tivesse vendido sua alma para o diabo.

Por mais que ele tentasse disfarçar seu sofrimento, eu percebia o brilho em seu olhar se deteriorando a cada nova visita semanal.

Preciso admitir que, no fundo, eu gostei de vê-lo arruinado e no fundo do poço. Visitá-lo no presídio me enchia de satisfação pois eu percebia que não era apenas eu e Ivan que estávamos emocionalmente destruídos.

Mal trocava palavras comigo, preferia se dirigir diretamente ao pai. Parecia exercer certa liderança ali, se enturmara rápido e tinha intimidade com presos e carcereiros.

Depois de algumas visitas, Ivan parou de ir todas as semanas.

As vezes não ia por causa do trabalho, outras porque achava sofrido ver o filho naquela situação. Então pedia que eu levasse os mantimentos sozinho.

(CONTINUA)

Os Homens da Casa (GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora