Rafe

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Burburinhos espalhavam-se pelo ar e adentravam o quarto pelas frestas da porta que não estava fechada; o canto dos grilos escondidos na mata eram suaves, e Rafe sentiu-se aliviado por reconhecer de onde aquele som surgia. As luzes do quarto de Summer estavam apagadas, a não ser pelo pequeno abajur sobre a cômoda ao lado da cama.

A luz laranja do abajur era trêmula e quente, assim como os lençóis coloridos que cobriam parte do corpo do garoto. Rafe olhou para baixo, procurando pelo ferimento em sua barriga: estava coberto por faixas limpas, o que indicava que havia sido trocado a pouco tempo; sua pele emanava um cheiro forte de pomada, e ele logo percebeu que alguns ferimentos sobre o seu rosto estavam cobertos de remédio.

Ele se sentia como uma criança em repouso, um garotinho que havia se machucado andando de bicicleta e que agora precisava ficar deitado até estar totalmente saudável.

Os burburinhos eram altos, e mudavam de entonação: horas parecia frenético, como uma conversa animada entre amigos, e horas parecia sério, como uma discussão tensa. Um cheiro forte de sopa de ervas entrava pelas frestas de porta e invadia suas narinas, e ele logo percebeu que não deveria ter comido nada sólido por horas. Ou dias.

Summer entrou no quarto de forma silenciosa, como se esperasse que Rafe ainda estivesse dormindo. O seu olhar de surpresa confirmava essa teoria.

— Ah, você finalmente acordou! — exclamou a garota, baixinho — Barry disse que era normal, mas eu estava começando a ficar preocupada.

Barry. Rafe não o via desde o dia em que os capangas de Limbrey haviam invadido a casa da namorada e levado os dois sob sequestro. Tudo o que ele lembrava era de que Barry havia se ferido.

— Ele está bem? — perguntou Rafe.

— Uhum. — respondeu Summer — É você quem deveria responder essa pergunta. Como se sente?

Rafe suspirou profundamente, sentindo seu abdômen doer. A dor agora não parecia tão acentuada; sua cabeça estava normal e seus músculos, apesar de doloridos, pareciam ficar fortes. Ele assentiu, exibindo o melhor sorriso que conseguia.

— Que bom. — sussurrou Summer, sentando ao lado do garoto.

Ela carregava nas mãos uma tigela azul de tamanho médio, cobrindo as mãos com dois panos de pratos para evitar que o objetivo queimasse sua pele. Fumaça subia de dentro da tigela, e ela mexia uma pequena colher enquanto assoprava a comida. Era a sopa de ervas, provavelmente receita de Barry.

— Aqui, você precisa tomar isso. — disse Summer, erguendo uma colher na direção de Rafe — Barry disse que você vai se sentir melhor.

A sopa não tinha um aspecto tão bom quanto o cheiro: o líquido tomava um tom esverdeado, e alguns pedaços de carne balançavam sobre a superfície oleosa. O estômago do garoto roncava de fome, e partindo princípio de que Barry era especialista em sobrevivência, Rafe não tinha outra opção a não ser tomar tudo.

Ele tomou a primeira colherada, fazendo uma careta ao sentir ao mastigar pedaços de folha. Tinha um gosto forte, mas ao mesmo tempo refrescante.

— Quanto tempo eu dormi? — perguntou ele, tentando tomar a sopa sem pensar tanto sobre a aparência do líquido.

— 6 horas, desde que desmaiou. — disse Summer, arranhando o fundo da tigela com a colher — Os garotos tiveram que carregar você até o carro.

— E onde eles estão? — sua mente divagou para o rosto dos pogues.

— Lá fora, de vigília. — respondeu Summer, olhando pela janela — Fizeram uma fogueira onde o chão não está tão úmido. Sarah se recusou a ir pra casa, e todos ainda estão assustados com a sua...

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