XLV. Counterpoints

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Draco sempre ouviu de seu pai que um Malfoy nunca chora. Um Malfoy nunca demonstra fraqueza, em hipótese alguma. Chorar era uma forma de mostrar fraqueza.

Ele se perguntava como não chorar quando alguém tão importante da sua família ia embora. Como seu pai conseguia não chorar quando o próprio pai dele havia falecido? Já esperar que isso acontecesse mais cedo ou mais tarde não impede que a dor esteja lá.

Talvez a questão seja esconder tão bem que nem pareça que está sentindo algo... Ou realmente não se deixar sentir.

Seu avô disse que ele e seu pai choraram apenas uma única vez: quando Elmeera se foi. Logo em seguida, agarrou seu braço e disse firmemente para que Draco nunca demonstrasse essa fraqueza. Ninguém deve ver o quanto você se importava. Isso o tornaria fraco.

Draco tinha 8 anos quando ele disse isso.

Bem… Então ele era fraco, porque não conseguia se impedir de chorar.

Abraxas provavelmente já esperava partir muito em breve, pois passou os últimos meses e dias deixando bem claro o quanto era importante que Draco perpetuasse o legado Malfoy, que ele era o herdeiro de tudo e deveria se portar e ser reconhecido como tal.

Ganhou o medalhão na véspera de sua partida para a Copa Mundial. Um último presente.

— Eu não sei se ainda estarei aqui quando você voltar da Copa Mundial — Abaraxas falou, a voz fraca.

Ele estava deitado em sua cama, como tinha estado há vários meses, a pele esverdeada como consequência da Varíola de Dragão. Os cabelos loiros estavam muito ralos, as rugas marcadas, olheiras profundas, o corpo muito magro e repleto de bolhas, feridas e manchas. Abraxas estava longe de aparentar a imponência que tivera um dia e que o neto tanto admirava.

Draco não poderia ficar muito tempo, pois era uma doença bastante contagiosa. Os medibruxos deixavam-no ficar por alguns minutos, desde que não se aproximasse muito. Costumava ler e comentar sobre a escola para que o homem não se sentisse tão solitário com o isolamento por conta da enfermidade.

O garoto não respondeu ao avô. Permaneceu quieto, sentado em uma cadeira de encosto alto com um livro no colo. O livro fora um presente dele quando era criança, uma antologia de contos bruxos que dizia ser o favorito de sua avó.

— Mesmo que esteja, sei que não tenho muito tempo — continuou Abraxas. — Você sabe o que significará minha partida, Draco.

Draco apenas assentiu com a cabeça.

— Isso confirmará você como o único herdeiro Malfoy. Ao menos, será até que se case e perpetue nossa linhagem.

— Não acho que vá acontecer tão cedo, vovô — Draco falou baixo.

Ele queria, claro. Um dia se casaria e teria filhos. Porém, não via como um futuro tão próximo.

— Infelizmente, não poderei vê-lo se tornar o grande Malfoy que está destinado a ser, mas você está no caminho — lamentou. — Continue firme. Esse é o seu dever, Draco. Você é o futuro do legado dos Malfoy.

Draco abaixou a cabeça e apertou o livro em suas mãos, assentindo. Ele já havia ouvido aquela frase tantas vezes que quase conseguia sentí-la gravada em brasa em sua mente.

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