L. Doubts

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Arcturus tinha certeza que seu marido havia superestimado demais sua capacidade de manter-se firme naquela missão. Ele próprio havia se superestimado.

Na verdade, até o último dia em casa, por alguns momentos, ele pegou-se duvidando de que aquilo era realmente o certo a se fazer. Por mais que quisesse reparar tudo o que fez, o medo ainda estava ali presente.

Naquela noite antes de tudo começar oficialmente, ele aproveitou os últimos momentos de paz que teria com sua família. Essa era certamente a pior parte, não só ter que se afastar de algumas das pessoas que mais ama, mas também saber que nada seria igual dali em diante.

Por isso, Arcturus agarrou-se firme àquele momento.

Ali no Largo Grimmauld, na mesma casa onde nasceu e cresceu, Arcturus ninava sua filha e cantava para ela, sentado na mesma cadeira de balanço que um dia sua mãe, avó, bisavó e tantas outras antepassadas sentaram, ao lado do mesmo berço em que ele próprio dormiu quando bebê.

A pequena garotinha adormeceu tranquilamente, aninhada nos braços do pai enquanto a voz dele soava tão docemente pelo cômodo com uma canção de ninar em francês, a mesma que ele ouvia seu irmão mais velho cantar para si quando não conseguia dormir. Os finos cabelos loiros brilhavam sob a luz da lua que adentrava a janela, tornando aquela visão ainda mais bela e serena para Arcturus.

Um pequeno sorriso surgiu no rosto dele ao admirá-la após terminar a música, sua mente querendo guardar aquele momento eternamente, pois não ocorreria outra vez tão cedo.

Certamente aquela era uma das coisas que mais sentiria falta. Ela era tão pequena… Seria difícil ter que se afastar durante o ano letivo.

Ele beijou delicadamente a testa da bebê, para então deixá-la no berço com cuidado. Antes de sair, ativou a babá eletrônica, uma das aquisições trouxas da qual não abriria mão para poder ouvir a filha caso acordasse no meio da noite. Obviamente, ele usou magia para aprimorar o alcance e a qualidade do som, mas admirava os trouxas que inventaram aquilo. Era bastante prático, principalmente numa mansão tão grande quanto a Casa Black.

Após verificar os outros dois filhos em seus quartos e deixar o marido lendo uma história para Stella, ele seguiu para o banheiro, onde colocou-se na água morna da banheira e ali permaneceu pela próxima meia hora.

Não conseguia parar de pensar em tudo que enfrentaria a partir do dia seguinte, nem saberia dizer se estava preparado para tal. Encarar toda a atenção que receberia pelo nome Black e por se parecer tanto com Sirius, encarar seus sobrinhos que provavelmente sabiam tudo sobre ele e deviam detestá-lo, encarar Sirius…

Ele suspirou e jogou a cabeça para trás, apoiando na borda da banheira.

Com certeza não estava pronto para encarar Sirius.

— Por um momento pensei que tivesse sido sugado por algum ralo mágico — a voz de seu marido falando em italiano adentrou seus ouvidos.

Archie riu e voltou os olhos para a porta, encontrando o homem escorado no batente pela pequena fresta aberta.

— Não temos ralos mágicos — respondeu no mesmo idioma.

— Tudo nesta casa funciona à base de magia, eu não duvidaria.

— Estou apenas relaxando e refletindo em um longo banho. — Sorriu de canto. — E sim, aceito companhia.

— Muito nervoso para amanhã? — Mattias entrou no cômodo e fechou a porta.

— Você não faz ideia.

— Percebi na sétima vez que você checou as malas.

Archie suspirou e riu, voltando a encarar o teto. Até mesmo ele subestimava o quanto a situação estava o afetando.

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