𝟬𝟬𝟭| Para o bem dela

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Any G..

Eu tenho certeza que nesse momento meu corpo já não obedece mais o meu cérebro. Meu dedos queimam pelas bolhas que há neles, meus olhos que estão minimamente abertos ardem como se tivessem espremido limão por eles.

Pega alfinete, pega enfeite, costura, cola, gruda, encaixa.

É tudo que eu faço desde de ontem a noite, como odeio essas encomendas, mas a culpa é minha, não canso de ser burra por ainda aceitar pedidos assim, sou mais burra ainda quando ouso desafiar meu cérebro e toda a capacidade de produção que me restava até ontem.

Mesmo com meu cérebro que já não é capaz de ouvir nada ao redor, ou pelo menos fingir não ouvir nada, sou despertada por um alto barulho vindo do telefone posto na parede.

Encaro o aparelho a minha frente, e sinceramente não sei por que ainda está aqui, afinal, quer fazer algo? Manda mensagem! Ninguém com menos de 59 anos tem um telefone fixo, mas o vendedor me fez acreditar que seria a melhor opção para ter contato com os meus clientes.

Resolvo tentar parar a guerra interna que há dentro de mim, indo até o telefone e atendendo a pessoa dona do aumento da minha raiva.

— Olá? É a senhorita Rolim?
— Sim! Sou eu!
— Oi querida, aqui é a Victoria, professora da escola da sua filha. Preciso que a senhorita venha até aqui.
— Sim, claro, eu sei quem é você! Aconteceu algo com a Sophie?
— Peço que a senhora mantenha a calma, por favor.

Manter a calma? Sério? É isso que você quer que me acalme? Nossa tô super calma depois de suas palavras...

— O que houve? Me diz!
— A Sophia caiu do parquinho e acabou se machucando.
— Meu Deus, como ela está? Quer saber? Já estou indo aí.

O meu único instinto foi largar o telefone e todo o ateliê naquele momento, tudo ao meu redor se voltou para ela, a minha filha.

Ela é frágil, eu não sou a melhor mãe do mundo e agora ela está machucada. Pequenas coisas se tornam imensas quando você é um pequeno ser humano.

[...]

Encontro todas aquelas crianças pulando e brincando, e só consigo imaginar como a minha Sophie está. Me dirijo finalmente para sala com a grande placa na porta onde diz "diretoria".

Ao entrar, me deparo com o dono do rosto inconfundível, o homem que eu poderia reconhecer a quilômetros de distância. Ele estava com minha filha em seus braços, o rosto dela se escondia dentre o pescoço do pai.

Ele movimentava sua perna, em uma tentativa de acalmar a filha em seus braços. Os olhares das quatro pessoas na sala, se voltaram para mim, e junto com isso o choro da Sophie se intensifica ao me ver.

Entro e com passos rápidos vou até a minha menina que logo veio aos meus braços, seu braço e sua perna cobertos por faixas, o que fez meu coração partir, vendo o quanto ela havia se machucado. Me levanto com ela em meus braços, passo minhas mãos em suas costas para lhe dizer que está tudo bem.

Eu estou aqui, a sua mãe.

Após alguns minutos de muitas palavras de conforto, muito choro, e muitos beijos. A calma finalmente chaga para a Sophie. Agora eu finalmente saberia o que realmente aconteceu com a minha filha, mas... Também será o momento em que eu terei que encara-lo depois de tanto tempo.

𝗜 𝗦𝗧𝗜𝗟𝗟 𝗟𝗢𝗩𝗘 𝗬𝗢𝗨Where stories live. Discover now