𝟬𝟭𝟳| Cansaço sem fim.

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Any G..

— A Sophie ainda não acordou. — comento com a minha mãe que me esperava sentada no sofá.
— Ótimo, ainda podemos conversar sobre a minha neta! — ela se levanta preparada para começar a discursar.
— Se isso continuar assim a sua filha irá ficar igual a você, você parece não tomar jeito na sua vida. A minha neta está sofrendo por culpa sua, culpa da sua imaturidade! Dê jeito na sua vida. — ela aponta o dedo no meu rosto.
— Eu... — antes que eu finalize minha fala, ela volta a falar.
— Eu sempre soube que você não era uma boa mãe, só foi aquele loiro largar você que tudo piorou! Aposto que nesse momento ele deve estar com outra! — ela diz enquanto anda de um para um outro, minha respiração logo responde ofegante e meus olhos lacrimejam.

— Olha, saí daqui! Vai embora, me deixe cuidar da minha filha sozinha! Eu não preciso mais de você! — digo sem olhar para o rosto da mulher.
— Se eu for talvez a minha neta morra, porque primeiro foi a queda, depois problemas psicológicos, agora ela está doente. Você não sabe cuidar de uma criança! — após ouvir essas palavras meu peito parece não funcionar.
— Só vai embora! — após gritar com ela, a mulher que se diz minha mãe saí pela porta.

Sento de volta no sofá e permito que todas aquelas lágrimas presas saíssem, levo meus joelhos até meu tronco e apóio minha cabeça sobre eles. Não consigo evitar o tremor em minhas mãos e meu pulmão parece parar de funcionar.

Eu realmente sou uma mãe tão ruim? Eu não consigo evitar algumas coisas que acontecem! Eu não tenho culpa! Eu não tenho!
Minha cabeça parece ser tomada por um alto e ensurdecedor barulho, em passos rápidos vou até o meu quarto, vasculho por toda cama em busca do meu celular. É imprudente mas eu preciso conversar com ele.

— Alô, beauchamp?! — após segundos de espera a chamada finalmente atende.
— Any, tá tudo bem? Aconteceu algo com a Sophie? — sua voz parece estar se desesperando.
— É... Não, eu só... — minha voz acaba sendo levada pelo choro.
— Gabrielly, você tá chorando? o que aconteceu? Eu posso ir aí! — o desespero agora é notável.
— Não precisa, eu só preciso conversar com você. — um silêncio se instalou na chamada.
— Pode falar, Any! — sua voz parecia mais calma mas agora o que toma a sua voz é a preocupação.

— Eu não sei, Joshua... Eu não consigo. — lágrimas descem pelo meu rosto.
— Calma, estou ouvindo, eu estou aqui. — palavras de conforto saem de sua boca.
— Josh, eu sou mesmo uma mãe tão ruim? — pergunto enquanto me deito na cama.
— O que? Não! Óbvio que não! Any... A sua mãe que falou isso? — só Josh Beauchamp pra me conhecer assim!
— É.. — ele conhece o histórico de intrigas entre minha mãe e eu. Quando eu tive Sophie as brigas diminuíram, mas não acabaram.

— Você é simplesmente a mãe mais incrível que eu conheço! Porra Any... Você trabalha, você cuida da casa, você ajuda todos ao seu redor e ainda cuida da Sophie da melhor maneira imaginável! — Josh me tira um mero sorriso por alguns segundos.
— Mas por que a nossa filha está com tantos problemas ultimamente? — pergunto.
— Não temos e nunca iremos ter controle sobre isso! Tudo o que podemos fazer é cuidar dela. E você faz isso como ninguém! — as suas palavras parecem fazer com que o meu coração que antes disparava, agora se mantenha calmo mas por pouco tempo.
— Any, está aí? — ele pronúncia após o meu silêncio.
— Oi! Obrigada pelas palavras! — eu digo com tom de voz muito baixo.
— Any... Podemos conversar? — ele suavizou seu tom de voz para igualar ao meu.
— Eu... Eu acho melhor não. Eu tenho que cuidar da Sophie! — viro de bruços e deixo mais lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
— Any, se cuida! — ele diz e eu encerro a ligação.

Um milhão de coisas se tomava dentro de mim agora. A minha filha, as palavras da minha mãe, meu trabalho, o fato de eu ter que esquecer todos os meus sentimentos pelo Josh e um cansaço sem fim.
Eu só queria poder viver em silêncio, sem todo esse tumulto ao meu redor.
Eu só queria poder resolver tudo isso e poder viver minha vida em paz, mas eu não consigo.

Eu não consigo evitar os problemas da minha filha, eu não consigo fazer com que minha mãe acredite em mim, eu não consigo me concentrar no meu trabalho e eu não tenho coragem para esquecer Josh.
Lágrimas continuam a sair pelos meus olhos enquanto meus pensamentos voam, por que ninguém me contou que ser adulta seria chorar às nove da manhã por conta da merda da sua vida?

Eu só quero ser a minha melhor versão para todos, eu quero poder ajudar todos ao meu redor a ficarem bem. Mas sempre que tento fazer com que as coisas melhorem, eu estrago tudo! Eu não consegui evitar os problemas da Sophie; eu não consegui conversar com Josh e quando falei com ele eu consegui dizer as piores coisas do mundo; eu não consegui ser uma boa amiga e muito menos ser uma boa filha.

Isso tudo só vai gerar arrependimentos ao decorrer da minha vida, podem se passar anos mas eu vou continuar lembrando cada momento em que eu estraguei tudo.

[…]

— Vem Sophie, levanta! — digo sentada na cama de Sophie,
— Mamãe... — manha toma sua voz — Me deixa dormir mamãe!
— O que? Não, já são quase onze horas. E olhe que hoje ainda é segunda feira, mocinha. — tento despertar seu corpo e a trago para meu abraço.
— Mamãe, você tava chorando? — Sophie leva suas mãos até o meu rosto e passa pelas minhas bochechas vermelhas.
— Não, princesa! A mamãe cortou cebola para o almoço. — mentiras são horríveis mas uma coisa que aprendi ao decorrer da vida é que pais contam mentiras aos filhos o tempo inteiro. Você faz de tudo para proteger a pessoa que você mais ama da dura verdade.

— Ew, eu não gosto de cebolas! — ela reage.
— Mas então, como você está hoje? Seu corpo ainda dói muito? — pergunto para a mesma que continua no meu colo, olhando em meus olhos.
— Um pouquinho, só um pouquinho! — ela faz um gesto com a sua mão.
— Que bom, meu amor! Logo, logo, toda essa dor sai e você pode voltar pra escola. — ela reage à minha fala com uma careta.

[…]

Já era noite, um cansaço se fez presente em mim durante todo o dia; às vezes o cansaço sumia quando eu ficava com Sophie mas sempre voltava, minha cabeça já estava atordoada ao máximo. A campainha acaba tirando o resto da minha paz ao tocar, minha vontade é jogar um balde de água fria na pessoa lá fora, mas com muita educação eu vou até a porta.

— Ah, é você Joalin. — digo após abrir a porta.
— Olha, eu sei que eu não sou a pessoa mais linda do mundo, mas também não precisa falar assim! — ela invade a minha sala.
— Eu não tive um bom dia! — a sigo para o sofá.
— A Sophie tá acordada? — ela pergunta e como resposta eu nego com a cabeça.
— Ótimo! Agora você vai me contar direitinho como foi a sua noite com o Beauchamp! — ela fala me puxando para perto dela.

— Vou ser curta... Não foi! — acabo me deitando no sofá e apoiando a cabeça no colo dela.
— Ah, o que aconteceu? — ela perde todo o ânimo que tinha.
— Sabe o Noah, aquele meio esquisitinho, amigo do Josh. Então, ele chegou lá e eu ouvi ele dizer que imaginou a Carol ou outra mulher na casa do Joshua mas não eu! — desabafo com ela.

— O que? Aquele projeto de Bob Marley de tão maconheiro que é, aquele cachorrinho de madame, aquele filho da mãe! Não acredito, eu ainda mato ele e o Joshua! — ela se revolta e levanta fazendo que minha cabeça tome um choque no sofá.
— Joalin, ele já tem outras opções. E eu já desencanei. — digo enquanto encaro o teto.
— Não desencanou não! Você gosta dele, eu sei! — ela fala gesticulando rápido.
— E daí? Ele tem outras. — eu falo.
— Você não sabe! Você só ouviu daquele peixinho dourado desnutrido, até o Josh não aparecer com outra, você não desisti! — Joalin declara.
— Por que eu tenho que continuar lutando? Ele não faz nada por isso, ele não quer! — falo enquanto levanto.

— Ele não te abraçou quando você precisou? Ele não te chamou pra dormir lá? Vocês não foram ao cinema juntos e ficaram praticamente de mãos dadas? — ela senta ao meu lado e passa a mão pelo meu ombro.
— Mas isso tudo foi pela Sophie! — eu falo pondo a minha cabeça em seu ombro.
— Ele não tinha obrigação de fazer nada disso! Confia, ele quer tanto quanto você! Mas vocês são muito lentos e medrosos, vai com calma, mas VAI! — ela aconselha.
— Joalin... Eu tô cansada e minha cabeça parece que vai explodir, vamos parar de falar do Josh, do Noah, da Sophie, de todos! — eu suplico.
— Vem cá, vem cá. — ela me deita em seu colo novamente e acaricia meus cachos.

𝗜 𝗦𝗧𝗜𝗟𝗟 𝗟𝗢𝗩𝗘 𝗬𝗢𝗨Where stories live. Discover now