𝟬𝟭𝟲| Heyoon?

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Josh B..

Por que certas coisas exigem tanto de você?
Sempre há dificuldades na vida, você pode ser a pessoa mais inteligente do mundo, você pode ser a pessoa mais talentosa do mundo; mas sempre vai haver algo que te assuste.
Pra mim cozinhar é muito fácil, sempre foi e sempre vai ser algo que não requer esforços para mim. Mas agora cite matemática, física ou química... São coisas que me deixam sem saber o que fazer, igual o amor.

Eu não sei o que fazer ou dizer para garantir que o amor fique. Mas... Talvez não há nada a fazer, o amor sempre vai; se não for chorando com raiva e mágoas, será enterrado dentro de um caixão.
Então a minha pergunta virá outra: O que é preciso para que um amor vire memória?

A única coisa que temos que dura para sempre são as memórias, eu sinto que o meu amor com Any me deixou várias memórias, mas eu preciso de mais. Eu preciso de memórias dela. Memórias dela com a Sophie;  memórias dela costurando; memórias dela sorrindo.
Eu preciso de mais momentos tão especiais que eu lembrarei até mesmo sem querer.

Riu comigo mesmo por ver o quão filósofo eu estou enquanto apenas cozinho meu jantar, é isso que o amor faz, que dizer.. é isso que a dor faz.
Todo e qualquer pensamento estúpido foge após um susto me tomar com o barulho da campainha. Mesmo contra a minha vontade, eu vou até a porta atender.

Heyoon? — digo surpreso.
— Euzinha! Podemos conversar? — ela pergunta com aquele sorriso no rosto e eu assenti com a cabeça.
— Você tá cozinhando, né! Sabia que eu tinha escolhido um ótimo horário. — ela fala indo em direção a cozinha.
— O que cê veio fazer aqui? — vejo a mesma mexendo no que até poucos segundos atrás eu preparava.
— Eu... Terminei meu noivado! — ela dá um enorme e pesado suspiro ao terminar a frase.
— E por eu ser expert nisso, você veio até mim? — falo, tirando risadas dela. O humor sempre foi algo que tirou um pouco do peso das nossas dores.

— É... E eu também queria que você fizesse aquele lance de ler as pessoas. Igual você fazia quando tinha 16 anos. — ela diz enquanto se senta na bancada.
— Não, eu não faço mais isso! — digo voltando a preparar a carne do meu jantar.
— Vai, Beauchamp! Eu preciso disso, e você é muito bom nisso. Até pensei que você seria psicólogo ou algo do tipo. — ela fala, dessa vez choramingando.
— Eu não quero ser xingado! — protesto.
— Eu não vou te xingar, prometo! — ela me convence.

— Heyoon... Faz tempo que eu não converso com você. Mas agora, você parece uma desesperada; você veio até a minha porta e pediu para que eu descubras como você está. Quando só você sabe isso! — continuo cozinhando enquanto converso com ela.
— Doeu! — ela leva a mão no peito em um gesto irônico — Doeu mas você tá certo, na verdade eu só queria falar com você porque pensei que me sentiria melhor.
— Não precisava terminar um noivado pra isso! — riu e percebo seu silêncio.
— Josh... — minha atenção se virou para ela e vi lágrimas escorrerem pelo seu rosto.
Por um único impulso, vou até ela e a abraço fazendo com que eu sinta lágrimas molharem meu ombro.

— Josh... Me diz, o que eu faço agora? — Ela pergunta ainda agarrada a mim.
— Yoon... Eu não sei, eu não faço ideia, mas eu estou aqui. Eu sempre vou estar ao seu lado!  — digo a tirando de perto de mim e segurando suas mãos. Um pequeno sorriso em meio ao choro foi dado por ela.

— Você não tem nenhum tipo de álcool aí não? — ela diz limpando suas lágrimas, me tirando risadas.
— Isso parece curar seus problemas, mas não cura! — afirmo.
— Mas me faz esquecer e é tudo o que preciso!
— Tem um vinho branco que usei em receita, está meio velho... — antes que eu termine, ela pula da bancada e vai até a geladeira.

[…]

— Aqui, almôndegas ao um molho especial e secreto! — deixo o prato no chão ao lado de Heyoon.
— Valeu! — sento ao lado dela e vejo ela apenas rodear a comida com o garfo.
— Ô Josh... E a Any? — ela perguntou, era óbvio que ela tinha que perguntar.
— A Any... A Any esteve aqui mais cedo, a Sophie tá meio doente e ela tava aqui cuidando dela, mas ela já levou a Sophie pra casa dela. — explico e logo após experimento a comida que preparei.

— Você ainda... — ela não concluiu sua frase, mas eu consigo compreender.
— Tá na cara assim? — pergunto dando pequenas risadas.
— Ah, Beauchamp... Ela volta! Ela é sua! — ela dá pequenos tapinhas no meu ombro.
— Será mesmo?
— Na real, quando vocês terminaram eu mandei mensagem pra ela também, mas ela nunca chegou a responder. Nunca mais falei com ela desde então. — ela explica. E eu não fazia ideia.

— Eu não sabia disso! Não sabia que vocês tinham perdido o contato.
— Sei lá, acho que ela só me via como amiga porque eu sou sua amiga, ou talvez ela estivesse brava e triste. Agora eu consigo entender ela! — ela desabafa diante a dor que agora ela sentia.
— Eu acho que talvez eu deva falar com o Luke, mas eu tenho medo. — ela deita sua cabeça no meu ombro.
— Claro que você está com medo, desde adolescente você é uma covarde! — riu de maneira irônica.
— Ah, ótimo! Eu sou covarde? Você ainda é apaixonado pela sua ex mulher e teve a oportunidade de beijar ela, você beijou? — Ela descola do meu ombro e se exalta.
—  Não. — eu admito.
— Vai beijar? — ela pergunta.
— Heyoon... — jogo a cabeça para trás, apoiando no sofá.

Era muito fácil pensar, desejar e até mesmo sonhar com isso; mas na prática nada é fácil.
Eu não sei ao certo quais seriam as consequências de tal ato, mas eu insisto em ser hipócrita. Eu digo a todos que é melhor se arrepender do que fez, do que se arrepender do que não fez.

Mas eu não consigo seguir esse meu conselho agora porque talvez as minhas consequências sejam machucar pessoas que eu amo, eu não quero isso!

Uma longa madrugada se passou, eu continuei ao lado da Heyoon que em alguns momentos liberou lágrimas. Divórcio, separação e medo foi toda a pauta da madrugada.
Pela primeira vez desde que Any foi embora, eu não me senti completamente perdido. A Heyoon, a garota que eu conheci colando na prova de física quando tínhamos 15 anos, está passando pela mesma dor que eu.

A Heyoon acabou dormindo ao meu lado, apoiei ela no sofá para que não caísse. Levantei e caminhei até a cozinha com os pratos em minhas mãos. Deixei os pratos sobre a mesa e vim até o quarto da Sophie, manti a luz apagada e andei até sua pequena cama.
Levo a cabeça ao travesseiro e me deito, encaro as estrelas brilhantes no teto. Um curto sorriso surgiu no meu rosto ao pensar na minha menina e na mãe dela.

Até quando eu serei obrigado a ficar assim? Talvez até o momento em que eu resolver falar com ela, ou até o momento que eu resolver recomeçar.
Recomeçar. Essa palavra não faz sentido para mim, é mesmo capaz você fazer algo tudo de novo sem o mínimo de saudades do antes?
Para haver realmente um recomeço é preciso pôr um ponto final em algo, e eu não quero. Eu não quero deixá-la ir, mas eu também não sei como fazê-la ficar a força.
A dor da dúvida continua.

𝗜 𝗦𝗧𝗜𝗟𝗟 𝗟𝗢𝗩𝗘 𝗬𝗢𝗨Onde histórias criam vida. Descubra agora