𝟬𝟬𝟳| Eu continuo sentindo.

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Josh B..

Não, não, não! Merda, isso é culpa minha. Eu não consigo cuidar dela direito. — suas mãos vão até sua cabeça como forma de preocupação e seu corpo vai de um lado para o outro. Como dói ver ela assim.

Por não aguentar vê-la assim, faço o que sempre fiz quando a via em momentos assim, puxo suas mãos de sua cabeça e trago seu corpo para perto do meu, unindo-os em um abraço.

Desculpa, desculpa, desculpa.. — suas palavras eram ditas com som baixo, embrulhado por um choro.
— Não, não se culpe Any. Iremos resolver isso juntos! — preciso esconder e ignorar tudo o que sinto para poder ajudar as pessoas que mais amo.

Essas palavras não conseguem sair da minha cabeça, a cena de Any se culpando sempre volta. Eu queria poder ter ficado com ela, poder ter dito todas as palavras para confortá-la.

Nesse momento, estou no quarto da Sophie, encarando as estrelas no teto que brilhavam ao escurecer. Sophie e eu colocamos essas estrelas da última vez que ela dormiu aqui, por conta do seu medo do escuro. Eu falei para ela que desta maneira as estrelas sempre cuidaram dela.

Onde foi que eu errei como pai? Eu cismei em repetir para Any que a culpa não era dela, que isso não estava sob nosso controle. Mas como humano, sou hipócrita. Não consigo acreditar em mim mesmo, não acredito que eu não poderia fazer nada para evitar isso.
É a minha filha, a minha filha que pode estar atordoada, com medo, com raiva e tristeza. E eu? Eu não posso fazer nada.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto, as estrelas que observam Sophie dormir agora me observavam chorar.
Provavelmente Sophie deve estar em seu suave sono, enquanto eu não consigo parar de pensar nela e eu aposto que Any se encontra na mesma situação que eu.

Acho que é isso que pais de verdade fazem, nunca tiram seus filhos da cabeça. Dedicam todos os momento de sua vida aos filhos.
Nunca imaginei ter que passar por isso, mas também nunca imaginei poder amar tanto alguém como amo aquela menina.
[...]

Meu corpo se levanta com um grande impulso, talvez por medo, mas logo repousa novamente sobre a cama da Sophie, o som do celular que me acordou continua tocando. Olhei de lado e foi possível ver a tela com o nome "Carol". A pessoa que me ajuda em tudo no restaurante. Tomo coragem para pegar o celular e atender a sua ligação.

— Oi, Fala! — posso ter soado grosso, mas são OITO da manhã. E inevitável.
— Você não vem trabalhar, Beauchamp? — seu tom era como o de uma mãe brava. Mãe.. Any.. Sophie. Meus pensamentos se voltaram a elas rapidamente.
— Não, eu não tô muito bem. Prefiro ficar aqui, amanhã eu vou! — eu prefiro ficar em casa porque eu sei que hoje estou zero produtivo.
— Eu posso ir cuidar de você! — Carol sugeriu, o que me trouxe lembranças à mente.
Desde que contei a ela sobre o meu divórcio, ela anda fazendo brincadeiras com duplo sentido, o que prefiro ignorar pelo bom trabalho que ela faz.

— Eu preciso descansar, cuida de tudo aí! — ignorar, é tudo o que posso fazer com a minha atual disposição.
— Certo. Bom sonhos Branca de Neve! — o celular é seguido por dois toques e é finalmente desligado.

Começar uma quarta-feira, com dor de cabeça, com os olhos ardendo e as costas doendo por dormir em uma cama infantil, não estava nos meus planos!
Quem sabe eu só não possa ficar aqui pelo resto do dia?!

Por mais que fosse minha vontade, eu não posso. Eu preciso ver como elas estão, nos meus planos agora estão: tomar banho... É.. por enquanto, só tomar banho tá ótimo, o resto eu vou resolvendo.

Minhas costas pareciam estar cobertas por flechas e minha cabeça parecia que um gigante havia brincado com ela. Eu estou um caco. Levanto com uma certa dificuldade e caminho em meio ao escuro do quarto até a porta. Quando abri foi possível ver toda a luz, o que fez meus olhos queimarem ainda mais.

Já no meu quarto eu desabotoei os botões de minha camisa sem muita cerimônia, jogo a peça de roupa por cima da cama. Tudo que eu quero agora é sentir a água cair sobre meu corpo. Ando até o banheiro e encosto minhas costas sobre a parede fria do box, tiro as peças que me restavam no corpo e deixo a água gelada cair sobre meu corpo. Por um breve momento a água levou tudo que havia em minha mente pelo ralo abaixo, mas não durou muito e as mesmas coisas voltaram para seu lugar.
[...]

Deitado no sofá, apenas com a toalha cobrindo a cintura abaixo, decido que agora é o momento que eu preciso saber como elas estavam.
Mando mensagem para Soares, em busca das respostas. Mandei um simples "Olá, Como passou a noite? Está melhor?" Assim não parece que minha noite foi péssima.
Eu só preciso de uma resposta, vamos lá Gabrielly, você já fez muito mais por mim. Me responda.

"Oii, eu estou melhor.
Desculpe, eu agi mal ontem."

O que ela queria dizer com "eu agi mal ontem"? Essa mulher sempre me deixa com mil e uma dúvidas. Mas só dela ter dito que estava melhor, uma pequena parte instaurou paz em meu ser.

"Não você não agiu, você
cuida da Sophie como ninguém,
você é a melhor mãe do mundo!
Não se cobre tanto."

Eu sei como é sufocante você se cobrar por tudo. Eu só quero privá-la de sofrimento, — de mais — sofrimento.

"É difícil, mas você torna
um pouco menos difícil. Obrigada."

É isso, não há solução para o nosso problema. O que nos resta é ficarmos juntos, porque se não nos ajudarmos, quem vai?
Eu queria poder tê-la de volta em minha vida, com ela, problemas gigantes se tornavam minúsculos assim que eu via o sorriso dela.

Larguei o celular em cima de meu corpo e deixei que meus pensamentos voassem.
Eu não posso continuar ignorando isso, eu continuo sentindo. As dúvidas foram preenchidas pouco a pouco, e agora já não tenho mais nenhuma. Todas as dúvidas que eu tinha sobre saber se eu ainda a amava, sumiram no momento em que a toquei para abraçá-la. O abraço que eu nunca deveria ter saído.

As coisas seriam mais fáceis se eu apenas me esquecer dela. Mas qual é a graça das coisas fáceis?

𝗜 𝗦𝗧𝗜𝗟𝗟 𝗟𝗢𝗩𝗘 𝗬𝗢𝗨Onde histórias criam vida. Descubra agora