𝟬𝟭𝟱| E se...

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Josh B..

[...]

— Porra Urrea, você não viu a mulher na minha sala não? Espero que você esteja nas suas últimas horas de vida para poder interromper isso! — me exalto com a voz baixa para que a Any não ouça.
— Uma mulher tudo bem, só pensei que iria ser outra, tipo a Carol ou a Lucy. Sei lá, é estranho ter a sua ex aqui! — ele fala tranquilo.
— Caralho! Fala baixo, você não ouviu a parte da Any estar na minha sala?! — seguro a gola de sua camisa.
— Tá, tá... Só pensei que você estava em outra! — ele fala próximo a mim.
— Não! Eu não estou em outra! Eu estou mais decidido do que nunca. Eu tenho muitos sentimentos pela Any, e era agora que esses sentimentos iriam fluir! — me exalto e afasto seu corpo do meu.
— Eu não sabia, foi mal... — ele falou e veio em minha direção e me depositou um abraço de lado. Por que ainda sou amigo desse cara?
[...]

— Tchau, Urrea! — digo empurrando seu corpo para fora.
— Ei!!! — ele protesta.
— Tchauzinho, Noah!

Finalmente consigo empurrar ele para fora e fechar a porta. Encosto as costas na parede e encaro o meu maior problema no momento. O peso de falar com ela é maior do que o de ter que empurrar um milhão de noah's juntos.

Solto minha respiração pesada uma última vez e caminho até o sofá. Eu tenho a opção de sentar na ponta do sofá, mas eu quero sentir ela perto, muito perto, tão perto a ponto de conseguir sentir seus batimentos cardíacos. Mas como isso agora é impossível eu apenas sento no meio do sofá, não tão perto mas sem uma distância gritante.
Olhei para ela e vi seus olhos focados na animação que passava, será mesmo que um filme de uma princesa no meio da neve é mais interessante que eu?

— Sobrou morangos na geladeira, você quer? — poderia ser um golpe baixo, mas duvido que ela negue.
Ela negou com a cabeça e fixou seus olhos novamente na televisão.

Merda, merda, merda, era meu único truque. Eu não posso deixar as coisas assim, eu não vou deixar as coisas irem ralo abaixo.
Meu peito parece pesar pelo desconforto de toda a situação, jogo minha cabeça para trás e respiro fundo tentando criar coragem de falar algo a mais.

— Você não acha melhor mudar de filme? — pergunto.
— Se você quiser, eu não ligo. — seu tom de voz era seco.
— Não... É... Assim... Você pode escolher um filme. - digo embaralhando a maioria das palavras.
— Ah, sei lá. Tanto faz. — ela diz. Por que ela tem que agir de maneira tão seca comigo?

Espera... Noah... Será que ela ouviu o que Noah falou? Tudo parece se revoltar contra mim e Gabrielly juntos, sempre que algo parece caminhar bem, algo - ou alguém - estraga.

—Você quer comer algo? — pergunto para ela, que no mesmo instante vira seu olhar para mim.
— Eu não sei, o que você tem? — ela volta a encarar a tv.
— Eu faço o que você quiser! — falo um pouco mais entusiasmado.
— Macarrão, serve? — ela pergunta.
— Ah, claro. Eu posso fazer com um molho branco, o que acha? — pergunto para ela e ela apenas concorda com a cabeça.

Meu ânimo havia aumentado, talvez ela não tenha ouvido nada, talvez era tudo paranóia da minha cabeça. Logo levanto e vou até a cozinha. Eu irei cozinhar para ela, como sempre fiz.
[...]

— Desculpa, eu cansei, preciso ir dormir com a Sophie. — Any diz após entrar na cozinha.
— Ah... Tudo bem. — eu digo  — ela saí e logo ouço seus passos seguindo pela escada.

Não estava tudo bem! Olho para toda a comida que eu já tenho preparada a minha frente, não era pela comida. Eu só queria tê-la por essa noite.

Caminho até a mesa com a panela repleta de comida em minhas mãos, coloco sobre a mesa e me sento no meu lugar de sempre. Encaro a mesa a qual eu já havia montado, encaro principalmente o lugar que seria da Any, o lugar que agora se encontra vazio.

Um milhão de possibilidades vêm à minha mente agora: E se eu e ela tivéssemos conversado? E se a Sophie estivesse totalmente bem? E se ela nunca tivesse gritado comigo? E se o Noah nunca tivesse entrado aqui? E se ainda estivéssemos juntos?

"E se..." Nada disso nunca irá passar de um "e se...". Me irrita pensar que existiu milhões de saídas para essas situações, mas a incerteza e o medo fez com que nada pudesse ser resolvido. Me irrita pensar que eu ainda poderia ter ela ao meu lado.

Respiro fundo, em busca de espantar todos esses pensamentos idiotas. Se fosse há alguns meses atrás estaríamos todos juntos na mesa, com Sophie conversando animada, com Any sempre segurando a minha mão e com todos nós felizes.

[...]

Fazia um considerável tempo que eu não dormia na minha própria cama após um banho relaxante, junto com a água meus problemas pareciam descer mas voltaram a minha cabeça assim que encostei no travesseiro. Fiquei pensando o que a mulher no quarto ao lado estava pensando sobre mim, fiquei pensando na Sophie, fiquei pensando sobre o filme da princesa da neve.

Eu tenho certeza que hoje será apenas mais um dia cuidando da Sophie, eu só quero que minha pequena fique bem logo mesmo que isso signifique Any bem mais distante.

Ainda com o mesmo moletom que eu dormi, saio do quarto e encaro a luminosidade da casa, observo os adesivos de borboleta colados na porta do quarto da minha pequena, eu preciso vê-la, ela é a única capaz de me fazer esquecer todos e qualquer problema.

Entro no quarto escuro e me deparo com Any dormindo ao lado da filha, caminho silenciosamente até elas e vejo o quão serenos seus rostos descansam.
Me agacho ao lado da cama e levo minha mão ao rosto da Sophie, meu polegar passa pela pele macia de sua bochecha e eu  deposito um suave beijo em seus cabelos cacheados.
É impossível eu sentir um amor tão grande quanto esse, eu posso machucar e decepcionar a todos mas não a ela!

𝗜 𝗦𝗧𝗜𝗟𝗟 𝗟𝗢𝗩𝗘 𝗬𝗢𝗨Where stories live. Discover now