𝟬𝟭𝟴| Mulher única.

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Josh B..

[…]

— Any, se cuida! — peço como um favor e logo consigo ouvir o barulho da chamada desligando.

Respiro fundo e vou até a minha cama, sento e volto a abotoar a minha camisa. Encaro minhas mãos e um movimento inevitável começa nelas, eu sinto raiva da mãe da Any, eu sinto raiva da maneira que ela trata a própria filha.
Eu só queria que Any se enxergasse como eu a enxergo; como a mulher mais linda de todas, como a mãe mais incrível e carinhosa do mundo, como a melhor companhia e como a mulher única que ela é! Dói tanto saber que minhas palavras não são o suficiente para mudar a sua cabeça, eu queria poder estar lá com ela.

Isso com certeza será o que vai tomar a minha mente pelo resto do dia, eu não me importo em passar o dia pensando em alguém tão especial como ela; só preferia pensar com amor e paixão, não com preocupação.

Desço para a sala, já pronto para sair e vejo Heyoon abrindo e fechando os armários da cozinha. Neste momento, a minha maior dúvida é: o que raios ela ainda está fazendo aqui?
Balanço as minhas chaves e consigo chamar a sua atenção com o barulho.

— Ah, oi! Você acordou e pelo visto vai sair, né?! — ela fala enquanto apoia seus braços na bancada.
— Eu vou visitar a minha mãe e vou pro restaurante, e você... — falo ainda com dúvidas.
— Eu... Então, eu meio que esqueci de falar... — ela para sua fala e caminha para próximo de mim — Eu não vou mais trabalhar! — um sorriso irônico saí de seu rosto.
— O que? Por que não? — questiono.
— Você sabe que eu trabalho junto com o Luke, né?! E... Ver ele agora não é uma boa! — ela fala sem graça.
— Eu entendo mas... O que isso tem haver com você estar na minha casa até agora?

— Então... Eu esqueci de dizer outra coisa... — dessa vez ela caminha até a sala e eu a sigo. — Eu combinei com o Luke que eu iria sair hoje da casa que morávamos.

Fico estático por alguns segundos após raciocinar o que a mulher sentada ao meu sofá quis dizer.

— Heyoon, não! Não! — antes que eu possa continuar, a coreana chega próximo de mim novamente. — Josh, calma. É temporário! — ela diz.
— Não é temporário, porque não vai ter tempo nenhum! Vaza! — a guio até a porta de saída.
— Por favor, por favor, você não lembra o quanto foi ruim quando você e a Any terminaram? Me ajuda, por favor! — ela grita enquanto eu tento empurrar a mesma para fora da minha casa.
— Heyoon... — paro de insistir após ouvir suas palavras. Eu já passei por essa dor, só que eu não tinha ninguém.
— Tá! Fica aí, mas é temporário! — eu sedo ao seu pedido.
— Obrigada, obrigada, obrigada! — ela dá pulos de alegria.
— Mais uma coisinha... Será que pode me dar uma carona, para eu pegar as minhas coisas?! — ela sorri enquanto fala.
— Vai logo, garota! Antes que eu te largue aqui. — caminho em direção a porta e a Heyoon me segue.
[…]

Encaro o prédio à minha frente, um prédio não tão bem cuidado. Faz um bom tempo que eu não venho na casa da minha mãe, mas eu também não sei o porquê dela insistir em continuar morando aqui! Já ofereci um milhão de opções mas ela continua negando todas.
Esqueço isso e entro para dentro do edifício, pelas escadas vou até o segundo andar e paro na porta de número 14.
Toco a campainha algumas vezes até que a porta é aberta e eu consigo enxergar a mulher loira a minha frente.

— Mãe, eu estava com tanta saudades! — beijo sua cabeça enquanto ela envolve meu corpo com o seu abraço.
— Meu filho, você parece tão magro; você anda se alimentando direito? — ela se afasta de mim e me olha da cabeça aos pés.
— Mãe, eu estou normal. — caminho junto a ela para dentro do apartamento.
— Se você diz. — ela parece não convencida.

— Como a senhora anda? — pergunto ao me sentar no sofá.
— Eu estou bem, tudo muito corrido por conta das festas na escola. — ela diz.
— Eu estou me referindo a senhora. Está se cuidando? — questiono.
— Ah, meu filho... É difícil, tenho muito trabalho. — ela se levanta e caminha para a cozinha.
— É difícil só pra quem vive sozinha, eu já te falei! Tem um milhão de opções de casas perto de mim, eu posso alugar ou até comprar uma pra senhora! — eu explico.
— Mas fica muito distante pra eu vir trabalhar, querido. — ela comenta enquanto movimenta uma chaleira.
— Por que a senhora não se aposenta? Ser coordenadora de creche não é tudo na vida! A senhora já pode viver em paz. — tento a convencer.
— Chá? — ela estende uma xícara para mim e eu pego.

— Josh, eu amo o que faço; eu amo aquelas crianças e aquele lugar. — ela caminha e puxa uma cadeira da mesa e se senta.
— Falando em crianças, como está a minha neta? — ela pergunta.
— A Sophie está indo, há alguns problemas com ela mas vai passar. — um suspiro pesado saí e então sento em uma cadeira na frente da minha mãe.
— Problemas? Que problemas? — ela exalta sua voz com um tom de preocupação.
— A diretora recomendou um psicólogo para Sophie, então descobrimos uma possível síndrome de limítrofe nela. Um medo crescente de abandono. E agora ela teve uma doença no estômago, mas ela está melhorando. — digo e tomo o último gole da bebida quente.
— Meu Deus, tadinha da minha pequena. Eu morro de saudades dela, você deveria trazer ela aqui mais vezes. — ela pega as duas xícaras e leva até a pia.
— E filho... E a... — ela parece receosa — A Any? — eu completo para ela.
— Sim, a Any? — ela questiona.
— A Any está bem, eu acho. — inclino minhas costas sobre a cadeira à procura de conforto.
— Vocês ainda se falam? — ela para de mexer nos utensílios e olha para mim.
— Um pouco, sei lá... — digo movimentando meus dedos sem parar.

— Podemos falar sobre a senhora agora! Mãe... Diabetes é algo sério, você tem que se cuidar. — vou até ela.
— Eu tento, mas é muita coisa! — ela reclama.
— Você tem pelo menos ido ao médico? — pergunto.
— Eu não estou doente! — ela declara.
— Diabetes é uma doença, sabia? — eu a refuto.
— Mãe... Eu pago plano de saúde para você, apenas vá! — eu a peço.
— Tudo bem, eu marcarei um check-up quando tiver tempo! — bem que falam que quando a idade chega, você volta a ser criança.

— Eu preciso ir! — eu caminho ao lado dela para a porta de saída — Eu irei passar aqui mais tarde e nós iremos almoçar no restaurante. — minha fala saí como uma ordem.
— Não precisa se incomodar, meu filho! Eu almoço qualquer besteirinha aqui. — ela vai até a estante e parece procurar algo ao revirar todos os cantos dessa estante.
— Não, você precisa se alimentar bem! Você vai e ponto final. — encerro o assunto.
— Aqui, leve para a minha neta! — ela estendeu uma nota de dinheiro.
— Não torne a sua neta uma mimada! — riu pelo seu gesto.
— É pra ela poder comprar algum doce ou bobeirinha de criança, e manda um beijo enorme da vovó! — ela leva a mão no peito, como um ato fofo.
— Certo! — me aproximo dela e passo meus braços por ela e logo sinto seus braços me apertarem.
— Eu te amo, mãe. — deposito um beijo na cabeça e logo saio.

[…]

Dito e feito, trouxe minha mãe para almoçar e fiquei no restaurante para trabalhar. Meus olhos se mantêm fixos na tela do computador a minha frente, muitos descarregamentos e muitas contas. Meus olhos saem da tela após ouvir meu celular tocar.

— Oi, Bailey. — digo após atender a ligação.
— Que animação, em! Quer vir aqui em casa mais tarde? — ele ironiza.
— Não, valeu. Mais tarde eu vou descansar, há tempos eu não consigo descansar de verdade. — dou impulso aos meus pés e faço a cadeira girar.
— Cara, você parece quebrado. O Noah me contou sobre a Any. — o Noah é mais fofoqueiro do que eu pensei.
— É... Não quero falar sobre isso, eu tenho que trabalhar! — exclamo.
— Ah, ok então. Boa sorte! — ele desliga o telefone após isso.

As últimas noites foram muito complicadas, eu estou exausto há dias. Volto meu corpo novamente ao trabalho, mas antes que eu possa voltar a fazer qualquer coisa o meu cérebro se volta para a Any. Como será que ela está agora? Será que ela está melhor? Será que ela pensa em mim, tanto quanto eu penso nela?

𝗜 𝗦𝗧𝗜𝗟𝗟 𝗟𝗢𝗩𝗘 𝗬𝗢𝗨Où les histoires vivent. Découvrez maintenant