𝟬𝟬𝟲| Sentimentos ruins.

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Josh B..

Eu faço de tudo pela minha filha, não é que eu queira torná-la uma criança mimada, eu apenas amo ela. Diferente de outros pais, eu quero manter minha filha perto de mim, e se isso significa trabalhar e tomar conta dela ao mesmo tempo. Eu faço isso.

E eu ainda posso ver a Any, mesmo com medo, — não sei exatamente do que — eu quero vê-la. Acho que é isso que estou sentindo agora, medo. Medo de ver ela tão bem sem mim.

Eu preciso focar no trabalho, não se faz dinheiro com lágrimas, não é mesmo?! Com isso, afasto meus pensamentos e volto ao trabalho.

[...]

— Senhor? — um funcionário bate e em seguida abre a porta.
— Eu já disse, eu não sou Jesus para você me chamar de senhor!
— Ha ha, claro, desculpe. — por que funcionários têm tanto medo de seus patrões?!
— A sua esposa chegou com sua filha! — mal sabe ele, queria que todos ainda se referirem a ela assim para mim.
— Pode pedir para que elas venham, por favor.
Assim ele fez, logo era possível ver minha pequena correndo até mim.

— Princesa! — me ajoelho no chão para que o nosso abraço se encaixe.
— PAPAI! PAPAI! PAPAI! — gritos vinham de Sophie presa em meu abraço, como amo essa menina!

Me levanto com Sophie em meus braços, e me deparo com a mulher em que eu tanto penso encostada na porta enquanto segura a mochila da filha, em seu rosto havia um sorriso sem graça.

— Aqui está a mochila da Sophie, eu esqueci de dizer que ela tem consulta no psicólogo hoje, às quatro. — ela parece não querer falar muito comigo.
— Ah, certo. Eu levo ela, só me dizer onde é!
— O cartão com o endereço tá na mochila. — ela apenas se despediu de Sophie, deixou a mochila na cadeira e saiu. Sem trocar mais nem uma palavra comigo, algo que talvez me machuque.

— Ah, Josh, muito obrigada! — ela volta apenas para me dizer isso e em seguida vai realmente embora, parecem pequenas palavras mas significa muito pra mim.

Parecíamos estranhos, agindo como estranhos, quando não somos estranhos. Vivemos tanta coisa mas tudo parecia se esquecer a partir do momento em que nos encontramos.

Deixo tudo de lado para começar a cuidar da minha pequena, sento de volta a minha cadeira, só que agora com Sophie em meu colo.

— Olha meu amor, o papai tem que resolver umas coisinhas. Depois que o papai fizer o que tem pra fazer nós dois brincamos! — por mais que minha vontade fosse ficar com ela pelo resto do dia, eu preciso terminar alguns pedidos de bebidas.
— Tudo bem papai, eu só quero ficar com você! — eu tenho a melhor filha do mundo!

Me aproximo da mesa e entregue um bloco de papel e uma caneta a Sophie e então continuo o que tenho pra terminar.

— Papai, como é o psitocologo'? — Sophie parou com seus desenhos e levou suas mãos ao meu rosto, o que me fez parar com o que eu fazia.
— Pequena, se chama psicólogo. Lá você vai conversar com o tio e responder as perguntas dele. — explico a minha garota.
— Eu tô com medo papai, a Laura que estuda comigo disse que psicólogo é coisa de gente louca, aí riram disso. — como eu queria poder proteger ela de tudo nesse mundo.
— Não é coisa de louco, todos devem ir ao psicólogo, ele é o médico que cuida do nosso cérebro.
— Ainda tenho medo. — a maneira que ela fala isso me deixa com o coração apertado.
— O papai vai ficar o tempo inteiro com você, eu prometo!
— De dedinho?
— De dedinho!

Finalizo o que tenho pra fazer o mais rápido possível para poder ficar com minha garota.

— Olha papai, desenhei eu, você, a mamãe e o azul. — é difícil compreender todos os desenhos de Sophie, mas aos meus olhos eram todos lindos.
— Azul? Quem é azul, minha princesa?
— É o nosso cachorro, o cachorro que você vai me dar!
— Espertinha você né! — doía ver que Sophie ainda nos enxergava como uma família unida.
[...]

Estamos em frente ao consultório, eu estou tentando convencer Sophie que não há medo nenhum.

— Vamos meu amor, está tudo bem! — tento mais uma vez pegá-la da cadeirinha, mas ela mexe todo o seu corpo para que eu não consiga.
— Sophie! Nós fizemos uma promessa! — minhas palavras parecem fazê-la ceder e então consigo finalmente a tirar do carro.

Não precisamos esperar, então apenas seguimos para a sala após termos falado com a recepcionista, que por um momento achei que poderia estar dando em cima de mim, mas deve ter sido apenas impressão minha.

— Olá! — ao abrir a porta me deparo com um cara de estatura baixa que segurava uma boneca em suas mãos.
— Oh, entre, entre! — ele me parece bem receptivo. Sophie estava com seu rosto enterrado em minhas pernas por conta de sua vergonha e medo.

— Você deve ser a Sophie! Acertei? — suas palavras se direcionam a Sophie que permanecia grudada em mim.
— Meu amor, responde o psicólogo! — após eu ter dito isso, ela desgruda seu corpo de mim e acena para o psicológico e logo volta a se esconder.
[...]

A consulta demorou mais do que o esperado, ele me disse que não podia confirmar nada por agora. Mas se suas suspeitas estiverem certas, o medo de abandono que Sophie pode ter, pode se transformar em um Transtorno de personalidade limítrofe (TPL), o que poderia afetar ainda mais a minha pequena. Eu só queria poder pegar todos os sentimentos ruins que ela tem para mim.

Tudo o que me restava era ir deixar Sophie em casa e conversar com Any, teremos nossa primeira conversa de verdade e eu preferia que não fosse algo que doesse tanto.

Vendo Sophie tão feliz assim como ela está agora, pulando e saltitando ao meu lado, ninguém nunca imaginaria que ela passasse por algo assim.

— Vamos! Vamos! Vamos! Tenho que te levar pra sua mãe, se não ela me mata! — o psicólogo indicou que eu tratasse Sophie normalmente, como se nada tivesse sido dito. É difícil mas é preciso.
— Vamos papai! Você vai ficar lá comigo? — esse tipo de pergunta acaba com o meu coração.
— Não, mas eu vou ficar lá um pouquinho pra conversar com a sua mãe.
— Iiiiih, vocês vão se beijar! — o que ela queria dizer com isso?
— Sophie! Quem te ensinou isso?
— O tio Bai falou que vocês só ficam juntos pra se beijar! — Bailey, eu ainda te mato.
— O tio Bai' é burro!
[...]

O caminho desta vez foi repleto de risadas e cantoria, eu amo a felicidade da minha filha mais que tudo!
Já estávamos na frente do apartamento de Any, mas preciso esperar que Sophie termine seu picolé, vai que Any resolve me matar no por isso?!

De mãos dadas entramos no edifício e Sophie, como conhecia todos, cumprimentou todos. Eu havia criado uma filha muito educada!
Já no elevador, nós dois tiramos muitas fotos no espelho, desejo de Sophie.

— Olá! — digo após Any já ter aberto a porta para nós. Sophie pulou nos braços da mãe, era incrível ver o quão parecidas eram.
— Vocês demoraram! Como foi no psicólogo? — como dizer tudo aquilo a ela?!
— Então.. Precisamos conversar sobre isso. A sós.
— Ah, certo. Sophie você ouviu, vai lá no seu quarto tirar esse casaco e esse sapato, meu amor! — Any ordena a Sophie, e muito compreensível Sophie vem até mim e pede para que eu abaixe, assim faço e ela deposita um beijo em minha bochecha. Agarro ela e deposito inúmeros beijos nela, então ela vai correndo para dentro de casa.

— Vem, entra!
— Any..
— Oi Josh, me fala, o que é de tão sério? O que minha filha tem? — sua angústia era perceptível.
— O psicólogo falou que a Sophie pode ter medo de abandono e que isso pode piorar, gerando um transtorno de personalidade limítrofe, o que afetaria muito Sophie.
— Não, não, não! Merda, isso é culpa minha. Eu não consigo cuidar dela direito. — suas mãos vão até sua cabeça como forma de preocupação e seu corpo vai de um lado para o outro. Como dói ver ela assim.

Por não aguentar vê-la assim, faço o que sempre fiz quando a via em momentos assim, puxo suas mãos de sua cabeça e trago seu corpo para perto do meu, unindo—os em um abraço.

— Desculpa, desculpa, desculpa.. — suas palavras eram ditas com som baixo, embrulhado por um choro.
— Não, não se culpe Any. Iremos resolver isso juntos! — preciso esconder e ignorar tudo o que sinto para poder ajudar as pessoas que mais amo.

Acho que nenhum de nós dois teve coragem para encerrar esse abraço, olhar um para o outro naquele momento não era possível. Seu choro se escondia em mim.
Ainda no abraço, sinto um pequeno corpo embrulhar nossas pernas, Sophie acompanhou nosso abraço, mas por motivos bem diferentes.

𝗜 𝗦𝗧𝗜𝗟𝗟 𝗟𝗢𝗩𝗘 𝗬𝗢𝗨Where stories live. Discover now