𝟎𝟏. 𝐎 𝐝𝐢𝐚 𝐪𝐮𝐞 𝐭𝐞 𝐩𝐞𝐫𝐝𝐢 𝐞 𝐫𝐞𝐧𝐚𝐬𝐜𝐢.

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Quando Jade era apenas um bebê, seus pais vieram a falecer em um trágico acidente de carruagem, deixando a pequena filha sob os cuidados de seu irmão mais velho, Austin, que à época contava com apenas 21 anos. Criar a garotinha não se mostrou uma tarefa complicada, pelo contrário, cuidar dela assemelhou-se a zelar por um anjo. Jade mostrava-se uma criança educada, obediente e reservada, possivelmente até demais, uma vez que ela nunca conseguiu se entrosar plenamente com outras pessoas além de seu irmão. Naturalmente, apesar de a menina ter representado uma criança de fácil convívio, isso não implicou em circunstâncias simples. Austin teve de trabalhar em dois empregos para garantir o sustento tanto dele quanto de sua irmãzinha. Graças a sua dedicação incansável, eles foram capazes de levar uma vida serena. No entanto, esse cenário de tranquilidade desfez-se no ano de 845, quando a Muralha Maria foi devastada pelo Titã Colossal e invadida por outros titãs.

Naquela época, Jade contava com 11 anos, o que facilitou consideravelmente sua fuga ao lado de seu irmão, que nunca soltou sua mão, sempre a segurando com firmeza e atenção redobrada para evitar serem apanhados por alguma criatura titânica. Sobressaltada com os acontecimentos, Jade não dispôs de um instante sequer para tomar fôlego, o que resultou em seu esgotamento e falta de ar, levando-a a tropeçar e cair. Isso ocasionou em Austin soltando a mão da irmã por um breve instante. Ao perceber a situação, o Fleury mais velho voltou apressadamente até o local onde Jade estava prostrada, notando com desespero a aproximação de um titã em direção à menina.

Movido pela preocupação com o destino de sua irmã caçula, Austin correu com determinação, conseguindo alcançar Jade e erguê-la em seus braços.

- Jade! - exclamou ele, sacudindo-a pelos ombros.

- Austin... - balbuciou a mais nova, com os olhos arregalados e lágrimas os enchendo.

- Escute-me atentamente... Fuja. Eu vou distraí-lo. - falou Austin, apontando para o titã que se aproximava vagarosamente na direção deles.

- Mas... Austin! Você não está pensando em se sacrificar, está!?

- Tudo ficará bem, vamos nos reencontrar. Apenas quero que você vá até o barco e permaneça lá, em segurança. - murmurou ele, abraçando Jade com firmeza.

Apesar de sua tenra idade, Jade compreendia que seu irmão não voltaria e que, a partir daquele dia, estaria sozinha. Mesmo sentindo tristeza ao entender que aquela seria a última vez que veria Austin, a jovem depositou um beijo em sua testa e correu dali no mesmo instante, lançando olhares ocasionais para trás. Ela percebeu que seu irmão permanecia imóvel e a observava, enquanto o titã se aproximava lentamente.

[...]

No galpão onde os refugiados da Muralha Maria se encontravam, Jade conseguiu um pequeno cobertor e acomodou-se no canto daquele amplo espaço. Sentindo-se solitária e chorando todas as noites devido à saudade de Austin, a menina experimentava uma vontade intensa de estar morta. Observava ao seu redor e percebia que era a única pessoa solitária naquele local, uma vez que todos os outros estavam acompanhados de colegas e familiares, o que a enchia de inveja, de certa forma. "As coisas seriam mais fáceis se eu não fosse medrosa...", pensava, abraçando as próprias pernas e ocultando o rosto entre os joelhos.

Dias se passaram desde a aparição dos Titãs Colossal e Couraçado, e as condições para os desalojados estavam agravando cada vez mais. Ao contrário das demais pessoas, Jade não tinha apetite, nem vontade de beber água ou mesmo de dormir, resultando em uma perda drástica de peso e em sua saúde deteriorando a cada dia. Seus olhos estavam amarelados, a pele mais pálida que o usual, mal conseguia se mover ou falar devido à desidratação. As pessoas observavam aquilo e sentiam compaixão, afinal, ela estava só no mundo. Jade não tinha família, amigos ou pessoas que se importassem o suficiente para envolvê-la em um abraço.

❛ 𝐓𝐇𝐄 𝐃𝐄𝐕𝐈𝐋 𝐈𝐍 𝐃𝐈𝐒𝐆𝐔𝐈𝐒𝐄﹔₍ 𝕽𝖊𝖎𝖓𝖊𝖗 𝕭𝖗𝖆𝖚𝖓 ₎.Where stories live. Discover now