Paraguai 🍁
Bebi um gole do meu whisky apenas observando o movimento do baile.
Quem vê meu morro assim cheio e movimentado, nem imagina o sufoco que foi para manter tudo em ordem.
Tudo começou a 15 anos atrás. Meus pais haviam sido alvos de bala perdida em um tiroteio. Acabei ficando sozinho, não tinha parente, nem grana e fui me virando com uns bicos que aparecia. Tudo aconteceu no mesmo tempo que em a tia do Marcola morreu.
Nós somos amigos desde esse tempo e trabalhamos juntos. No começo, não fazia parte do crime, era só umas vendas de peças de carros, coisa simples. Depois decidimos entrar para o tráfico e estamos até hoje como dono e sub do morro.
"Hoje no baile da Penha, o que vai rolar?
Só putaria pra essas menina dançar
Os amigos já tão cada um com a sua missão
Traz o lança que eu já 'tô com o meu copão na mão..."A música tocava alto e todo mundo estava animado. Fazia apenas meia hora de baile e todo mundo já estava embriagado.
Marcola: Tá vendo? Eu falei que ia render pra caralho, porra. - chegou perto de mim e falou. - Só gente bonita curtinho e se drogando. Ruim para eles e ótimo para nós. - riu.
MV: Oh, Paraguai. - me chamou e o encarei. - Tem duas negas aí com mó cara de patricinha querendo subir.
Marcola: Libera, MV, libera. Hoje o baile da Penha é de todos! - falou e levantei a sobrancelha. - Que, meu irmãozinho? Tô errado? - neguei com a cabeça. - Tá mudo? - não respondi.
Alguns minutos depois observei duas caras novas entrarem na quadra.
Marcola: Que isso, moleque? Que gostosas! - comentou.
Paraguai: Mais respeito com as novatas, Zé ruela. - bati na cabeça dele. - E respeita tua fiel.
Marcola: A Raiana não é nada minha.
Paraguai: Então manda esse papo para ela, porque a mulher tá espalhando para a favela toda que é tua fiel. - bati no peito dele. - Segure esse B.O.
Marcola: Brinca muito. - riu.
Sai de perto dele, entrando no meio das pessoas que estavam no camarote. Quem colocou tanta gente aqui?
Desci as escadas e andei na direção no barzinho onde o K4, um dos meus vapores de confiança, estava.
Paraguai: Tenho uma missão para você. - ele me encarou.
K4: Manda o papo, patrão.
Paraguai: Está vendo aquelas duas ali. - apontei para as patricinhas. - Vigia elas e não deixa marginal nenhum encostar na maldade nelas.
K4: Pode deixar. - bebeu um gole da cerveja. - Tu conhece essas mina de onde, Paraguai?
Paraguai: Não conheço. - me olhou sem entender. - Nunca vi elas na minha vida, mas quero que voltem sempre. - ele riu.
Sai de perto e entrei na multidão. Muitas mulheres estavam se esfregando em mim e tentei me afastar de todas. Odeio isso.
- Olha por onde anda! - escutei alguém dizer.
Me virei para trás e encarei a patricinha loira.
Viajei tanto no olhar dela, que acabei esquecendo da multidão ao nosso redor.
- Presta mais atenção. - disse. - Olhe para.. o seu redor. - balancei a cabeça.
De repente, um barulho de fogos ecoou. As duas mulheres, a loira e a ruiva, me olharam assustadas, já que todos começaram a correr.
- Invasão! - começaram a gritar e a correr.
As duas haviam ficado paradas no meio da quadra e respirei fundo arrastando as duas para um quartinho que tinha nos fundos da quadra.
Logo os barulhos de tiros ficaram altos. Coloquei as duas no quartinho e entrei fechando a porta.
- Falei que era perigoso, Gabriela! Olha onde estamos. - a ruiva falou, com uma voz meio estranha. - Mio Dio. - passou a mão no rosto.
Gabi: Não vai acontecer nada, Serena, fica calma. - abraçou ela e me olhou. - Quem é você?
Marcola: Onde tu tá, porra? - falou no meu rádio. - É os caras do BOPE. - a loira me encarou assustada.
Paraguai: Tô indo, porra. Segura a onda. - respondi. - E vocês duas, não saiam daqui. - as encarei. - Se quiserem viver.
Sai do quarto e tranquei com uma das chaves. A quadra tava limpa, não tinha mais ninguém por ali. Corri na direção de um dos meus barracos e fui me equipar. Peguei tudo que precisava.
Filhos da puta! Estragaram a onda de todo mundo. Vão pagar muito caro por isso.
Entrei em alguns becos e acabei me batendo com o Marcola e o K4.
Marcola: Tá dando uma de herói agora? - olhei para ele sem entender. - MV disse que te viu com as nega da pista. Qual foi?
Paraguai: Queria que eu deixasse elas lá correndo perigo? Tá na cara que as duas nunca pisaram aqui.
Marcola: Mas o lema é salvar os moradores, não gente da zs. - levantei uma sobrancelha.
Paraguai: Nosso lema é salvar qualquer um que não esteja contra nós. - falei sério.
Dei meia volta e fui para a trocação direta. Não me importava se elas eram ou não moradoras daqui, não poderia deixar elas desprotegidas, não sou essa pessoa.
E nunca seria com elas.
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Sintonia
RomanceSerá que os opostos se atraem, ou apenas os dispostos se ligam? Gabriela é uma mulher que mora na Zona Sul do RJ, junto com sua amiga, Serena, vão para um baile apenas para se divertirem. Porém, mal elas sabiam que suas vidas iriam mudar a partir de...