Capítulo 02

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Paraguai 🍁

Bebi um gole do meu whisky apenas observando o movimento do baile.

Quem vê meu morro assim cheio e movimentado, nem imagina o sufoco que foi para manter tudo em ordem.

Tudo começou a 15 anos atrás. Meus pais haviam sido alvos de bala perdida em um tiroteio. Acabei ficando sozinho, não tinha parente, nem grana e fui me virando com uns bicos que aparecia. Tudo aconteceu no mesmo tempo que em a tia do Marcola morreu.

Nós somos amigos desde esse tempo e trabalhamos juntos. No começo, não fazia parte do crime, era só umas vendas de peças de carros, coisa simples. Depois decidimos entrar para o tráfico e estamos até hoje como dono e sub do morro.

"Hoje no baile da Penha, o que vai rolar?
Só putaria pra essas menina dançar
Os amigos já tão cada um com a sua missão
Traz o lança que eu já 'tô com o meu copão na mão..."

A música tocava alto e todo mundo estava animado. Fazia apenas meia hora de baile e todo mundo já estava embriagado.

Marcola: Tá vendo? Eu falei que ia render pra caralho, porra. - chegou perto de mim e falou. - Só gente bonita curtinho e se drogando. Ruim para eles e ótimo para nós. - riu.

MV: Oh, Paraguai. - me chamou e o encarei. - Tem duas negas aí com mó cara de patricinha querendo subir.

Marcola: Libera, MV, libera. Hoje o baile da Penha é de todos! - falou e levantei a sobrancelha. - Que, meu irmãozinho? Tô errado? - neguei com a cabeça. - Tá mudo? - não respondi.

Alguns minutos depois observei duas caras novas entrarem na quadra.

Marcola: Que isso, moleque? Que gostosas! - comentou.

Paraguai: Mais respeito com as novatas, Zé ruela. - bati na cabeça dele. - E respeita tua fiel.

Marcola: A Raiana não é nada minha.

Paraguai: Então manda esse papo para ela, porque a mulher tá espalhando para a favela toda que é tua fiel. - bati no peito dele. - Segure esse B.O.

Marcola: Brinca muito. - riu.

Sai de perto dele, entrando no meio das pessoas que estavam no camarote. Quem colocou tanta gente aqui?

Desci as escadas e andei na direção no barzinho onde o K4, um dos meus vapores de confiança, estava.

Paraguai: Tenho uma missão para você. - ele me encarou.

K4: Manda o papo, patrão.

Paraguai: Está vendo aquelas duas ali. - apontei para as patricinhas. - Vigia elas e não deixa marginal nenhum encostar na maldade nelas.

K4: Pode deixar. - bebeu um gole da cerveja. - Tu conhece essas mina de onde, Paraguai?

Paraguai: Não conheço. - me olhou sem entender. - Nunca vi elas na minha vida, mas quero que voltem sempre. - ele riu.

Sai de perto e entrei na multidão. Muitas mulheres estavam se esfregando em mim e tentei me afastar de todas. Odeio isso.

- Olha por onde anda! - escutei alguém dizer.

Me virei para trás e encarei a patricinha loira.

Viajei tanto no olhar dela, que acabei esquecendo da multidão ao nosso redor.

- Presta mais atenção. - disse. - Olhe para.. o seu redor. - balancei a cabeça.

De repente, um barulho de fogos ecoou. As duas mulheres, a loira e a ruiva, me olharam assustadas, já que todos começaram a correr.

- Invasão! - começaram a gritar e a correr.

As duas haviam ficado paradas no meio da quadra e respirei fundo arrastando as duas para um quartinho que tinha nos fundos da quadra.

Logo os barulhos de tiros ficaram altos. Coloquei as duas no quartinho e entrei fechando a porta.

- Falei que era perigoso, Gabriela! Olha onde estamos. - a ruiva falou, com uma voz meio estranha. - Mio Dio. - passou a mão no rosto.

Gabi: Não vai acontecer nada, Serena, fica calma. - abraçou ela e me olhou. - Quem é você?

Marcola: Onde tu tá, porra? - falou no meu rádio. - É os caras do BOPE. - a loira me encarou assustada.

Paraguai: Tô indo, porra. Segura a onda. - respondi. - E vocês duas, não saiam daqui. - as encarei. - Se quiserem viver.

Sai do quarto e tranquei com uma das chaves. A quadra tava limpa, não tinha mais ninguém por ali. Corri na direção de um dos meus barracos e fui me equipar. Peguei tudo que precisava.

Filhos da puta! Estragaram a onda de todo mundo. Vão pagar muito caro por isso.

Entrei em alguns becos e acabei me batendo com o Marcola e o K4.

Marcola: Tá dando uma de herói agora? - olhei para ele sem entender. - MV disse que te viu com as nega da pista. Qual foi?

Paraguai: Queria que eu deixasse elas lá correndo perigo? Tá na cara que as duas nunca pisaram aqui.

Marcola: Mas o lema é salvar os moradores, não gente da zs. - levantei uma sobrancelha.

Paraguai: Nosso lema é salvar qualquer um que não esteja contra nós. - falei sério.

Dei meia volta e fui para a trocação direta. Não me importava se elas eram ou não moradoras daqui, não poderia deixar elas desprotegidas, não sou essa pessoa.

E nunca seria com elas.

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Sintonia Where stories live. Discover now