Capítulo 06

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Paraguai 🍁

Me encostei na parede e cruzei os braços, parei para observar os menores que querem entrar para o crime atirar. Marcola estava supervisionando eles com o MV.

Neguei com a cabeça quando vi que uns estavam segurando a arma do errado, uns atiraram errado no alvo e outros não sabiam nem destravar a arma.

Mas havia um ali que se destacou. Destravou bem a arma, mirou e atirou no alvo. E fez isso até acabarem as balas.

Ele parecia comigo e devia ter a mesma idade que a minha quando entrei, se não, ele mais mais velho pouca coisa. A aparência dele também me lembrava. Alto, magro e já tinha tatuagens pelo corpo.

MV: Patrão. - me encarou.

Os meninos escutaram e na hora me encararam com medo, somente aquele moleque me cumprimentou com um aceno de cabeça. Olhei para ele e fiz o mesmo gesto.

Marcola: Voltem ao trabalho. - ordenou e os moleques pararam de me olhar, voltando a atitar. - Tá fazendo o que por aqui? - se aproximou de mim.

Paraguai: Apenas quero conhecer os novos recrutas. - continuei na mesma pose e ele suspirou. - Esses foram os melhores que encontrou?

Marcola: Ninguém está querendo mais entrar pra essa vida, Paraguai, se liga. Os tempos mudaram e os moleques estão com a cabeça diferente. A maioria quer tentar na música, no futebol ou ir pra outras cidades pra trabalhar.

Paraguai: E estão certos. - ele negou com a cabeça.

Marcola: Estamos ficando sem força. A maioria dos caras estão querendo se aposentar ou meter o pé do bagulho.

Paraguai: Ninguém vai meter o pé, todos sabem que só saem em saco preto.

Marcola: É, alguns ainda sabem disso, mas você afrouxou. - o olhei. - Pegou leve com alguns que quiseram sair e agora todos estão achando que será assim com eles. - desviei o olhar para melhor recruta que tinha.

Paraguai: Quem é o menor? - perguntei e ele olhou também para o menino.

Marcola: Rafael Gomes, tem 17 anos, vulgo RF. - me olhou, mas não o olhei. - O pai abandou e a mãe tá doente... com câncer. O menor quer entrar no intuito de pagar um tratamento pra ela.

Paraguai: Ele tá dentro. - negou com a cabeça e riu.

Marcola: Ainda falta mais algumas fases, Paraguai, temos que ver que o menor resiste.

Paraguai: Ele está dentro, Marco. - o encarei.

••••••••••••••••

Sai e tranquei minha salinha. Estavam ali apenas os menores que fazem a vigia da noite e os que fazem o trabalho noturno. Cumprimentei eles e sai da boca.

Fui descendo o morro andando mesmo, até escutar alguém me chamar.

RF: Paraguai. - virei para trás e encarei o moleque. - Posso falar com o senhor? - ri.

Paraguai: Senhor tá no céu, pivete. Me chama de Paraguai mesmo. - ele assentiu. - Solta o verbo.

RF: Porque eu já estou dentro? Nem passei para a segunda fase, os outros moleques ainda estão lá. - suspirei.

Me sentei na calçada da casa de algum morador e chamei ele para sentar também.

Paraguai: Eu sei o que tá acontecendo contigo, na tua vida. - ele engoliu o seco e olhou para o chão. - Tua força de vontade te fez se destacar em meio aos outros.

RF: Não tive muita escolha.

Paraguai: Nem eu, pivete. Eu tinha tua idade quando entrei e também foi por necessidade, entendo bem o que tu tá passando. A vida nem sempre vai ser boa contigo, ela vai te dar umas rasteiras, mas tu é quem vai se decidir se vai querer permanecer no chão ou se reerguer. O que tu quer fazer pela tua mãe é foda e o cara lá de cima vai te recompensar.

RF: Eu.. queria que ela tivesse orgulho de mim. Tentei procurar um trabalho honesto, mas todo mundo virou a cara pra mim. - ele me olhou. - Tô ligado que não vai ter mais como eu sair, mas é para o bem dela.

Paraguai: Fica mec, de quiser ir depois e conseguir algo melhor, eu te libero. - me olhou surpreso.

RF: É sério? Caralho, Paraguai. - sorriu e ri também.

Paraguai: Mas não comenta isso com ninguém, beleza? Fica só entre nós. - ele assentiu.

RF: Valeu, pô. Agora entendi o motivo de tu ser amado pelo morro. Tu é pica, porra.

Paraguai: Eu tento. - riu. - Agora vai pra casa, vai. Tá tarde pra tu ficar andando pela rua.

RF: Ih, qual foi? Daqui a alguns meses já vou ser maior de idade. - me levantei.

Paraguai: Mas ainda não é. - puxei ele pelo braço. - Mete o pé, rapa. - empurrei ele de leve e riu.

RF: Valeu, Paraguai. Isso vai significar muito pra mim.

Paraguai: Que nada, moleque. Já tive na sua pele. - balançou a cabeça. - Tu ainda estuda?

RF: Tô no segundo ano, atrasei uma série, mas depois que começar o trabalho, eu vou parar de ir. - neguei com a cabeça. - Ué, não vou ter tempo pra estudar.

Paraguai: Mas vai terminar os estudos. Eu não terminei, nem o Marcola e não desejo isso pra ninguém. A gente organiza, tu estuda de manhã e trabalha a tarde, pra tudo tem um jeito, mas tu vai terminar.

RF: Beleza então.

Paraguai: E só quero nota boa, hein.

RF: Ai já é demais, Paraguai.

Paraguai: Não estou pedindo nenhum sacrifício. - ele suspirou fundo. - Fé!

RF: Fé!

Me virei de costas e segui meu rumo até minha humilde residência.

Não sei o motivo, mas senti necessidade em ajudar esse garoto. Eu me vi nele, naquele olhar perdido e na angústia de não saber o que fazer.

Porra, eu sou o dono desse morro, tenho que dar suporte a todos. E não seria diferente com esse moleque.

E mal sabia eu, que mais tarde, viraria um ótimo aliado.

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Rafael Gomes
17 anos
Vulgo: RF

Rafael Gomes17 anosVulgo: RF

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