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Capítulo 3

    Yibo

    Não vou olhar para trás,

    Não vou chorar.

    Não vou nem querer saber por quê.

    Romeo’s Quest

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    O motor da caminhonete amarela enferrujada de 1998 de Qiren rugiu como se fosse explodir quando ele parou na estação de trem. O lugar estava lotado de famílias viajando, pessoas se abraçando, chorando e rindo. Pessoas mergulhando na arte da conexão humana.

    Tudo aquilo me deixava desconfortável.

    Fiquei sentado em cima da minha mala com a caixa de madeira de  Haiukan  no colo. Passando os dedos pelo cabelo, esperava evitar as mesmas conexões que o resto do mundo parecia buscar.

    Eu estava derretendo dentro da calça preta, , e o ar da noite quente de Wisconsin subia indesejavelmente por minhas pernas. Eu estava morrendo de calor mesmo tarde da noite, e não tinha pensado que teria de esperar mais de uma hora para Qiren me pegar. Devia ter imaginado. Às vezes me perguntava se um dia eu ia aprender.

    Esperei Qiren se aproximar do meio-fio. Seu pneu dianteiro esmagou uma garrafa de água vazia. Vi como a garrafa de plástico tremeu sob a pressão da roda e como a tampa saiu voando pela calçada, caindo no meu pé. Levantando-me da mala  vintage que mamãe tinha me dado no meu aniversário de 16 anos, apertei o botão e puxei a alça para cima, levando a mala até a caminhonete.

    Céus, o carro precisava ser tão barulhento?

    Qiren saltou do carro e foi até a frente me cumprimentar. Sua camisa verde-floresta estava enfiada até a metade na calça jeans, presa por um cinto. Seu sapato esquerdo estava desamarrado, e eu podia sentir o leve cheiro de tabaco , mas, no geral, ele parecia bem.

    Por uma fração de segundo, ele considerou a possibilidade de me abraçar e experimentar a mesma sensação que as pessoas a nossa volta estavam experimentando, mas mudou de ideia depois de notar que eu estava revezando o peso entre um calcanhar e o outro.

    Uma pequena risada escapou de seus lábios.

    — Quem anda de roupa preta nesse calor em um trem?

    — Eles eram os favoritos de  Haiukan .

    Ficamos em silêncio total, e a crescente onda de lembranças começou a encher minha mente. Qiren provavelmente estava lembrando também. Diferentes lembranças do mesmo garoto extraordinário.

    — Isso é tudo que você tem? — perguntou, apontando para minha vida, que estava dentro da mala. Não respondi. Que pergunta estúpida. Claro que era tudo.

— Deixe-me pegar isso... — Ele se adiantou para apanhá-la e eu hesitei.

    — Pode deixar que eu levo.

    Ele suspirou, passando a mão pelo rosto. Parecia mais velho do que deveria, mas eu imaginava que arrependimento e culpa provocassem esses danos às pessoas.

    — Tudo bem.

    Joguei a mala na caçamba da caminhonete e fui até o lado do carona para entrar. Sem conseguir abrir a porta, revirei os olhos. Eu não deveria ter ficado surpreso por aquela porcaria estar quebrada. Qiren era especialista em quebrar e ferrar coisas.

Sr. XiaoOnde histórias criam vida. Descubra agora