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Capítulo 38

    Yibo

    A neve cai suavemente.

    Eu amo você lentamente.

    Romeo’s Quest

         . ⋅ ˚̣- : ✧ : – ⭒ ⊹ ⭒ – : ✧ : -˚̣⋅ .

    Naqueles poucos dias em Chicago, mamãe e eu não resolvemos nossas questões. Não enfrentamos nossos problemas.

    Lamentamos o primeiro Natal sem Haiukan. Na véspera do Ano-Novo, limpamos o quarto. Mamãe pegou o violão do meu  irmão e sorriu para Xiao Zhan.

    — Você pode ficar com ele.

    Ele franziu a testa.

    — Eu não posso.

    — Por favor — sussurrou ela, passando os dedos sobre as cordas do instrumento.

— Ele merece ser tocado.

    Xiao Zhan olhou para mim e eu sorri, concordando.

    — Obrigado — disse ele, pegando o violão. Enquanto mamãe e eu dobrávamos a última peça de roupa para enviar para o Exército de Salvação, Xiao Zhan tocou o violão de Haiukan.

    — Você sabe alguma dos Beatles? — perguntei a ele.

    Mamãe olhou para ele e sorriu, esperando por sua resposta.

    Ele tocou “Let It Be”, cantando baixinho. Sua voz estava mais doce que de costume. Senti os melhores tipos de arrepio. Do lado de fora, a neve caía, pousando nos galhos das árvores, cobrindo cada centímetro de Chicago.

    E quando o relógio bateu meia-noite, todos choraram.

(....)

— O que você acha? — perguntei a  Xiao Zhan quando chegamos de volta à estação de trem em Edgewood.

— Acha que ela vai conseguir parar de beber?

    — Não sei — respondeu ele. — Mas espero que sim.

    — Eu também. — Olhei em volta e sorri para Xiao Zhan. Ficamos em um canto escondido perto dos orelhões na estação de trem.

— Ela quer que eu volte a morar com ela... para melhorarmos a nossa relação.

    Ele assentiu lentamente.

    — Eu sei.

    Minha voz sussurrou com o próximo tópico. Mamãe tinha me dado a carta da faculdade dos meus sonhos em nossa despedida.

    — Fui aceito na Universidade do Sul da Califórnia.

    — Eu sei — repetiu ele. — É claro que foi. — Ele baixou a cabeça.

— Não importa o que aconteça, não importa o quanto a gente tente... por que eu sinto que vou perder você?

    Eu sentia isso também. Mas não podia confessar.

    — Bem, Qiren vai vir me buscar daqui a pouco. Ligo para você mais tarde? Caso contrário, nos vemos na escola esta semana.

— Fiquei de frente para ele e beijei-o na boca, tentando tranquilizá-lo. Ele mordiscou meu lábio inferior e murmurei em sua boca.

— Eu te amo.

    — Eu também te amo.

    Ao observá-lo caminhar em direção à porta da estação, meu coração se apertou. Depois de nossos exames finais em poucas semanas, haveria um novo semestre inteiro, em que Zhan e eu teríamos de fingir que não estávamos apaixonados. Só que desta vez eu não estaria na sua turma. A ideia de passar por isso de novo era dolorosa. Eu queria ser egoísta. Queria que ele largasse o emprego. Queria que ele fugisse comigo, mas eu sabia que isso não ia acontecer. Ele adorava dar aula. Ele amava sua banda. Sua casa era aqui, em Edgewood.

    E o que dizer da faculdade? Eu tinha entrado na Universidade do Sul da Califórnia. A universidade dos meus sonhos. Isso significaria quatro anos longe de Xiao Zhan, quatro anos separados.

    Tínhamos passado um semestre envolvidos um com o outro, e aquilo quase tinha acabado comigo. Uma verdade cruel estava se acomodando na minha cabeça enquanto eu o observava do lado de fora da estação. Eu tinha me apaixonado pela pessoa certa na hora errada.

    — Oi, Yibo.

    Dando um salto por causa do susto, me virei na direção da voz.

    — Kang você me assustou. O que está fazendo aqui?

    — Acabei de voltar da casa dos meus avós... — Ele fez uma careta.

— Você estava beijando o Sr. Xiao?

    Minha boca ficou seca, e eu tossi.

    — O quê?

    — Você estava beijando o Sr. Xiao. — Ele disse isso como uma afirmação, mas chegou aos meus ouvidos como uma pergunta.

    Analisei-o enquanto ele virava o corpo em direção à saída, apontando para Xiao Zhan, que estava do lado de fora esperando um táxi. Eu pude sentir o gosto azedo na minha garganta.

    Rindo nervosamente, puxei a alça de minha mala e comecei a arrastá-la para longe dele. Minhas pernas pareciam gelatina. Minha mente parecia mingau.

    — Preciso encontrar Qiren.. — murmurei.

    Fizemos besteira.

    Tínhamos ficado despreocupados demais. Tínhamos ficado íntimos demais. Tínhamos vacilado.

    Ouvi seus passos me seguindo, e fiz uma careta.

    — Yibo! Escuta aqui, você é um garoto inteligente. Mas ficar com o seu prof... — Kang começou a tagarelar.

    Tampei seus lábios com minha mão.

    — Cala a boca, Kang! Cala a boca! — Eu ia chorar. Corrigindo, eu estava chorando.

    — Ai, meu Deus, é verdade — murmurou ele, dando um passo para trás. — Ele é o cara? É ele? Ai, meu Deus, Yibo!

    Ele andava de um lado para o outro. Olhei em direção à saída e vi a caminhonete de Qiren parada na frente da estação. Esfreguei meus olhos com os dedos e tentei me recompor, apesar do pânico.

    Meu corpo todo sacudia, minhas mãos estavam trêmulas.

    — Não conta pra ninguém... — sussurrei.

    Kang me lançou um olhar severo de descrença.

    Eu fui embora, sem olhar para trás nem uma vez. Mas podia sentir seus olhos ainda fixos em mim, me julgando. Perdendo todo o respeito por quem ele pensou que algum dia poderia amar.

(....)

Sr. XiaoWhere stories live. Discover now