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Capítulo 37

    Yibo

    Lar — o que isso significa?

    São seus olhos olhando para mim.

    É só respirar.

    Romeo’s Quest

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    — Mãe? — chamei ao virar a maçaneta da porta, entrando no apartamento. Estava tudo exatamente igual. A sala ainda tinha a grande e feia estampa floral nas paredes cor de marfim. A televisão ainda estava ligada em um daqueles ridículos reality shows. O sofá ainda era do mesmo marrom sem graça.

    No entanto, tudo parecia diferente.

   Xiao Zhan entrou depois de mim, fechando a porta.

    — Acho que ela não está aqui — sussurrei, mas não sabia por quê. Parecia que eu estava invadindo o lugar, e se fosse pego, o mundo desabaria ao meu redor.

    Olhei para o corredor em direção ao que costumava ser meu quarto e de Haiukan. Cada fio de cabelo do meu corpo se eriçou. Arrepios cobriram minha pele. Eu não sabia que sentiria tanto medo e ao mesmo tempo tanta raiva só de estar no apartamento. Queria gritar, mas minha garganta estava apertada. Queria chorar, mas as lágrimas não vinham.

    Caminhando para meu quarto, descobri que a porta estava fechada. Segurei a maçaneta e a empurrei.

    Assim como o restante do apartamento, tudo estava igual, mas de alguma forma diferente. Eu odiava isso.

    Do meu lado da cama ainda havia alguns dos livros que eu tinha deixado na minha cômoda. O armário estava cheio das minhas roupas e de Haiukan.

    Fui até minha cama, que estava perfeitamente arrumada, e sentei na beirada. Apalpando o espaço ao meu lado, convidei Xiao Zhan para se sentar junto a mim.

    — Tem seu cheiro — notou ele. — Sei que parece estranho, mas tem.

    Voltei os olhos para meu travesseiro e o segurei, inspirando. Ele havia sido pulverizado recentemente com meu perfume favorito.

    — Vou contar para ela a quantidade de problemas que ela causou para mim — falei, olhando para o lado de Haiukan do quarto. Seus cartazes dos Beatles ainda estavam pendurados na parede. E seu violão estava apoiado na cabeceira de sua cama. Ainda havia fotos dele com Mingjue por toda a parede. Fotos dele comigo…

— Ela me abandonou quando eu mais precisava dela.

    Olhei para Xiao Zhan, que me observava cheio de pesar, mas não falou nada.

    — Ela... ela me mandou embora! Levantei-me, sentindo meu sangue começar a ferver. Estar de volta a este lugar mexia com as minhas emoções. Estar de volta me deixava furioso. — Eu poderia ter ficado ao lado dela! Eu poderia ter cuidado dela! — gritei, andando para lá e para cá.

    Ele ficou olhando. Eu estava desmoronando.

    — E então ela tem a coragem de perfumar meu travesseiro?! Como se sentisse minha falta?! — bufei, meu rosto cada vez mais quente. Bati a mão no peito.

— Haiukan era meu irmão gêmeo! Se alguém devia ter desabado, deveria ter sido eu!

    Estava furioso e nervoso. Furioso porque mamãe tinha se voltado para o álcool quando poderia ter se voltado para mim. E nervoso porque estava com medo de vê-la despedaçada.

    Indo até a cama do meu  irmão, comecei a arrancar seu edredom, jogando os travesseiros para o lado, atirando as folhas no chão.

    — Ele não vai voltar para casa, mãe! — gritei para o ar.

    Em seguida, passei para os pôsteres de Haiukan, arrancando-os. Estendi a mão para as fotos e comecei a jogá-las no chão também. Xiao Zhan me segurou e me puxou para fora da cama.

    — Yibo, pare — ordenou ele.

    Eu não podia. Estava fora de mim, consumido pela tristeza, pelas lembranças. Como minha mãe se atreveu a me mandar embora? Como Qiren se atreveu a cuidar de mim? Como Liu Haiukan se atreveu a ter câncer? Como Ryan se atreveu a se matar?

    — Eu consegui um lugar para ele ficar. Era para a gente dormir e pensar nas coisas de manhã. Rebecca tinha se acalmado. Ela queria que Ryan voltasse para casa. Hailey precisava dele... Que imbecil. Ele é um idiota por ter se matado!

    Não era justo. Eles todos me deixaram quando eu teria feito qualquer coisa para ficar com eles. Teria dado a eles todo o amor de que precisavam.

    Por que eu não fui o suficiente?

    Xiao Zhan estava me segurando pela cintura, mas continuei chutando e gritando.

    — Me larga! — Ele segurou com mais força. Comecei a chutar o ar, arranhando seus braços, tentando sair de seu abraço. Meus uivos ficaram mais profundos e a dor só se intensificou. — Me larga!

    — Não. — Ele continuou firme e me colocou contra a parede para controlar meus chutes. Meu corpo parou contra a parede fria e eu desabei.

— Eu nunca vou largar você, Yibo. Nunca vou deixar você.

    — Você vai! Você vai me largar.

    Meu estômago se revirou e senti que ia vomitar. Ele não tinha consciência disso, mas estava mentindo para mim.

    Porque todo mundo sempre me largava.

Minha visão começou a embaçar, e fiquei tonto.

    — Você está tendo um ataque de pânico  Xiao Zhan sussurrou para mim, quando minha respiração começou a acelerar. Sentia um forte aperto no peito.

— Acalme-se por mim, meu amor. Controle sua respiração. — Zhan me virou de frente para ele. Puxei sua camisa, trazendo-o para perto de mim.

    Eu perdi o controle.

    Perdi completamente o controle.

    Mas ele ainda estava lá.

    (...)

Sentados no sofá, ficamos de frente para a porta de casa. Quando ouvi as chaves tilintando, meu coração bateu mais forte. A porta se abriu lentamente e eu vi minha mãe entrando com Jeremy.

    Levantei-me e vi mamãe reagir surpresa. Lágrimas encheram seus olhos e seus ombros caíram.

    Era para eu estar zangado.

    Era para eu odiá-la.

    Mas tudo o que pude fazer foi abraçá-la, puxá-la para junto de mim e chorar em seu ombro. Eu não sabia o que pensar sobre aquela interação.

    E talvez amanhã eu fosse estar com raiva novamente.

    E talvez quando estivesse de novo em Wisconsin voltaria a odiá-la. Mas agora? Na tarde de Natal?

    Neste momento, éramos apenas duas pessoas nascidas para errar, para perder o controle e para aprender coisas novas.

Nós éramos perfeitamente imperfeitos.

(...)

Sr. XiaoWhere stories live. Discover now