II

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- Sim, esqueci de me apresentar. Alexandre, Alexandre Nero.

- Eu já sabia, a moça da recepção já havia me dito. Cara, olha... - Coloco as mãos na cabeça tentando formular algumas palavras. - Os pais do Pietro faleceram há dois meses, minha irmã faleceu há dois meses.

- Agora eu entendo, faz muito sentido. Meus sentimentos! - Ele diz de forma séria, o que me surpreende.

- Eu fiquei com a guarda dele, por ser a mais capacitada para cuidá-lo.

- Hum! Cof! - Ele finge uma tosse.

- O que foi?!

- Nada não, mulher! Continua!

- Como eu estava dizendo antes de você me interromper, eu fui a mais capacitada para cuidá-lo, mas tem sido uma tarefa um pouco difícil. Sempre foi só eu, e agora eu tenho a responsabilidade de cuidar dele, ainda por cima nessas condições, está sendo desafiador pra mim. Ele está indo ao psicólogo, fazendo terapia, tento dar assistência como posso, mas não sei o que fazer. O que você sugere?

- Então, tu é solteira? - Ele pergunta.

- Você não prestou atenção em nada do que eu disse?! Como você é ridiculamente ridículo! E tá vendo aliança aqui?! - Mostro a mão pra ele.

- Uma taça de vinho.

- O quê?!

- Pra tu, dona, o que eu sugiro, uma taça de vinho para o estresse.

- Nossa, mas tu é muito sem noção mesmo, idiota! - Digo me levantando e pegando minha bolsa.

Quando estou prestes a chegar na porta ele me aborda.

- Calma, Dona! Paciência! Iria começar minha segunda sugestão, mas tu não deixa eu falar, mulher. - Ele faz um ar finalmente sério e só então percebo o quanto estamos perto um do outro. Os dois encostados no parapeito da porta.

- Paciência, mulher! Ainda é muito cedo pra Dona tá assim. - Observo seus olhos escuros, sua boca bruta tentando pronunciar algo de forma passiva. - Se lembre que ele é uma criança, um menino, é novinho demais para entender essas coisas, dona. Vá devagar com ele, no passo do gado!

A forma como ele fala do Pietro me desarma.

A forma como ele fala acerca do meu sobrinho, as preocupações que eu estou tendo, o peso e a consciência de estar fazendo algo e falhando nisso, faz com que eu me liberte da altivez tão característica da minha personalidade.

- Obrigada! É... se acontecer qualquer coisa, me chama. Vou te passar meu número.

- É claro que chamo, gostei da senhora. - Ele cruza os braços à frente do corpo, e leva uma das mãos ao queixo acariciando a barba. - Eu sou dos bons mesmo. Não fiz nenhum esforço pra conseguir teu número, dona!

Paro o que estou fazendo e olho pra ele enfurecida.

- Como?!

- É brincadeira, mulher! Relaxe! - Ele ri de forma irritante.

Respiro fundo e com aparente irritação.

- Então, senhor Nero, aqui está meu número, qualquer coisa que acontecer, exclusivamente, unicamente, estritamente, somente, unicamente, com o P-I-E-T-R-O, você entra em contato comigo. Passar bem!

- Tá bom, então. Mas tu me chamou de senhor? Senhor não, assim você me ofende.

- Mil desculpas! Nunca passou pela minha intenção te ofender dessa forma. - Abro minha bolsa novamente procurando algo que havia esquecido. - Aqui, toma isso, é sua! Tchau, Senhor Nerótico! Assim combina mais com você?!

DonaOnde histórias criam vida. Descubra agora