V

801 58 92
                                    

Hoje o dia foi cheio aqui no escritório. Muita papelada. Muitos problemas para resolver.

Me formei em direito. Logo após a graduação passei na prova da OAB, para a sorte da minha família que pensavam que eu surtaria de tanto estudar. Meus pais hoje moram no interior do Rio de Janeiro, já estão velhos e cansados, procuraram um lugar de paz para curtir a velhice juntos. Quando minha irmã nasceu eles já estavam na casa dos quarenta, anos depois eu nasci. Crescemos em um ambiente mais tradicional e rígido. Minha irmã fugiu um pouco desses preceitos, mas eu sempre fui muito certinha e obediente.

Me interessei pela área de auditoria. Então, fiz mais uma graduação no curso de ciências contábeis, dispensando umas cadeiras do curso de direito que já havia concluído.

Minha irmã casou, foi morar em São Paulo. Meus pais se mudaram para o interior. E eu continuei estudando e trabalhando. Fiz uma especialização em auditoria e ganhei um cargo de confiança no escritório em que eu trabalhava. Zelha já cuidava de mim e da minha casa nesse tempo.

Com relação a vida amorosa, transava vez ou outra com Ricardo, não era lá essas coisas, mas enfim, cabia na rotina. Tudo estava saindo conforme eu esperava que fosse a vida perfeita. Carreira irredutível, profissionalismo, dinheiro, bens materiais, alguns amigos, alguém pra dormir de conchinha, Zelha pra arrumar a casa e o hobby de cozinhar de vez e nunca.

Era assim até tudo começar a desmoronar e eu passar a me perguntar: Onde foi que eu falhei?

"Você não pode controlar tudo e todas as pessoas, Giovanna. Não espere que elas tenham o comportamento que você decidiu que elas terão", dizia minha psicóloga.

A traição do Ricardo foi algo que me deixou, além de triste, surpresa. Me pegou desprevenida em todos os sentidos. Eu não imaginei, eu não imaginava.

Para mim, todas as coisas estavam perfeitas. Não era uma paixão avassaladora, mas era confortável, conveniente. As relações não são assim hoje em dia?!

Era o que eu imaginava.

Minha vida não estava fora do eixo, mas minha mente estava, e isso passou a refletir no meu comportamento. Eu sentia como se tudo estivesse virando um grande punhado de areia que escapava entre os meus dedos.

Segui meus dias tentando me agarrar ao trabalho para tentar minimizar todas essas questões que roubavam minha sensatez.

Foi quando a notícia chegou.

///

Entro na recepção da escolinha, é outra senhora que está lá. Deve ser pela mudança de horários. Alguns dias a aula é pela manhã e em outros é a tarde.

- Boa tarde! A turma de futsal mirim tá jogando na quadra?

- O professor é o Alexandre?

Sinto ranço em ouvir o nome do crápula sendo pronunciado.

- Sim, esse mesmo.

- Hoje eles estão lá no campinho senhora. É só seguir reto, tem uma porta com uma rampa, de lá você vai ver o campinho. Outras mães também estão lá.

- Não... - Ela me olha com curiosidade. - Eu não sou a mã... esquece. Obrigada!

- Por nada!

Faço o caminho que a recepcionista me orientou e sigo para as arquibancadas que dão uma visão melhor do campo.

Realmente, muitas outras mães também estão aqui. Acho engraçado e curioso ao mesmo tempo, esperaria que fossem mais pais.

- Olá! - Aceno para algumas e me sento próxima a elas de forma que não chame muita atenção. Procuro o Pietro entre os garotos que estão jogando.

DonaWhere stories live. Discover now