XVI

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"É como andar de bicicleta!"

É a única coisa em que consigo raciocinar enquanto olho para o homem à minha frente sentado no sofá, conversando algo que eu não faço a mínima ideia do que seja.

"É como andar de bicicleta!"

Mentalizo isso, porque sei que a qualquer momento ele irá se aproximar de mim e irá tentar algo.

O vinho ajudou um pouco o meu corpo a começar a relaxar. Minha mente começa a vagar para horas atrás, em que aquele ridículo, escroto, me beijou. Sinto um frio na barriga ao lembrar da sensação que eu senti. Eu não consegui ao menos raciocinar e expulsá-lo da minha casa ou dar um tapa na cara dele.

E ainda por cima, vi ele levar o Pietro, meu sobrinho, pra sua casa. Onde eu estava com a cabeça?!

- Giovanna?! Giovanna?! - Uma voz me chama e eu aterrisso.

- Oi?! O quê?!

- Nada, você estava olhando pro nada, parecia que a cabeça estava a quilômetros de distância. - Ele fala rindo.

- Ai, desculpa! Eu estava pensando no Pietro. Sobre o que estávamos conversando mesmo?

- Nada muito importante! Onde está o seu sobrinho? Quando eu vou poder conhecê-lo?

- Em breve! Hoje ele foi dormir na casa de um amiguinho para fazer a noite de cinema.

- Que maravilha! Então quer dizer que nós temos a casa só pra nós dois?!

Concordo com a cabeça dando um gole no vinho que desce como um bolo pela minha garganta.

Ele se aproxima de mim, retira a taça da minha mão, colocando-a em cima da mesinha de centro.

Meu coração acelera.

"É agora, é agora!"

Quando ele aproxima seu rosto do meu, sinto o cheiro de vinho em seu hálito. Tento me concentrar em sua boca.

"Mas que porra, com o Nerótico foi tão fácil, porque esse Zé Mané não me agarra logo?!"

Fecho o olho e mentalizo o beijo de mais cedo, pode ser que seja mais fácil assim. Minhas mãos sobem até o seu rosto e eu o puxo para os meus lábios. O beijo começa um pouco sem jeito, mas aos poucos vai se encaixando. Pode ser que fique melhor com o tempo.

Tenho ânsia por sentir aquela sensação na barriga novamente.

Mas ela não vem.

Enfim, o José Filho é até cheiroso, gentil, educado, cavalheiro, inteligente, está me beijando e neste momento está em cima de mim, no meu sofá, sua boca tem gosto de vinho. Será que eu tirei o queijo da geladeira e esqueci de trazer pra cá?! Eu não lembro! Aquele queijo é uma delícia, com vinho então...

- Giovanna?! Giovanna?!

- Hum?! - Digo acordando do transe.

- Você tá pensando em quê?

- Em nada! Parece que eu tô pensando em algo?! - Puxo ele para um beijo novamente.

Não quero que ele perceba minha tensão, e que eu estou em todos os lugares do mundo, menos ali.

- Vamos para um lugar mais confortável?

- Cama. - Aponto para o corredor e nós saímos para o meu quarto.

"É como andar de bicicleta!"

Eu vou transar com outro cara e a única coisa que eu consigo é escutar a voz de outro homem na minha cabeça.

DonaWhere stories live. Discover now