VI

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- Ah, não! 

Vejo o rostinho dele ficando vermelho. Eu já vi ele fazer aquilo algumas vezes. Ele vai chorar. 

Percebo que ele olha para o joelho. 

- Ah não, ah não! - Começo a recolher minhas coisas. 

Ele se levanta, e como se fosse mais pela vergonha do que pelo machucado, sai correndo para a escolinha. 

Corro atrás dele chamando-o. 

Ele entra no que parece ser um vestiário. Ignoro a placa em que está escrito "vestiário masculino" na porta e entro. 

- Pietro?! Pietro?! Você tá aí?! Sou eu, Tia Giovanna.

- Me deixe em paz! - Escuto sua vozinha.

- Sou eu, meu amor... - Vejo ele sentado no chão, está encolhido em um canto mais afastado no vestiário. - Deixa eu te ajudar, deixa eu ver seu joelho. - Me aproximo e me agacho perto dele. 

- Não, eu quero minha mãe… - Ele esconde o rosto entre os braços cruzados. 

Alguém entra correndo e abre a porta do vestiário fazendo um barulho alto que reverbera pelo ambiente. Me levanto rapidamente pelo susto. 

- Tu não devia estar aqui, dona. - Ele aponta para a placa. 

Finjo que não o escutei. 

Desvio o olhar dele e dou um passo na direção do Pietro. 

Ele segura meu braço. 

- Sai, deixe que eu converso com ele. - Ele fala. 

- Sai?! Sai?! Tá maluco?! Que educação de centavos é essa?! Me solta! - Puxo meu braço com força.

- Por favor, dona.

- Mas é lógico… QUE NÃO!!! Ele é meu sobrinho.

- E ele é meu aluno! E tu tá invadindo o meu local de trabalho, porque o menino é  responsabilidade minha. Então bora, xispa! - Ele pega meu braço novamente me puxando para a saída. 

- Mas o quê?! NEM "ARRAXTADA"! Me solta!!! SEU OGRO! - Com dificuldade consigo me desvencilhar da mão dele. 

- Vem Pietro, deixa eu ver seu joelho. - Me agacho de novo para olhá-lo.

- Eu quero minha mãe. - Ele diz entre soluços.

- Em casa eu coloco aquele remédio que não arde...

- EU NÃO QUERO VOCÊ, EU QUERO A MINHA MÃE! VOCÊ NÃO É A MINHA MÃE!  

Sou surpreendida pelas palavras dele. Me deixam sem chão de uma forma que eu nunca pensei que ficaria. 

- ME DEIXA EM PAZ! - Ele diz e eu sinto alguém se aproximar de nós.

- Calma, cabrinha! Que isso, rapaz?! Eu não acredito que tu tá chorando por causa dessa besteira no joelho. Nam! 

Fico de pé e observo o Pietro levantar o rosto enxugando as lágrimas. Não parece se incomodar com a presença do Nerótico. 

- Tio, o senhor pode chamar o Enzo pra ver meu machucado? Vai deixar cicatriz?

- Só um minuto que eu chamo ele. Eu posso ver o machucado primeiro?

- Pode…

-Vai ficar uma cicatriz massa, mas eu vou ter que limpar, tu deixa o tio limpar?

-Jura?! Deixo sim…

Eles começam a conversar ignorando minha presença. 

O professor Alexandre toma as rédeas da situação. Eu apenas me movo devagar em direção a saída. Paro na porta e olho na direção deles. 

DonaWhere stories live. Discover now