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Havia um certo clamor de morte por toda parte, por entre as sombras o alado monstro da culpa se alargava aos arredores de Visenya. Suas mãos, mesmo que limpas estavam sujas de sangue, sangue culpado mas também, o sangue inocente. Duas criadas estavam mortas, foram encontradas nuas e ensanguentadas no gramado nos fundos da fortaleza.

Tinham sido estupradas e depois mortas.

Morreram por culpa dela, aquilo corroía suas veias como veneno, se espalhando pelo sangue e fazendo-a agonizar em silêncio, era paralisante, dolorido, devastador e ainda pior que a impotência, culpa era um sentimento amargo na ponta da língua, que se alastrava pela boca e descia pela garganta queimando o peito e levando qualquer resquício de paz para longe.

Enquanto ajudava Aemond a enrolar os corpos das duas mulheres em lençóis, lágrimas desciam-lhe pelas bochechas, molhando seu rosto com a dor da insatisfação. Eram duas moças jovens, não tão mais velhas que ela e haviam sido mortas cruelmente por culpa dela. Seu descuido custou vidas inocentes e tudo que ela podia fazer era ficar parada enquanto tudo se transformava em uma confusão ainda maior.

— Você não é culpada por isso. — Aemond soou pacífico do outro lado, enquanto colocava os dois corpos sobre uma pira de lenha nos fundos do castelo.

Visenya havia acendido velas, limpado os rostos joviais e beijado as bochechas pálidas, sussurrando palavras cheias de dor e pedidos de perdão que nunca seriam respondidos. Ela conhecia aquelas mulheres, sabia de onde vinham, suas histórias de tristeza e alegria.

Saddie e Adda  eram leais, suas criadas de confiança desde que voltou para Kings Landing. Serviam-na com devoção, cuidado e guardando segredos seus como se fossem delas. E agora estavam mortas.

— É sim.

Foi tudo que respondeu.

O seu descuido havia levado á tragédia. Falta de atenção e sede de sangue em uma vingança foram os culpados por aquilo. Visenya sabia que a morte de inocentes durante uma guerra era algo... Corriqueiro, uma consequência pequena perto das causas maiores que levavam homens ao campo de batalha. Mas aquilo era diferente, não estavam em guerra, aquilo era mais uma disputa de vinganças e sangue inocente não devia ser consequência.

— Por que diz isso? — ele quis saber

Ela apenas balançou a cabeça.

Decidiu rezar, fazer uma oração para que os deuses as recebessem nos sete céus de braços abertos e que tivessem um descanso eterno e tranquilo, diferente da forma como foram mortas.

O sol começava a raiar no horizonte e a pira recém acessa estava alta, trazendo o cheiro forte de hibisco e alecrim, ervas que havia colocado nos arranjos ao redor delas. Seus lábios ainda se moviam em oração enquanto assistia o fogo queimar.

— Fui desatenta, isso é culpa de um descuido meu. — sussurrou ela.

A flecha

Tudo por uma maldita flecha.

— Precisa parar de se culpar, temos de que agir e nos manter em movimento. Iremos partir para Dragon Stone em breve.

— Não quero por minha família em perigo. — um arrepio gelado varreu sua coluna com o pensamento.

— Dragon Stone é impenetrável, ninguém seria louco o suficiente para tentar. — respondeu ele. — Iremos libertar os criados e ir embora, não podemos arriscar passar mais uma noite aqui.

Visenya balançou a cabeça e desviou as iris violetas das chamas, sentindo um desagrado ao ver a fumaça negra subir. A sensação de angústia aumentando conforme o tempo passava, o sol a pino no céu indicava o começo de um dia muito longo, e os ventos do inverno começavam a varrer as árvores.

᪥𝕭𝖑𝖔𝖔𝖉 𝕾𝖙𝖔𝖗𝖒᪥ - 𝓐𝓮𝓶𝓸𝓷𝓭 𝓣𝓪𝓻𝓰𝓪𝓻𝔂𝓮𝓷Onde histórias criam vida. Descubra agora