06.00

1.8K 248 613
                                    

Poucas sensações são tão ruins quanto a de se sentir velho demais para algo. Talvez a sensação de saber que se está velho demais.

É assim que me sinto todas as vezes em que Luke insiste para que passemos o sábado numa boate. É automático associar esse tipo de programa à música insuportavelmente alta, dor de cabeça, e dor nas costas. Não necessariamente nessa ordem.

— Podemos voltar mais cedo. — ele diz, não pela primeira vez desde que sugeriu a saída. E, no fundo, me sinto mal por ter de fazê-lo passar por isso. Pelo incomodo de me ter ao seu lado, quando se é jovem, e se tem o mundo nas mãos.

— Já falamos sobre isso, Luke ... — eu suspirei, porque realmente já havíamos falado sobre isso. E eu sabia bem aonde sua insistência nos levaria dentro de mais duas frases, no máximo.

— E todas as vezes você vem com a mesma conversa fiada, Dr. Irwin. — ele rolou seus reluzentes olhos azuis, usando o "Dr" apenas para enfatizar meu excesso de profissionalidade até mesmo fora do expediente. — De que está velho demais para isso, ou velho demais para aquilo, como se vinte e sete anos o tornassem um velho raquítico.

Eu queria dizer que não estava velho demais para as coisas em si, mas sim para descobri-las. Porque eu, de fato, já as conhecia. Já havia virado madrugadas e finais de semana em boates como essa, com bebidas como aquelas e mulheres e homens como aqueles. Mas usar a vivência como argumento nunca era uma boa alternativa, se tratando de Luke. Ele sempre se sentia ofendido quando sua falta de experiência era mencionada como argumento.

— Por que a gente não pede uma pizza e assiste a um filme no Netflix? — eu sugeri, porque me parecia uma ótima opção.

— Ah, qual é, Ash! Porque isso é exatamente o que fizemos na semana passada, e na antes dessa! Jesus, você não cansa dessa rotina? Já é a quinta festa que o pessoal da universidade organiza e insiste para que eu apareça. Sabe que não precisamos ficar a noite toda, mas seria bom passar para dar um "oi", no mínimo. Quer que eu me torne um homem das cavernas agora?

Haviam muitos erros naquela fala. A começar pelo Ash, que me trouxe à tona o sentimento de se estar perdendo o que restava da minha juventude, onde esse apelido de três letras era minha marca registrada. Ash, with the hash.*  Como se os anos estivessem pouco a pouco me levando embora. Pedaço por pedaço.

— Para começo de conversa, não é como se eu estivesse te amarrando nesse apartamento como um encarcerado. Se quer ir nas festas, que vá. Eu nunca te proibi de nada. E quanto à rotina, sinto muito se não considero mais encher a cara com outros estudantes meu ideal de diversão. Houve um tempo em que isso era suficiente; transar e beber, beber e transar. Mas ai você recebe a primeira conta, e os primeiros fios brancos, e o biscoito de chocolate não é mais só colocar no carrinho, e sim dois dólares, e de repente o mundo não parece mais tão colorido assim.

Quando senti a ardência, ele já havia atingido minha bochecha com o tapa. Certeiro, seco, e sem hesitação. Seus olhos não expressavam mais que seriedade quando retorquiu:

— Se me tratar como uma criança burra mais uma vez, eu te dou outro no outro lado da cara. Não use esse tom superior comigo nem nos seus sonhos, Ashton, sabe como não suporto quando me diminui com esse tipo de argumento. Em momento algum disse que estava me prendendo aqui, e muito menos que isso me incomodava. Só estou te pedindo para ir comigo numa festa idiota, porque quero que conheça as pessoas com quem passo minha maldita semana, quando não estou te fazendo favores, massagens ou cafés. E me surpreende que beber e transar não sejam seus ideais de diversão, já que fazemos sexo umas cinco vezes por semana, e você bota whisky no café de dois em dois dias. Não seja um babaca hipócrita, não comigo.

Close as Strangers ✂ CashtonWhere stories live. Discover now