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Sem tanta demora dessa vez :) Esse capítulo é musical, e, por favor, sei que rola um preconceito, mas não deixem de lê-lo. Todo mundo merece ser o protagonista na própria vida. Ah, o capítulo é musical. Frases em itálico e sublinhadas são do lyrics da música, e não minhas. 

Aconselho ouvirem antes, durante. Mesmo no final. A música é linda. 


Luke POV 


O apartamento parecia maior agora. Eu me sentia engolido pelos seus móveis e espaço de sobra para uma única pessoa. Abraçado aos meus próprios problemas em posição fetal, no sofá de três lugares que, como todo o resto, era grande demais para um.

Era estranho pensar e processar a ideia de ser singular outra vez.

Tu m'as demandé pardon j't'ai repoussée

(Tu pediste-me perdão, e recusei)

O telefone era o único som ecoando pela sala de estar. As paredes brancas exibindo em tela plana cada maldita memória vivida naquele cômodo.

Eu já sabia quem estava ligando. Minha mãe, muito provavelmente. Ela não tinha notícias minhas desde semana passada. Estava ocupada com a gravidez da esposa de Ben, mas não o suficiente para esquecer-se de mim. Ela jamais se esqueceria de mim, e hoje em especial parecia ser a única capaz disso.

O som da porta batendo se repetia em minha mente. As costas largas de Ashton passando por ela, carregando a incerteza de um retorno. Carregando também algumas mochilas com o que restara de suas roupas. Ele talvez nunca voltasse, e isso me assustava como o inferno.

J'voulais qu'tu comprennes comprennes que je souffrais

(Eu quero que compreendas que sofro)

Me revirei no sofá, abraçando uma das almofadas que precisavam ser lavadas logo. Quase podia ver os ácaros ali, e me perguntei se era disso que ele tinha se enjoado. Das frescuras. Dos não-me-toques.

Jesus, Luke, será que podemos passar um domingo sem faxina?

Não era minha culpa. Eu apenas gostava de tudo arrumado. Na casa dos Hemmings os domingos eram assim. De limpeza. Minha mãe gostava da casa cheirosa. Eu também gostava. Mas podia mudar isso se ele quisesse. Se preferisse dormir, então dormiríamos. Faríamos o que ele quisesse, se isso o fizesse ficar.

Fizesse suas costas jamais atravessarem a porta outra vez.

Mais t'as laissé ton odeur sur les draps

(Mas tu deixas-te o teu odor nas folhas)

As capas das almofadas haviam sido sua aquisição financeira. Eu era péssimo com estampas. Com combinações. Mas ele entendia o básico e um pouco além. Herança de Calum Hood. Como muitas coisas em Ashton. Porque se o seu corpo uma tela da sua vida, os desenhos seriam todos de Calum. Porque os dois tinham tanto um do outro que eu não podia evitar invejá-los. De odiá-los por alguns instantes.

Mas nenhum dos dois merecia ódio algum, e isso também era insuportável. Porque eu parecia o único que sofreria com esse término. O único que ninguém se importaria com o final. Ashton não estudaria comigo nas madrugadas. Nem mesmo faria café na véspera de uma prova. Não ouviríamos música outra vez. A nossa música. Ou a favorita dele.

O meu sofá continuaria tendo três lugares, embora agora fosse ainda mais espaçoso.

J'donnerais tout pour être dans tes bras

Close as Strangers ✂ CashtonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora