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Então, só pra inovar na postagem, hahaha' Finalmente, atualização rápida e decente. Estava super inspirada esses últimos dias, principalmente nessa fanfic, então decidi dar um double update nesse domingo chuvoso e de frio desgraçado para os cariocas.

Para variar um pouco,

Calum POV


Na terceira taça eu já sentia o riso frouxo, embora não houvesse motivo aparente para risadas. Ashton estava sentado na poltrona ao canto do ateliê, encarando as paredes cujo papel estampado coloria do chão ao teto do cômodo.

O papel de parede havia sido escolha dele, quatro anos atrás, quando reformamos o recém-comprado apartamento. A loja de materiais de construção tinha um estoque bem amplo de estampas, dentre elas as mais comuns de flores e mandalas. Mas, como esperado de Ashton, ele escolheu o mais autêntico possível. Eram desenhos geométricos abstratos, alguns coloridos, outros em preto e branco, que não seguiam um padrão aparente. Uma confusão de círculos e quadrados e cilindros que se cortavam, se cruzavam, e se combinavam, não necessariamente nessa ordem.

Na época, exigi saber o motivo dele ter escolhido aquela porcaria em especial, entre tantas estampas bonitas e harmoniosas.

"Alguém desenhou isso, Cal. Assim como você desenha as suas peças. Eu compraria todas as suas jaquetas, por mais horríveis que elas fossem. Mas como vamos saber que alguém comprou esse papel de parede pelo artista?"

E eu, sempre mesquinho e egoísta, respondi:

"Sua consideração pelo artista não deve interferir na obra dele."

Ele comprou o papel de parede mesmo assim, como esperado de Ashton, e eu fingi ter detestado, quando na verdade adorei o efeito da decoração. No entanto, atualmente as paredes não estavam exatamente propensas a serem observadas ou admiradas. Croquis de todos os tipos pendiam nas paredes para me lembrar do meu fracasso do dia a dia. Rascunhos dos mais diversos tipos de modelos de jaquetas haviam sido prendidos com alfinetes por toda parte, num caos infinito de peças inacabadas.

Ashton me olhava agora, e eu podia sentir seus olhos sobre mim, sempre atentos.

— Você não costumava colocá-los na parede — observou, se referindo aos croquis nas paredes. Nós dois sabíamos bem o que ele estava fazendo ao dizer o óbvio em voz alta. Esse era apenas o seu modo de preparar o terreno para um interrogatório.

— Não gostava que os visse antes de estarem prontos, mas como você passou a não entrar mais aqui, pude expandir o espaço de trabalho — expliquei, ainda sem olhá-lo, porque eu sabia exatamente o que aconteceria caso o fizesse. Havíamos chegado a um ponto da nossa relação, onde éramos como uma linguagem um para o outro, na qual não éramos mais fluentes, embora ainda nos lembrássemos de como ler.*

E eu não queria ser lido por ele, não agora.

— Eu ... — ele abriu e fechou a boca, observei de soslaio, como se estivesse medindo suas palavras muito bem antes de aplicar — não sei se posso, ou devo, perguntar algo a você.

— Acha que não tem esse direito? — perguntei, o alfinetando apenas o bastante para satisfazer meu orgulho próprio.

Ashton suspirou como se o ar entre nós fosse danoso.

— Não tenho.

Mais silêncio. Uma música eletrônica ameaçava invadir as paredes, irradiando do lado de fora. Imaginei as chamas do inferno queimando nosso apartamento num ritual satânico adolescente no meio da sala. O carpete branco esloveno destruído com mijo de gente chapada. Meu aparelho de chá, presente de casamento da mãe de Ashton, em cacos pelo banheiro.

Close as Strangers ✂ CashtonWhere stories live. Discover now