18.00

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Ashton POV


Uma vida de rotina e uma vida tediosa são conceitos diferentes. Uma vida tediosa é sinônimo de nunca ter feito nada do que se orgulha de contar durante as mais divertidas conversas. Uma vida tediosa não tem histórias boas, não rende risadas altas, e não te faz crescer ou diminuir graças a uma situação.

Já uma vida de rotina significa que o seu tempo acabou. Simples assim. Tal como tudo, a vida foi uma ampulheta cujos grãos finalmente caíram um a um até o fundo. Ser um adulto não significa parar de viver, e sim parar de ser jovem. Fazer parte do ciclo formado por trabalhar, comer, dormir, trabalhar, comer e dormir, outra vez.

Os jovens achariam isso a morte. Nos taxariam escravos do capitalismo selvagem. Diriam que havíamos vendido nossas almas no dia em que nos formamos no ensino médio.

As piadas dos adultos não são extremamente hilariantes, como as dos jovens. Elas são simples. Não são de fato engraçadas. Os adultos gostam de repetir coisas óbvias, comentar o tempo lá fora. Gostam de falar em troca de pneus e vistorias de carros. De seguros vencidos e contas pagas antes do tempo. De ler o jornal, e embora os jovens pensem que só lemos a parte econômica, isso é uma mentira. Nós entendemos tão pouco quanto os jovens a respeito disso. Nós também lemos o horóscopo, e as críticas de filme. Nós também vemos o preço de viagens. Nós também nos imaginamos num intercâmbio.

Mas a vida de rotina nos engoliu. Porque com o tempo os seus pais não querem mais investir nos jovens e nos seus sonhos, porque os remédios para a idade deles estão caros, e o plano de saúde não cobre todos os médicos de que eles precisam. Porque os pais se tornarão os filhos com a velhice, e eles já não podem mais te isolar na Terra do Nunca.

A segunda estrela à direita e então direto, até amanhecer...

—Ash?

Pisquei algumas vezes, erguendo os olhos da cafeteira, e encarando Luke, parado ao meu lado no balcão da cozinha. —Hm?

—Você ao menos escuta o que eu digo?— ele riu fraco, sacudindo a cabeça em negativa.

Eram seis da manhã. Não, eu não escutava o que ele dizia. Eu nem ao menos queria escutar a sua bendita voz.

Porque essa era uma das desvantagens em se viver com alguém cuja vida de rotina ainda não o engoliu. Eles gostavam de falar e rir o dia todo. E depois rir mais um pouco. Como se o mundo tivesse mais cores do que um maldito arco-íris.

Não me dei ao trabalho de pedir para que ele repetisse. Sabia que ele faria sem que eu precisasse. Luke ergueu o tablet que tinha em mãos na altura do rosto. —É a revista Vogue dessa semana. Normalmente eu passaria por essa sessão bem rápido, sabe disso, mas adivinha quem estava na capa?

Meus olhos vagaram do café saindo direto na caneca para a tela iluminada. Uma foto de Calum sendo exibida no visor. Seus ombros largos cobertos por uma jaqueta jeans, o tufo loiro ridiculamente engraçado no topo da cabeça, e os olhos puxados cobertos por um óculos. Os meus óculos escuros. Os do verão de 2003, que haviam sido do meu pai.

Um nó se formou em minha garganta.

Eu li o título abaixo dele ao mesmo tempo em que Luke o fez —The King of Jackets.

—Comprei a revista apenas por isso. Na matéria diz que ele está aprendendo com o próprio Richard Klein lá para ser diretor criativo. Ai a sede da marca aqui em Sydney vai ser de responsabilidade dele. Sem falar que você sabia que ele era engajado em projetos relativamente sociais? Digo, as novas jaquetas têm uma renda que foi feita por indígenas aborígenes da Nova Zelândia. Eles receberam pra isso, e parece que isso ajuda bastante. Com aquela luta de terras e tal. Sem falar que eu não esperava que essa futilidade toda tivesse uma parte menos podre.

Close as Strangers ✂ CashtonWhere stories live. Discover now