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Quando a porta fechou-se atrás de Ashton, com um baque discreto, a escuridão o engoliu para dentro do cômodo. O silêncio era mortal, embora isso não o incomodasse realmente. Era apenas incomum. Com as mãos de quem já conhecia cada objeto dali, tateou a parede até encontrar o interruptor.

Cinco anos apareceram com cada móvel daquela sala de estar, e foi como levar um soco no estômago. Quatro meses sem pisar nesse mesmo chão onde tivera tantas memórias. Parte dele quis trancar a porta e jamais sair. Mas a outra parte queria ir embora o mais rápido possível. Os fantasmas de seu passado jaziam naquele lugar.

Retirando os sapatos com o auxilio do calcanhar, caminhou descalço até o bar que dividia a cozinha da sala, conferindo os armários. Seus melhores vinhos continuavam ali, intactos. Serviu-se de um tinto safra 1996, presente de um cardiologista companheiro de plantões, e sentou-se no sofá de quatro lugares.

A sala era uma explosão de emoções. E, tentando ignorar a maior parte delas, retirou da mochila o notebook, abrindo-o em cima da mesa de centro. Distraiu-se apenas com o celular vibrando no bolso de trás, avisando-o de que, à essa altura, sua falta na clínica já estava sendo contabilizada.

Jogou o celular do outro lado do sofá. Não iria atender ninguém, ao menos não esta noite.

Virou a taça de vinho num último gole, e estava prestes a enchê-la de novo quando a campainha tocou, surpreendendo-o. Ninguém entrava nesse apartamento há meses, ele tinha certeza. A poeira nos cantos da sala confirmava isso.

No entanto, aqui estava ele. Aparentemente com visitas.

Levantou-se sem muito entusiasmo, espiando no olho mágico antes de abrir a porta efetivamente. E lá estava a tal visita. Cabelos platinados, raspados na lateral. Um par de alargadores rosa neon. Era um desastre em forma de adolescente hormonal. —Continua usando meu Wi-Fi?— Ashton quis saber. 

O menino ergueu o rosto, exibindo os óculos de grau de armação grossa. —Podia ter se dado ao trabalho de mudar a senha.

O Irwin destrancou a porta, deixando o mais novo passar. Retornou ao seu lugar no sofá, cruzando as pernas em meditação em cima do mesmo, e observou  Will deitar-se no carpete mesmo. 

—O que está fazendo aqui?

A pergunta veio de Will. 

—Faltando o trabalho, me isolando, bebendo vinho. Crise da meia idade, talvez.— ele sabia que não era verdade, e Will também não parecia muito convencido. Suas sobrancelhas em vinco confirmavam sua desconfiança. —Certo, talvez eu precisasse de um lugar para assistir ao desfile.

—Um lugar longe de Luke?— o adolescente deduziu. Ashton refletiu por alguns instantes. 

—Um lugar mais próximo de Calum, na realidade.

Os dois ficaram em silêncio. Ashton clicou no primeiro site de transmissão ao vivo do desfile CK, e conectou o notebook na TV, ajeitando-se melhor no sofá. Will fez o favor de não importuná-lo com muitas provocações, e assistiram juntos o evento se iniciar. 

As fileiras do salão já estavam lotadas. Socialites e celebridades eram citadas à todo instante pela repórter/cinegrafista responsável pelo canal de transmissão. Os estilistas responsáveis pela coleção estavam sendo entrevistados por toda parte, e portanto a primeira fileira à direita da passarela permanecia vazia. 

Ouvimos falar de atrações confirmadas para o evento, mas as bandas e cantores ainda são uma surpresa! É comum vermos esse tipo de coisa em desfiles da Victoria's Secret, mas Calvin Klein pareceu muito entusiasmado com a coleção outono-inverno de sua marca, pelo que dizem as fontes. E, por falar em Calvin Klein, o que nos reserva the King of Jaquets nesse semestre? Rumores de que a cidade que nunca dorme o inspiraram rondam o backstage do mundo fashion. 

Close as Strangers ✂ CashtonDove le storie prendono vita. Scoprilo ora