27.00

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Michael POV


Eu sei que devia estar na aula. Tinha muitas faltas nessa matéria para me dar ao luxo de faltá-la mas, bem, esse era um chamado de importante. Calum precisava de mim. Calum precisava de mim naquele instante, sete da noite, na cafeteria mais próxima do campus, e então eu tive de abandonar minha mochila com Lance (o cara que senta ao meu lado sempre, embora nunca puxe assunto) e sair de fininho sem que o professor visse.

Quando chego ele já está lá, o que é bem típico seu. O trabalho de Calum exige que ele seja pontual sempre, o que faz com que ele espere por mim toda vez que combinamos de sair. Não é minha culpa, eu apenas sou um universitário, e para universitários o atraso é um estilo de vida. As aulas duram tempo demais, e ser pontual significa ter de assistir horas inteiras de gente falando merda como se soubessem de tudo. O mundo é cheio desse tipo de inutilidade. 

Ele está impecável, e eu não espero nada diferente dele. Veste uma calça social cinza, um sobretudo vinho, e há também um cachecol preto ao redor do seu pescoço. Ele destoa de forma gritante do local onde estamos, mas isso é algo normal se tratando de Calum. Ele tem a habilidade de parecer muito em qualquer lugar onde esteja, exceto nas passarelas, ou debaixo de um holofote. 

Às vezes, quando estou solitário e triste, necessariamente nessa ordem, assisto as suas entrevistas. Ele sempre está muito bonito nelas, e responde as perguntas com calma, uma calma que não o acompanha normalmente. Com eles as coisas são sempre efervescentes, o seu coração é louco e apaixonado, e ele o escuta mais do que ao restante do corpo. É apaixonado pelas coisas, pelas pessoas, e vive tudo muito intensamente. A sua vida é um conto de fadas, e ele é um príncipe, um de verdade. Ganha bem, trabalha com o que ama, e é reconhecido pelo que faz. É o tipo do ser humano que nasceu com a bunda virada para a lua, e está destinado a fazer coisas grandes. Quando acho que estou muito envolvido, eu me afasto, e então tudo fica bem entre nós de novo. É assim que deve ser. A sua personalidade é muito expansiva, e por diversas vezes ela sufoca quem está próximo dele. Não é culpa de Calum, é apenas o jeito como ele é. 

Ele está comendo quando me sento à sua frente, puxando uma cadeira. A fatia de red velvet é grande e parece ter sido cara, posso imaginar só de olhar. Para Calum o valor é insignificante, mas não para mim. Quero pedir uma fatia também, mas sei que ele se ofereceria para pagar, e não quero que ele o faça de novo. Estou cansado de receber os seus favores financeiros. 

Estou com fome, sono, e exausto. Sei que meu rosto deve estar manchado de tinta. Eu deveria estar em outro lugar, também, mas nada disso importa quando pergunto — Te fiz esperar muito? O professor só nos liberou agora. 

Mentira. 

Ele deve saber, mas no fundo não se importa. Calum se finge de sonso apenas para não ter de se importar. Honestamente, eu não ligo. A vida é minha e seria um pé no saco tê-lo dando palpites. Ainda assim, algumas vezes queria que ele se importasse mais. 

— Me dê um pedaço. 

Eu puxo o seu prato na minha direção, dando uma boa garfada no bolo. Dou mais uma, mas tento disfarçar o fato de que estou morrendo de fome. Calum não pergunta a respeito, e relaxo a postura, mordendo mais um pedaço. É o último, e faz com que meu apetite se abra, o que torna a sensação de estômago vazio ainda pior.   

— Já estou acostumado com os seus atrasos. — ele diz, o que é verdade.  

Sei que não é disso que ele quer falar. Preciso voltar logo para a aula, antes que o professor passe a chamada, e por isso vou direto ao ponto. — Então, você marcou um encontro comigo. Nada de aparecer de surpresa no galpão com a cara inchada de choro. Isso deveria me preocupar ou me deixar feliz?  

Close as Strangers ✂ CashtonWhere stories live. Discover now