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Um nome no POV vale mais que mil pedidos de desculpa, e, nesse caso, vale mais que mil palavras. Segurem os forninhos, e espero vocês nas notas finais. É o que tem pra hoje.

Michael POV

Aos meus onze anos, minha mãe adquiriu um novo vício. Não que ela houvesse largado os cigarros, é claro que não, mas ao menos superou a obsessão com cupons de desconto. Na época, seu novo vício se tornou idiomas africanos. Particularmente, achei muito pretensioso, mas com onze anos nem ao menos sabia que merda essa palavra significava.

Talvez, com vinte e quatro, eu ainda não saiba, mas gosto de como ela soa.

O fato é que, viciada em idiomas africanos, ela se especializou em um específico, falado no Congo, o tshiluba. Com onze anos, não desconfiei que o interesse dela estivesse diretamente ligado ao professor negro e forte particular que ela havia contratado, mas agora isso parecia obvio. Ninguém se interessa por idiomas africanos aos quarenta e quatro por pura curiosidade. Mas, como ia dizendo, ela passou a estudar o tshiluba, e, por consequência, aprendeu algumas curiosidades sobre a língua.

Uma palavra em tshiluba (alguém consegue imaginar a maldita pronuncia disso? Porque eu, não.) ainda não possuía tradução para nenhum outro idioma. Era impossível traduzi-la, na realidade, mas seu significado podia ser explicado.

A palavra era Ilunga; cuja tradução livre seria: Alguém que está pronto para perdoar qualquer abuso na primeira vez. Tolerar outro abuso na segunda. Mas nunca uma terceira.

Quando minha mãe me contou isso, depois do terceiro drink durante o ano novo, levei suas palavras a sério, e adquiri o significado de Ilunga como lema de vida. Apesar do temperamento instável, eu sabia ser muito paciente quando necessário. Ou não seria amigo de Calum, que estourava com a facilidade de uma bexiga de aniversário.

Durante toda a minha vida aceitei muitos erros de muitas pessoas. Os perdoei, e depois os superei, porque sempre prezei as alianças mais do que qualquer outra coisa. Já os segundos erros tapavam-me a garganta, admito que sim, mas com um pouco de cuspe o que é que não entra? (Se é que me entendem).

E embora eu houvesse construído todas as minhas amizades e conquistas a base de sensatez, toda paciência sempre se esgotava no terceiro erro. Imperdoável, inesquecível, inaceitável. Que idiota era capaz de errar feio três vezes? Algum do qual não valia a pena ser amigo, disso sempre tive certeza.

Eu não conhecia Luke Fuckin Hemmings, o loiro com topete alto e piercing no lábio, que andava a poucos passos de mim naquele momento. Mas, mesmo sem conhecê-lo, ele havia cometido três grandes erros dos quais eu não esqueceria, e não o perdoaria.

Primeiro, deitou com o marido do meu melhor amigo.

Segundo, continuou deitando com o dito cujo.

E, terceiro, não pretendia parar com isso.

Pareciam três motivos bem razoáveis para se querer chutar a bunda magra dele no Guitar Hero. Eu só precisava de uma guitarra, uma música bem difícil, e High Score. Ainda que essa simples disputa fosse apenas uma batalha de egos, para mim, simbolizaria o início de muitas outras vitórias. Porque Calum precisava disso, desse tiro de largada. Ele precisava correr, e precisava acreditar que poderia alcançar Ashton. E se eu tinha de ser a pessoa que o faria se tocar disso, eu seria. Eu sempre seria o que quer que Calum precisasse.

- Você não precisa se rebaixar tanto. - Luke comentou por cima do ombro, o queixo erguido como se tivesse orgulho eterno da própria existência. Franzi as sobrancelhas em sua direção, porque essa devia ser a minha postura para o mundo. - Só conseguiu com que Calum fizesse papel de idiota na frente de todo mundo na mesa. Ele se quer abriu a boca, e você só abriu pra falar merda.

Close as Strangers ✂ CashtonWhere stories live. Discover now