Capítulo Quarenta e dois - A descoberta

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Senti um alívio preencher o meu peito quando terminei de organizar a apresentação da minha coleção. A ansiedade estava me deixando abalada; estava contando os dias para obter a resposta final. Eu não aceitaria trabalhar para Brenda, de jeito nenhum. Faltava-me psicológico para receber ordens daquela jararaca. Aquela ideia de só ter uma design em um empresa de moda não era uma das melhores, definitivamente não. Se eu fosse a escolhida, teria um trabalho extremamente árduo pela frente.

A cada dia que se passava, eu me perguntava se realmente valia à pena continuar naquele lugar. Um lugar que talvez não alcançasse o sucesso. Um lugar que abalava o meu psicológico. Mas, ao mesmo tempo, era um lugar que eu havia apostado para a minha carreira. Um lugar onde me dediquei por anos, sempre dando o meu melhor.

Me joguei para trás na cadeira, afastando-me da mesa do computador, tentando livrar-me dos pensamentos conturbados. Eles alteravam o meu humor com muita facilidade. Viver com uma incógnita é pior do que ter um mês super atarefado. A dúvida é uma das piores coisas que podemos sentir; por exemplo, na adolescência, quando não sabemos se aquele carinha realmente está a fim ou se só está aumentando o seu próprio ego como um narcisista. Temos medo de chegar nele e acabar levando um fora ou, pior, descobrir que não se passou de um fruto da nossa imaginação. A dúvida nos traz curiosidade e medo, essa mistura é devastadora; já tive diversas crises de enxaqueca por conta dela.

— Senhorita Menezes — Letícia chamou por detrás da porta. Permiti a sua entrada no mesmo instante.

A dona do cabelo cacheado mais brilhante que eu já vira cruzou os braços quando entrou na sala, me olhando com reprovação. Demorei a reparar em sua face, pois estava perdida na lembrança da pequena Eloise que sonhava em ter um cabelo cacheado tão bonito quanto aquele. A pequena Eloise achava o seu cabelo liso reto demais, totalmente sem graça. Mas, a Eloise adolescente agradeceu com todas as suas forças ao cabeleireiro que inventou o Babyliss, uma das melhores invenções do mundo. Ao lembrar do meu próprio reflexo de quando era mais nova, perguntei-me se o bebê, que cresce a cada dia mais dentro de mim, puxaria os meus traços ou os de Nicolas, ou se seria uma mistura de ambos. Eu ainda não havia parado para pensar naquilo.

Letícia pigarrou para chamar a minha atenção. Fui abduzida para o mundo da lua sem ao menos perceber. A olhei envergonhada, encarando o seu rosto ainda emburrado.

— O que houve? — Perguntei.

— Você se esqueceu! — Afirmou, com um olhar ainda mais cheio de desaprovação.

— Me esqueci do quê?

— Sabe que dia é hoje, Eloise?

Repassei todos os meus compromissos na cabeça, mas não me lembrava se algum deles era naquele dia.

— Por que não olha o seu celular. — Sugeriu, suspirando logo em seguida, como se tivesse se tocado de que eu realmente não sabia a resposta.

Peguei o aparelho que estava emborcado em cima da mesa, completamente desconfiada. Haviam várias mensagens e ligações perdidas de Nicolas; me arrependi de ter colocado o celular no mudo no mesmo instante. Devia ser algo importante, ele não estaria tão desesperado para falar comigo se não fosse.

— Nicolas está na recepção, ligaram pra mim, pedindo para te avisar.

— Por que ele está aqui? Aconteceu alguma coisa? — Meu tom de voz já estava começando a ficar acelerado.

— Lise, você realmente esqueceu?

— Do quê? — Quase berrei.

— Hoje é o dia da ultrassom, a ultrassom que pode descobrir o sexo do bebê.

Me odeie, mas me ame.Onde histórias criam vida. Descubra agora