O ORFANATO

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O Orfanato

Liza

Fiquei até a noite fazendo as compras da liquidação e voltei para casa tentando apagar os acontecimentos estranhos dos últimos dias.

Acordei em dúvida, deveria ir ou não caminhar no Central Park ?

Sabia que Toffee estaria me esperando. Mas como faria para vê-lo e não encontrar aquele homem novamente?

Não podia ser injusta com ele, meu amigo fiel desde que cheguei a Nova Iorque. Respirei fundo e me vesti para encarar o frio e talvez o homem-cão.

Se eu contasse isso ao Dr. Carlson, temo que daria outro diagnóstico para minha amnésia.

Ao sair do quarto, vi que Ethan ia com pressa até o terraço. O segui instintivamente.

Ele falava ao telefone parecendo nervoso. Gesticulava e andava de um lado para o outro, até me ver parada na porta de correr do terraço. Sua expressão mudou em um segundo. Ele abriu um largo sorriso e desligou o telefone.

- Bom dia Liz, não vi que estava aqui.

- Me desculpe Ethan, não queria escutar sua conversa. É que você veio tão rápido para cá, pensei que algo tivesse acontecido e vim checar se está tudo bem.

- Pobre Liz, sempre preocupada. Fique tranquila, são apenas alguns contratempos no trabalho, vim até aqui porque não queria acordar você ou Raquel com o telefone.

- Ah, sim entendo. Bom nesse caso, vou indo – me virei para a porta, ainda me sentia estranha perto dele.

- Espere, já que estamos ambos acordados assim cedo, gostaria de tomar café comigo? – ele passou o braço por meus ombros enquanto puxava a porta de correr do terraço.

- Oh, Ethan, desculpe mas hoje não posso. Preciso chegar cedo no orfanato, assumi um compromisso que tomará minha manhã inteira.

Inventei a primeira mentira que pude. Ainda estava um pouco confusa com o que havia acabado de ouvir:

"Eu te pago para que Cooper? Dê um jeito nos sacos pretos! Apenas isso! O que eu farei agora? Me diz?".

Eu não entendia muito do mercado imobiliário, mas o que em sacos pretos, poderia ser tão importante para deixá-lo daquela maneira?

Cheguei ao Central Park sem muita coragem e olhei o nosso banco a distância. Nada de Toffee. Esperei alguns minutos mas ele não apareceu.

Cabisbaixa, andei até o orfanato.

Ainda estava na porta da igreja quando Sophia, uma das crianças, correu ao meu alcance.

- Tia Liza! Que bom que chegou cedo, a irmã não está bem, venha, venha! – ela me puxou pelo braço.

Passei por trás do altar e praticamente corri pelos corredores atrás de Sophia. Ela olhava para trás e acenava para que eu andasse mais rápido.

Chegamos ao quarto da Irmã. Ela estava deitada, coisa que nunca fazia durante a tarde. Segurei sua mão e notei que transpirava. Pus a mão em sua testa, ela ardia em febre.

- Sophia, onde estão as outras irmãs?

- Saíram tia Liza, só ficamos nós.

- Querida, pode trazer o telefone para mim?

- Liza, espere –a Irmã sussurrou e estendeu os braços fracos em minha direção – Não chame por socorro. Já, já, estarei bem.

- Mas Irmã, precisamos de ajuda. Não sei o que fazer.

- Fique calma minha filha, faça uma oração comigo, se ao terminarmos a oração, a febre não tiver cedido, irei com você ao médico.

Acenei concordando. Mais uma vez me esqueci que ela era cega. Sophia nos olhava assustada. A Irmã fez sinal para que ela se juntasse a nós.

Eu não possuía fé como a Irmã, mas calculei que uma oração seria rápido, logo ainda teríamos tempo de levá-la até o hospital.

Segurei a mão de Sophia, fechei os olhos e abaixei a cabeça, ficando próxima do rosto da Irmã.

Rezamos um pai nosso em voz baixa, assim que terminamos, coloquei minhas mãos na testa da Irmã e a febre havia desaparecido. Sophia sorria feliz para nós duas, olhava a Irmã com admiração. E eu a encarava, incrédula.

Permaneci sentada ao seu lado, tentava assimilar o que havia acabado de acontecer, quando ela se virou na cama e segurou o pingente do meu colar em suas mãos.

- Parece bonito Liza. Onde comprou?

- Acho que ganhei de presente, na verdade não sei dizer, porque não me lembro.

- As asas Liza, são uma dourada e uma prateada?

- Sim Irmã, eu nunca tiro esse colar. Não consigo, simplesmente.

A Irmã sorriu com os olhos fechados e as mãos próximas ao peito. Parecia agradecer em silêncio, sua face chegou a ruborizar.

- Não o tire Liza, eu mesma usei algo semelhante. Por muitos anos de minha vida.


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Amanda

Liza,

desculpa, mas não consigo escrever para você como se fôssemos estranhas, para mim você é e sempre será como uma irmã.

Sei que você não se lembra de nada, mas preferi escrever este email como se nada tivesse acontecido.

Apenas digamos que se Ben me visse fazendo isso... bom, ficaria furioso.

Resolvi lhe escrever porque eu não gosto do Ethan, é, desculpa te falar isso dessa forma. O jeito pomposo dele não me convence e muito menos o email dele, dizendo que você não estava bem para receber visitas e que você também não queria nos receber, no momento.

Suspeito que nem soubesse disso.

Então, acho que o eu queria dizer é: Tome cuidado.

Mas vamos para assuntos mais leves, por enquanto.

O Ben finalmente me pediu em namoro! Estamos indo bem mas ele pode ser meio cabeça dura. Mas eu já deveria saber disso não é?

Por aqui, continua tudo basicamente na mesma, cidade pacata, poucas atrações...

Como está Nova Iorque? Está gostando da cidade?

Quando quiser, venha nos visitar, seu quarto está do mesmo jeito que deixou, afinal, nós sabemos que irá voltar.

Ouvi dizer que este ano teremos uma lua de sangue, e será possível ver a olho nu, se a data estiver correta, será no meu aniversário (06/06), como o seu cai perto do meu, gostaria muito que nós saíssemos juntas para comemorar, eu poderia ir até Nova Iorque, ou você viria até aqui, não sei, é só uma ideia.

O que acha?

Saudades

Beijos

Amanda

Apertou o send e respirou fundo. Não sabia se estava fazendo a coisa certa, mas não era ela quem estava sofrendo de amnésia, não poderia simplesmente dar as costas.

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Hmmmmmmm mistérios........ =O

E aí amores? O que acharam?

Estou adorando os comentários de vocÊs! Domingo tem mais!

Beijosssssss

O Templo - Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora