DESPERTAR

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DESPERTAR

Liza

Eu não me deixaria enlouquecer por uma flor. Lutei para me convencer de que nenhum mal aconteceria naquela noite.

Devia ser tarde da madrugada.

Olhei mais uma vez para a orquídea na minha cabeceira. Linda e traiçoeira. Peguei-a, determinada a jogá-la fora.

Desci as escadas, pretendia me livrar daquilo jogando na lixeira do prédio, assim não teria volta.

A cada passo dado, mais eu me afeiçoava por ela. Pobre flor, porque me atormentava tanto?

A culpa era minha, eu é quem tinha a tormenta interna. Cheguei a porta da lixeira e fiquei ali, acariciando suas pétalas. Ela parecia me olhar triste e pesarosa com minha decisão de me livrar dela.

Então a abracei, como faria a um urso de pelúcia, e refiz o caminho até meu quarto.

Ela queria muito matar sua fome e estava com sede também. Sua vontade, se tornou a minha. Inalei suas pétalas mais uma vez, o cheiro de sal, de terra e de orquídea, me queimava por dentro, mas não me importei.

Alisei sua pétala, minha mão ficou manchada de púrpura, da cor de sangue, e eu entendi. Era isso que ela estava me pedindo. Sangue.

" O sangue fica mais quente, quando a vítima, é pega de surpresa." Ela sussurrou para mim. Compreendi o que precisava fazer.

Peguei o punhal que apareceu sem explicação ao meu lado na cama, e fui até o quarto de Raquel. Ethan não estava lá.

Entrei silenciosamente no quarto. Ela roncava baixo, dormia de bruços e eu queria o seu pescoço. Alisei sua nuca suavemente com a lâmina para fazê-la mover o corpo. Exatamente como o esperado, Raquel se virou deixando seu pescoço à mostra.

Me posicionei para fazer o corte e contei:

Um, dois, três. Agora!

À centímetros de sua pele, fui imobilizada por trás, alguém muito forte segurou meus braços e cobriu minha boca.

Fui levada à força até o meu quarto enquanto ainda lutava tentando me desvencilhar. Caí deitada na cama e tentei morder o braço da pessoa que me segurava.

- Liza, sou eu! Adrian!

Adrian, Adrian, repeti mentalmente tentando assimilar. Olhei assustada para o punhal que segurava e o deixei cair. Perdi o fôlego.

- Adrian! O que aconteceu?

- Você foi hipnotizada – me disse ofegante e parecia angustiado – É mais urgente do que eu pensava, hoje foi por muito pouco.

- Muito pouco o que? O que eu fiz agora? – me enrolei nas cobertas, meu tremor era provocado pelo medo do que ele me diria a seguir.

- Você não tem culpa Liza, estava hipnotizada. Shhhhhh, acalme-se. Vamos dar um jeito nisso.

Era a segunda vez que essa cena acontecia em um único dia, constatei. Mas Adrian me acalmava somente com sua presença.

- O que está acontecendo comigo Adrian? Por favor? Quando isso vai acabar? Temo ter perdido a razão. Ethan me disse que nada aconteceu desde que sai do orfanato ontem. Disse que apenas desmaiei e ele me trouxe até aqui.

- Ele mente Liza. Já não lhe disse para não acreditar em nada que venha dele? Eu estava lá com você. Se aconteceu só na sua mente, isso significa que não é verdade? Dadas as circunstâncias, se torna uma verdade temerosa. Fui eu quem despertou você Liza. Ethan apenas a trouxe para casa. Ele está apavorado, mas não entendo o motivo, pensei que eles estivessem juntos nessa...

E ele continuou murmurando para si mesmo, enquanto eu me perdia em meus próprios pensamentos e assimilava suas últimas palavras.

Aconteceu somente em minha mente? O que está acontecendo comigo?

Somente a flor restava ali, para me provar que não estava imaginando coisas.

Adrian parou de falar ao ver que eu não estava escutando.

- Por hoje Liza, vamos combinar o seguinte, apenas durma. Passarei a noite aqui sem que ninguém perceba, tudo bem?

Meneei a cabeça em resposta. Na verdade cheguei a pensar em dormir e não mais acordar.

Me deitei e Adrian me cobriu como faria a um bebê, acariciou minha cabeça e se deitou no sofá recostado próximo a janela.

- Descanse Liza, amanhã responderei suas perguntas.

Pela primeira vez ele não estava extra confiante com aquele ar ligeiramente presunçoso, notei que era de fato meu amigo.

Foi bom saber disso, eu tinha alguém em quem confiar ao menos.

Instantaneamente olhos verdes preencheram meu pensamento, como se dissessem que eu também o tinha.

Mas onde você está? Sinto sua falta e nem sei quem você é. Porque não aparece para mim?

"Durma Liza! Você está me atrapalhando." Rosnou Adrian em minha mente.

"Boa noite. Adrian."

Tentei dormir. Mas a surpresa que apareceu na janela não permitiu.

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=O =O =O

Já imaginaram se a surpresa for o Nate??? \o/

Beijossss e até amanhã!

O Templo - Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora