CONVITE

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Convite

Liza

Fui a pé até em casa e me surpreendi por não ter me perdido. Talvez me libertar das chamas tenha desanuviado meus pensamentos.

Entrei no apartamento e pendurei o casaco atrás da porta, ciente de que Adrian já estava lá. Antes ele conseguia se ocultar de mim. Após a casa do mago, não mais. Não depois do que Noah me mostrou.

Sabia que se subisse as escadas me irritaria de novo, então optei por ficar na sala. Joguei-me no sofá e liguei a tv, orando silenciosamente para que Ethan não brotasse do meu lado como tinha o hábito.

Ouvi o barulho de chaves na porta e me preparei mentalmente para forçar o sorriso caso fosse Ethan, mas era Raquel, chegando sozinha à noite. Pensei automaticamente no noticiário sobre o Eyekiller. O noivo de minha irmã mais nova, eu sabia que ele não faria nenhum mal a ela, ao menos não por enquanto. Mas possuir a consciência desses fatos agora e ter que conviver debaixo do mesmo teto, o observando se relacionar com minha irmã, era comparável a ter mãos apertando a garganta e ser forçada a sorrir.

Olhei o anel brilhante nos dedos dela, o que Ethan ganhava com esse casamento afinal? Por que se dar a todo esse trabalho ao invés de simplesmente me possuir?

Raquel suspirou e surpreendentemente se jogou no sofá ao meu lado, tinha várias sacolas nas mãos.

- Oi, Liza.

- Oi Raquel, pensei que estivesse com Ethan – ela parecia cansada, sem energia. Agora parando para analisar, eu quase nunca via os dois juntos, a não ser quando ele a carregava em seus compromissos de "trabalho."

Arrepiei-me somente ao imaginar o que ele fazia de verdade nesses momentos.

- Ele precisou trabalhar até mais tarde hoje. – ela não parecia ligar muito para sua ausência. Eu sabia que o relacionamento da parte dele era uma farsa e quanto a ela?

- Entendi. Ele trabalha demais mesmo. – Retruquei de forma vaga, pensando se Ethan não poderia ser um pouco mais criativo em suas desculpas. Ela deu de ombros.

Raquel tinha o olhar fixo na televisão, sequer reparou que eu a observava. Fiquei triste com o vazio que vi ali, sua feição inexpressiva e pálida me assustou.

- Estou com vontade de comer alguma besteira. Quer alguma coisa? – ofereci e levantei do sofá.

- Cookie de baunilha com gotas de chocolate. Iguais aos que papai fazia.

Aquilo foi dito tão naturalmente que fez meus olhos arderem, mesmo sem lembrança de nada. Ela não deve ter se dado conta de que eu não me lembraria da receita. Olhei para minha irmã e constatei que durante esse tempo todo, invés de termos uma à outra, nos abandonamos. Talvez a dor afastasse as pessoas. Mas se existia alguma vantagem em não ter memórias, é a capacidade de recomeçar. Eu iria libertá-la de Ethan e teria minha irmã de volta.

- Ok. Vou ver o que consigo. – Andei rápido até a cozinha antes que minha vulnerabilidade me dedurasse.

Surpreendi-me ao lembrar da receita, consegui fazer os cookies sem esforço. Mordi o primeiro ainda morno na travessa e uma lembrança me invadiu. Flashes disformes passaram rápido demais por trás do véu que me cobria a memória. Vislumbrei olhos verdes como esmeraldas, com a pele do canto enrugada insinuando um sorriso e depois uma rápida cena, uma família. Um homem, uma mulher e duas meninas, sentados à mesa conversando alegremente. Deduzi que fossem meus pais. Lágrimas grossas escorreram por meu rosto enquanto o peito queimava lutando para contê-las. Enxuguei-as com o canto das mãos e voltei até o sofá pousando a bandeja com os cookies e dois copos de leite com canela.

Raquel pegou um cookie e após mordê-lo sorriu:

- Peraí. Como você lembrou disso, Liza?

- Não sei, acho que fiz no automático. – Sorri de volta sentando ao seu lado.

- Não só do biscoito, você lembrou que gosto do leite com canela. – Ela concluiu e anuviou as feições.

- Foi sem querer também. – dei de ombros mas muito satisfeita por ter me recordado.

Lágrimas escorreram pelo rosto dela, exatamente como aconteceu comigo segundos atrás. Ela se levantou bruscamente.

- Raquel, por que está chorando?

- Me deixe sozinha, Liza.

- Mas por que?

- Droga! – gritou – Terei mesmo que me conformar. Viverei de sonhos.

- O que foi Raquel?

- Me deixa em paz! – esbravejou subindo as escadas – Não basta o que você já tem?

- O que...eu...tenho? – Indaguei e subi atrás dela. Isso não fazia o menor sentido.

Ela me fitou alguns segundos, seus olhos azul cobalto me pareceram esconder mais mistérios que o próprio oceano. Sua resposta foi o ruído seco de uma porta se fechando.

Soube que não adiantaria insistir, assim, virei para o lado e entrei em meu quarto.

Havia um envelope dourado em cima da cama, fiquei de pé fitando o envelope sob o lençol e o peguei com as mãos trêmulas pelo que deduzi encontrar ali. Só podia ser isso.

Adrian apareceu e se sentou mudo, no sofá ao lado da cama. Retirei o papel macio de dentro, o convite vinha embrulhado em papel de seda da cor champagne, não precisei ler para saber o que diriam as letras douradas em relevo:

"Ethan Empreendor e Raquel Ninot

convidam seus familiares e amigos para juntos celebrarem seu noivado durante um jantar comemorativo no próximo sábado.

Horário:21h

Local: Plaza Hotel – The Grand Ballroom

Traje: Black-tie"

Uma pedra de gelo escorreu de minha nuca até o meu rim. Seria em quatro dias. A festa de noivado.

A previsão de Noah na Casa do Mago, apontava para esse dia. No momento em que todos estivéssemos no mesmo lugar, um de nós deixaria essa vida.

A não ser que eu fizesse o que ele disse, mas aquilo era terrível demais. Eu não o faria. E mesmo se estivesse louca a esse ponto, a morte ganharia de qualquer maneira, alguém acabaria morto no fim das contas.

Ajoelhei-me na cama e afundei o rosto nas mãos. Senti Adrian ao meu lado. Ele me envolveu com suas asas macias e mesmo com seu toque morno suavizando minhas preocupações foi impossível não sentir o calafrio, da presença gélida de morte que pairava no ar.

Meu nariz ardeu com o cheiro de sal, de terra, de orquídea. Nada poderia me salvar agora. A não ser que o tempo congelasse. E ele costuma ter o péssimo hábito de correr quando estamos com medo.

Antes que eu pudesse piscar os olhos, ia com Adrian para o aeroporto esperar meus dois amigos. E ía com a terrível certeza, de que na festa de noivado, um de nós precisaria morrer.

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Estão preparados para essa perda? =S =X

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Valendo até o dia 15/04.

Tive alguns problemas com os correios, mas resolverei tudo esse fds e postarei outra vez todos os marcadores de vocês! Uhulll!

Beijosss e até  amanhã!

O Templo - Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora