PENHASCO

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Penhasco

Nathaniel


Já me parecia tanto tempo desde a última vez que estive aqui. Sorri como faria uma criança ao receber um presente surpresa. Ouvi o som calmante das Irinis jorrando suas águas pelas colinas e suspirei. Deitei-me na grama debaixo da nossa árvore e admirei as glicínias, haviam crescido apesar do meu abandono. Desciam em longas cascatas roxas em degradê até se tornarem brancas em suas pontas. Mas o Penhasco, após tanto tempo como meu único companheiro, agora me parecia vazio sem a presença de Liza. Era como voltar a um lugar onde vivi minhas melhores lembranças e me questionar tristemente se algum dia, essas voltariam.


Ouvi folhas farfalhando e fui verificar do que se tratava.


Teria alguém ali? Andei até um dos arbustos e pela primeira vez desde que acordei no Templo, me senti completo.


Liza

Acordei em um lugar que era, para dizer o mínimo, maravilhoso.

Escutei o som calmante de cachoeiras e ao olhar para a frente vi três colinas imponentes. Um pouco mais baixas que o Penhasco onde me encontrava.

Uma árvore majestosa, coberta por dezenas de glicínias de tom roxo e lilás lhe davam um aspecto de outro mundo. A árvore ficava próxima a beira do gigante penhasco.

Caminhei lentamente e meus joelhos amoleceram ao senti-lo.

Era a sua presença pairando no ar até mim. A saudade que ele exalava me atingiu. Um desespero sufocante percorreu minhas veias e eu precisava dele, como necessitava do ar para me manter viva. Mesmo que não lembrasse de nada, meu corpo sabia.

Apressei o passo e escorreguei caindo dentro de um arbusto. Olhei para cima e ele estava bem ali. Olhando para mim como se eu fosse todo o seu mundo.

O dono dos olhos verdes esmeralda.

Suas feições demonstravam um misto de absoluta descrença, no entanto dominadas de felicidade. Exatamente como deveriam estar as minhas.

Ele me estendeu a mão e me puxou devagar, eu esperava ficar de pé no chão mas ao invés disso, fui envolvida em seus braços com força. Ele me apertou em um abraço de urso e pela primeira vez, me senti em casa. Duas lágrimas escorreram pelos cantos dos meus olhos.

Nós pairávamos a alguns centímetros do chão. Aninhei-me em seu pescoço quente e ele apertou o abraço.

Respirei fundo várias vezes inebriada com o cheiro e a força da presença que me salvou várias vezes. Eu finalmente abraçava ele, que pensei que nunca mais veria. Imaginei que teria que me resignar com seus dois olhos me espreitando do escuro.

Meu corpo ficou morno, dormente e completamente em paz pela primeira vez, e eu sabia que era por causa dele. Tentei forçar a memória e foi como socar a testa em uma parede. Inútil e doloroso. Ele pareceu perceber e afastou somente a cabeça para olhar meu rosto.

- Não se preocupe Liz. Vai ficar tudo bem. Eu sempre estarei ao seu lado. – falou quebrando o silêncio. Eu quis dizer que eu também, mas o que eu sabia até então só me levava a crer no contrário. – Liza, Liza, Liza! Como é bom dizer o seu nome! – continuou ele aparentando estar em êxtase e inabalado pelo meu silêncio.

Sorri em resposta porque não sabia como botar em palavras que não me recordava de nada. Apesar do meu corpo inteiro parecer lhe pertencer.

- Não fique assim minha pequena, você é e sempre será minha Miosótis.

O Templo - Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora