Conselhos
Liza
Adrian me sugeriu que listasse em um caderno tudo o que eu sabia sobre mim, e deixasse espaços em branco com as partes que falhavam quando eu forçava a memória.
Levantei cedo e resolvi colocar sua ideia em prática assim que saí do banho.
A ideia era interessante, apesar de ter certeza que me sentiria uma idiota escrevendo em um diário cheio de espaços vazios.
A primeira tarefa foi de fato vergonhosa. Pelo menos eu me senti assim, parada em frente ao espelho do banheiro, repetindo em voz alta:
- Meu nome é Elizabeth Ninot, mas prefiro que me chamem de Liza, quer dizer, eu acho, porque nem disso eu lembro. Minha última residência foi em Winterhill, após o desaparecimento de meus pais...
Interrompi o discurso ao ouvir alguém pigarreando da porta:
- Desculpe Liza, não queria interromper o seu... Hum... Exercício. Só vim avisar que viajo daqui a pouco.
Ethan cravou o olhar no espelho, me observou como se estivesse faminto. E eu me dei conta de que apenas uma toalha me envolvia.
Ele deu passos até colar o corpo em minhas costas, e enquanto pôs uma mão sobre a minha barriga, afastou o meu cabelo e me beijou na nuca.
Com o corpo ardendo de desejo e de forma irracional, me virei e o beijei.
Ethan puxou minha toalha e a deixou deslizar para o chão. Depois se despiu, enquanto me levava até o boxe e abriu o chuveiro.
Entramos debaixo da água quente, e eu o quis ali, naquele momento.
Ethan antecipando meu desejo, me deitou na banheira e se debruçou por cima de mim.
Um grito agudo me assustou.
Meu peito bateu acelerado.
Pisquei ao encarar o espelho. Pisquei de novo e esfreguei o rosto.
Agora tenho pesadelos acordada? O que está acontecendo comigo?
Eu não vou enlouquecer. Não vou enlouquecer. Preciso lembrar. Preciso lembrar do passado.
Enchi as mãos em concha com água da pia e molhei o rosto.
Olhei de esguelha para dentro do quarto.
Pelo silêncio, Ethan não parecia estar em casa.
Vesti a primeira roupa que encontrei e liguei o computador.
Uma falta de ar me corroendo a garganta como ácido.
Há algo de perverso que ninguém me revela, e preciso encontrar uma maneira de descobrir sozinha, antes que seja tarde.
Não entendia porque isso estava acontecendo. Eu não o desejava, quer dizer, será que não?
Mesmo se o desejasse, isso deveria me provocar alucinações?
Primeiro, isso acontece comigo de pé no banheiro. E depois?
Acabo criando alguma situação embaraçosa? Falo algo que possa me entregar sem perceber na frente de Raquel?
Balancei a cabeça para a própria pergunta e abri novamente o email de Amanda, havia salvo um rascunho.
Respirei fundo e resolvi deixar a resposta fluir.
Acho que enquanto a memória não voltasse, eu estranharia todos meus antigos relacionamentos, mas não deveria me afastar dos meus amigos. O melhor a fazer era me acostumar com isso.
Seguindo o conselho de Adrian-homem-cão e indo contra o médico e suspeito que contra Ethan também, decidi ir a Winterhill.
De:liza.ninot@gmail.com
Para: aman_da@yahoo.com
Olá Amanda, obrigada pelo convite.
Na verdade eu planejava uma visita para antes disso, claro que avisaria a você e ao Ben primeiro, para não atrapalhar seus planos.
Gostaria de ir no próximo final de semana, se estiver tudo bem por vocês.
Acredito que ao me aproximar de vocês e da minha casa, as lembranças talvez venham à tona, quer dizer, não custa tentar.
Depois, quem sabe vocês não vem até NY? Acho que Ethan não se importaria.
Eu também desejava sair do apartamento luxuoso que dividia com a minha estranha irmã e seu noivo, com tentativas de agrado quase excessivas.
Talvez assim parasse de sonhar com Ethan.
Enviei o email e pouco tempo depois, desci a escada necessitada de um café.
Fiquei aliviada ao encontrar a cozinha vazia e a casa absurdamente silenciosa, mesmo sendo um pouco assustador.
Liguei a cafeteira e me sentei para esperar o apito sinalizar o café pronto.
Descansei a cabeça na mesa e tive um sobressalto ao sentir algo acariciando meus cabelos:
- Shhhhhh, desculpe Liz. Não queria te assustar. Acabo de chegar, precisei fazer uma viagem a trabalho que não estava planejada, peço desculpas pela falta de aviso.
- Tudo bem Ethan, não precisa se desculpar. Eu preciso sair e você deve estar cansado, descanse, depois conversamos.
Respondi já me levantando da mesa. Ou Ethan me olhava da mesma maneira que vi no sonho, ou a loucura de fato me encontrava. Essa segunda opção era fácil de se considerar, levando em conta os últimos acontecimentos da minha vida.
- Está fugindo de mim Liz?
- Na...não Ethan. Por que eu faria isso?
O meu ombro, onde ainda repousava a mão de Ethan, esquentou. Percebi a contragosto, que seu toque me afetava muito mais do que gostaria de admitir..
- Só estou cansada. – Insisti e fingi dar de ombros.
- Tudo bem – respondeu com ar de ironia, dando mesmo de ombros, parecia se divertir com a minha falta de argumentos.
Dei as costas e saí apressada, podia sentir o rubor em meu rosto.
Meu pesadelo se tornava real.
Eu começava a desejar, Ethan.
Essa verdade me acertou, e admitir algo para si mesmo, às vezes pode ser nossa pior escolha.
Peguei a mochila e o casaco atrás da porta, e saí ao encontro de Adrian com a esperança de que ele cumprisse sua promessa.
Infelizmente, como nada que eu planejava vinha dando certo, dessa vez também não foi diferente. Não acreditei no que ele fez.
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Gennnnte, o que será que está acontecendo com a Liza?? =O O que acharam?
Desculpem pelo atraso, a bendita internet está com vontade própria. Consegui achar uma lan house agora de manhã. Amém!
Postei mais um capítulo a seguir!
ESTÁ A LER
O Templo - Livro 2
Fantasy"Se Liza lembrasse do ocorrido no cemitério, talvez encontrasse a explicação para as sombras. Ou talvez entendesse de onde vinham os sussurros em seus pensamentos. No entanto, tudo o que ela se recorda é de um nome: Ethan. Até um estranho se apres...