UM ÚLTIMO MOMENTO

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UM ÚLTIMO MOMENTO

Ethan

Para a sorte dele, a voz foi até Winterhill e, pela primeira vez desde que a sua vida se transformou em pesadelo, Ethan tinha o domínio de seu próprio corpo.

Sabia que Olaf não era descuidado e não o deixaria livre muito tempo, então precisava aproveitar a chance. Tinha quase certeza de que seria a única. De se redimir pelo que fez, pela vida de Isadora.

Sentia-se como um doente definhando, relutando a morrer.

Chegou ao Jardim dos Anjos, o cemitério dos sepultados em memória. E a lembrança macabra de assistir sua mão forçando seu pai a atirar na própria cabeça lhe invadiu.

Naquela noite, foi obrigado a assisti-lo cometer suicídio e dar as costas ao seu corpo caído no chão.

Mas nunca foi isento de culpa. Sabia disso. Se não tivesse caído com a faca sob a barriga de Isadora, talvez ele estivesse livre. Talvez Olaf nunca tivesse entrado.

Não sabia bem o que conseguiria fazer ali, mas precisava deixar um recado para a garota. Algo lhe dizia que ela jamais ignoraria o seu recado, pois percebeu que era corajosa, e pessoas corajosas frequentemente se expoem ao perigo agindo sem cautela.

Pagou a um garoto na rua para lhe entregar o que escreveu às pressas em um guardanapo:

"Para conhecer a verdade, me encontre no túmulo do anjo de prata."

Ethan esperava que seu plano funcionasse. Porque para Liza poder dei- xar o cemitério, alguém deveria morrer. E se esse alguém fosse ele, Olaf não teria mais um corpo e não poderia concluir o ritual das doze fogueiras.

Ouviu Olaf contar ao homem dos olhos verdes sobre a maldição do ce- mitério. Onde aqueles que entram sem convite jamais sairão, a não ser que outra vida pague o preço em seu lugar, pois se tentar sair, morrerá.

Foi assim que escaparam vivos na noite de ano novo. A garota atirou por acidente no delegado, seu próprio pai, o rapaz que morreu no círculo de fogo libertando a irmã de Liza e a morte de Emmanuel, seu pai, deu a saída à ele.

Não entendia ainda como Liza escapou com vida do cemitério, se pelas contas dele ninguém havia morrido para lhe dar a passagem.

Caminhou por entre os túmulos e os jazigos com enormes e variadas estátuas de anjos, algumas belas e outras assustadoras de tão reais. Uma densa bruma esbranquiçada cobria o chão, até a altura dos seus tornozelos, o que dificultava a leitura dos túmulos.

O lugar conspirava contra seus planos, mas seria necessário muito mais do que isso para fazê-lo desistir. Mas deduziu que não seria difícil encontrar o anjo de prata. O brilho o faria destacar-se entre as outras.

Apesar da atmosfera macabra, apreciou a caminhada. Enfim sentia o corpo obedecer aos seus comandos.

Ethan vibrou quando os próprios pés ressoaram no chão e sentiu a perna se movimentar.

O vento cortante em seu rosto o fez lembrar de como era estar vivo. Depois de meses, sentiu o coração galopar no peito. E sabia que seriam esses seus últimos momentos em vida.

Mas seriam dele. Em seu corpo. Seu templo. Enfim com os seus pensamentos, livres. 

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Só sei de uma coisa: muita tensão nos espera nos próximos capítulos.
Estão preparados?

Beijossssss

O Templo - Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora