AMEAÇAS

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Ameaças

Nathaniel

A angústia me dominava por não conseguir deixar o deserto. Tentei chegar a Nova Iorque e fui trazido de volta. Eu tinha certeza que isso era coisa de Johan.

Enquanto isso, Liza sofria cada vez mais. A salvei duas vezes, não sabia como encontrava sua mente mas me sentia grato por termos esse elo.

E graças a Johan, ela corria perigo. Graças a Johan, eu só podia ajudar a distância.

Por isso, apesar de todas as suas contraindicações de Johan, fui conversar com Gaia entre os gêiseres.

Estava pensativo quando uma sombra farfalhou ao nosso lado.

Ouvi a voz de Olaf e me levantei. Gaia fitava o horizonte parecendo entediada.

Entrei em estado de alerta e o procurei a minha volta. Teria descoberto que escapei?

Ao olhar para trás, encontrei. Sua sombra se multiplicava entre as colunas de vapor saindo dos gêiseres, projetava duas enormes asas que o faziam parecer gigante e sopravam um vento gelado até mim.

- Vim lhe buscar, Nathaniel – sibilou com sua voz ecoando no deserto - Errei ao lhe deixar na maldição do afogamento, dessa vez irei lhe enterrar vivo.

- Vejo que veio com seus truques, Olaf. É tão fraco como homem que prefere se esconder pelas sombras.

- Eu sou muito mais que um homem seu tolo. Se insiste, posso lhe mostrar meu caro, o que farei com Liza essa noite. Ela dorme no quarto ao lado do meu e foi infectada com algo muito pior do que eu mesmo seria capaz.

Sua fala soava como dezenas de serpentes saindo das colunas de vapor. A essa altura, eu já conseguia me controlar. Por mais difícil que fosse, quando ele fazia ameaças falsas relacionadas à Liza. Eu sabia que ele estava perigosamente próximo dela, mas para conseguir o que desejava, Olaf precisaria ser cauteloso.

- Suas palavras são tão vazias quanto você. Por que você não mostra sua verdadeira forma, Olaf?

- Ah, mas eu sei que você já viu na mente de Liza. Já escutou as vozes das almas que a consomem de dentro para fora. Talvez eu não tenha de fazer mais nada, só esperar até que ela se corrompa por inteiro.

Disfarcei o medo em minha garganta, eu sabia ao que ele se referia, mas não lhe daria esse gosto.

- Mostre-se, Olaf. Me encare frente a frente se tiver coragem.

Sua voz gargalhou e senti meus olhos arderem com o que se formava a minha frente.

- Seu pedido, é uma ordem meu caro.

Minha pele foi atingida por todos os lados quando a areia voou furiosamente pela força que o vento tinha agora, o barulho foi ensurdecedor.

- Vou lhe mostrar Nathaniel, tudo o que existe em mim.

O horizonte do deserto e dos gêiseres a minha frente, foi substituído por um tecido de seda negra, que voava sem corpo. Suas dezenas de tiras eram esticadas e repuxadas, exibindo quando se moviam, diversos corpos em agonia, das almas que ele absorveu. Vi dúzias de jovens, muitas ainda com o rosto de menina congelado em um grito de horror. Seus olhos eram órbitas negras, suas peles cheias de hematomas e de seus lábios escorria sangue.

Elas se contorciam dentro das tiras de seda negra, lutavam para se soltar. Seus gritos agudos me doíam os tímpanos e nas dúzias de vozes, só se distinguia um nome:

Nathaniel, salve-nos. Nathaniel, ajude-nos. Por favor Nathaniel, não deixe ele nos levar.

Uma delas se aproximava devagar, rastejava pelo chão, seu cabelo cobria seu rosto. Paralisado não vi que havia chegado até os meus pés. Ela usou minhas pernas como apoio e se colocou de pé arrastando-se pelo meu tronco, subindo por mim com seus braços queimados até me encarar de frente.

A menina tirou do rosto o cabelo, que saiu todo em sua mão como uma peruca, e aproximou sua boca da minha.

Horrorizado, vi que era Liza, como as outras tinha as órbitas negras e a pele coberta de hematomas, sua cabeça exposta tinha marcas de queimadura, ela cochichou para mim:

- Me salve, Nate.

- Isso é uma ilusão – respondi fraco, segurando-a no colo – Você não é, Liza.

- Não sou mais sua Miosótis, Nate? Esqueceu de mim? – me perguntou com lágrimas descendo como ferrugem de seus olhos negros.

- Basta! – ouvi a voz de Gaia gritar ao meu lado.

Caí sentado quando as visões desapareceram. Olaf havia voltado.

- Vejo que anda em ótima companhia, Nathaniel – zombou Olaf – Como vai, Gaia?

- Olá querido, por que não dá o fora daqui? Ambos sabemos que se tentar me enfrentar, perderá.

Gaia o ameaçava sentada no chão, enquanto pintava as unhas da mão com esmalte vermelho, Olaf rosnou.

- Você não pode ficar aqui para sempre, Nathaniel. Estarei a sua espera. E na próxima vez que vir Liza, saiba que ela estará pior do que essa que segurou no colo, caso continue me atrapalhando. Considere-se avisado.

Dizendo isso, ele se foi.

- Por que você o deixou fazer isso, Nate?

- E o que eu poderia ter feito? – perguntei exasperado

Ela sacudiu a cabeça incrédula.

- Essa garota é a sua maior fraqueza.

- Obrigado por ter me ajudado – respondi ignorando seu comentário.

- Isso que aconteceu aqui hoje, deveria ter sido exatamente o contrário. Já lhe disse como.

- Não. Você me disse a teoria.

- Se me dá licença Nate, não gosto de ruínas de tristeza.

Gaia saiu me deixando sozinho. Levantei furioso e voltei para o Templo. Johan me devia uma explicação por me manter preso no deserto. Ou ele me deixaria ir embora agora, ou pagaria caro por isso. Membro do Conselho ou não, eu já não me importava mais.

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GENNNNTE, chegamos na metade do livro. =O Como passou rápido!

E aí? O que estão achando até agora?

Queria dizer que não tenho conseguido responder os comentários de vocês, mas saibam que cada um deles enche meu coração de alegria, de verdade! =D

Beijossss e até amanhã!

O Templo - Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora